6:56A voz bolivariana no PT

por Elio Gaspari, na FSP

Lula é uma metamorfose ambulante, mas exagerou

Alguma coisa aconteceu no coração do governo. No dia 17 de julho, o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que o resultado da eleição de domingo passado poderia levar a um “banho de sangue” com “uma guerra civil fratricida”. Ele batalhava por um terceiro mandato.

No dia 22, durante uma entrevista a agências internacionais de notícias, Lula declarou-se “assustado” com a fala do colega: “Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo”.

Recebeu um imediato contravapor de Maduro que, sem citá-lo, recomendou-lhe tomar chá de camomila.

No dia 28, veio a eleição e foi o que se viu.

Na terça-feira (30), Lula assustou quem o ouvia ao dizer que “não tem nada de grave, nada de anormal” e recorreu a um precedente nacional: “Sempre que tem um resultado apertado as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando o Aécio (Neves) perdeu para a Dilma e entrou com recurso para anular a eleição”.

Paralelo absurdo. Em 2014, ninguém mais contestou a lisura da reeleição de Dilma Rousseff. Ela não fechou as fronteiras terrestres, nem barrou a entrada de observadores internacionais. Anos depois, o próprio Aécio revelou que entrou com a ação “só para encher o saco”.

Mesmo para uma pessoa que se declara “uma metamorfose ambulante”, Lula foi de uma ponta a outra na questão, como se estivesse tratando de algo sem importância.

Desde domingo passado já morreram dezenas de pessoas na Venezuela e mais de mil foram encarceradas. O Centro Carter, instituição criada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, vinha acompanhando a campanha, declarou que “a eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”. (A presença do Centro Carter tinha sido apresentada pelo embaixador Celso Amorim como indicação da lisura de Maduro).

É visível que desde domingo o governo de Lula se equilibra como uma Rebeca Andrade na prova das barras assimétricas. Não houve nada de grave, mas Brasília teve que garantir a segurança da embaixada da Argentina em Caracas.

As repórteres Marianna Holanda e Catia Seabra lançaram luz sobre a metamorfose.

Na noite de segunda-feira (29), antes da fala de Lula, a executiva nacional do PT reconheceu a vitória de Maduro. Horas antes, Gleisi Hoffmann e Cleide Andrade, presidente e tesoureira do PT, estiveram com Lula no Palácio da Alvorada.

Esta não foi a primeira vez que Lula e a máquina do PT tomaram caminhos diferentes. Quando a crise lhe dá tempo, Lula apara as arestas e prevalece. A encrenca venezuelana foi muito rápida. Nesse caso, o ronco bolivariano de uma parte do PT prevaleceu.

Assim como na reeleição de Maduro, há outras áreas de atrito entre o governo de Lula 3.0 e correntes do PT. A crise venezuelana um dia poderá sair da agenda nacional, mas a gestão da economia, com seus reflexos políticos, continuará viva.

Apoiar Maduro é uma coisa, minar a gestão da economia é outra. Bem outra é sabotar uma política de contenção dos gastos públicos ou flertar com uma polícia que possa chamar de sua.

Lula e a imprensa

Na sua fala de terça-feira (30), Lula disse: “Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal”.

Noves a anormalidade da eleição venezuelana, fica a impressão de que o problema estava na imprensa, essa malvada.

Para um país que ralou quatro anos de Bolsonaro, Lula é um campeão na sua relação com os jornalistas. Mesmo assim, ele mostrou que ainda tem a alma envenenada com a espécie.

O líder de seu governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, disse o seguinte: “Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade”.

E Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, também falou: “Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano”.

16:30ticiana vasconcelos silva

De tanto ver
Não mais reconhecer
O que se sente
E a mente
Permanece rente
Ao mistério
Mais sublime
Que se crie
O que se vive
Que se pinte
O que se exprime
Como a mais sutil
Voz, porém veloz
E que se tenha
Menos certezas
Para que a beleza
Se faça presença
Nessa crença
Que não condensa
O mínimo critério
Mas o sincero
Beijo é sem licença
E a permanência
Não demora
E se chora quando sai
À procura
Quando a cura
Não segura
Os segredos
Silêncios e vazios
Como se baniu
A identidade
E arde a liberdade
Que vai-se tarde
A idade é corriqueira
E mesmo que se queira
Não faz meias verdades
Sabe-se guardar o sono
Mas nunca morremos
Quando o sonho escorre
Pelas paredes inertes Continue lendo

