7:04Fogo na chuva

Hoje termina o prazo para que os partidos políticos façam sua convenções e oficializem sua respectivas candidaturas para as eleições municipais. Em brasileiro isso faz lembrar uma das máximas de Vicente Matheus, saudoso ex-presidente do Corinthians, que dizia: “Quem entra na chuva é para se queimar”.

6:50Já deu o seu melhor hoje?

por Ruy Castro, na FSP

Dar o seu melhor é só uma expressão que entrou com resiliência no nosso imaginário

Vou dar o meu melhor