12:53Antonio Menezes, adeus

por João Batista Natali, na FSP

Morre Antonio Meneses, um dos principais músicos de sua geração, aos 66 anos

Artista era o instrumentista brasileiro mais prestigiado no mundo, e um dos 20 maiores do violoncelo ao redor do globo

violoncelista Antonio Meneses, que era considerado o mais prestigiado músico brasileiro em atividade no mundo, morreu na manhã deste sábado (3), tarde na Basileia, na Suíça, onde morava, aos 66 anos. A informação foi confirmada por sua mulher, Satoko Kuroda.

Ele estava tratando um câncer e chegou a suspender seus cursos e apresentações em julho.

Meneses estava entre os 20 maiores nomes mundiais de seu instrumento, unindo uma técnica impecável à sensibilidade musical dos gênios, o que permitia uma visão aprofundada de um imenso repertório que, para ele, cobria do barroco às composições contemporâneas.

Ele já tivera problemas de saúde em 2011, quando foi operado de um tumor benígno no pulso direito —é a mão com que os violoncelistas empunham o arco—, forçando-o a interromper por algumas semanas a relação que mantinha desde menino com o instrumento.

Nasceu em Recife, em 1957. Seu pai era músico de trompa e passou em um concurso para a orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mudando-se para aquela cidade quando Antonio tinha apenas um ano.

Começou a estudar o instrumento de cordas aos 10 anos com a professora Nydia Otero, e em quatro anos, com um talento e uma precocidade excepcionais, já integrava o naipe dos violoncelos da OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira). Dois anos antes, com um conjunto sinfônico juvenil, foi pela primeira vez solista de um concerto, interpretando uma peça de Vivaldi, compositor veneziano do século 18.

Em sua página na internet, Meneses relaciona a gravação de 43 CDs. Não incluiu na lista os LPs dos tempos analógicos e nem os registros feitos entre outubro de 1998 e 2008 com o Trio Beaux Arts, grupo de câmara que por meio século teve a liderança, ao piano, de Menahem Pressley, músico nascido na Alemanha e cidadão israelense. Foi no trio que o instrumentista brasileiro tornou-se o terceiro e último ocupante da vaga de violoncelo.

O trio, completado em sua última formação pelo violinista sul-africano Daniel Hope, tem um histórico exemplar na música de câmara do século 20. Meneses via Pressley, que morreu em maio do ano passado, como seu maior mestre na compreensão da música. Disse que poderia até considerar muito boas as gravações que fizera antes de integrar o Beaux Arts. Mas o prodígio e a profundidade vieram apenas com os ensinamentos do veterano pianista.

Mas voltemos ao Rio do início dos anos 1970. Mesmo diluído na sonoridade dos demais violoncelistas da orquestra, a presença de Meneses foi notada pelo professor italiano Antônio Janigro, que o convidou a estudar com ele na cidade alemã de Dusseldorf.

O violoncelista juntou suas poucas economias, abandonou o colegial e foi para a Europa, onde Janigro, disse, ensinou-lhe a disciplina e a lógica do instrumento. Prosseguiu seus estudos numa outra cidade alemã, Stuttgart, e em 1977 ganhou seu primeiro prêmio importante, o do concurso ADR, de Munique. Continue lendo

9:39Fiani na chapa

O ator e diretor João Luiz Fiani será o vice na chapa de Beto Richa, de quem foi secretário da Cultura. Ele confirmou a indicação ao blog Politicamente. Fiani é presidente do diretório municipal do PSDB.

8:56Sozinhos

O Gaiato da Boca Maldita tem certeza que os políticos, sozinhos, reservam um hora por dia para ler o que escrevem sobre eles na imprensa – só para cair na gargalhada.

8:21Veto ao sintético

A seleção brasileira vai enfrentar o Equador no estádio Couto Pereira no dia 06 de setembro. O jogo válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo não foi marcado para o estádio Mario Celso Petraglia, do Atlético Paranaense, por causa do gramado sintético. Antes a CBF vetou o Beira-Rio.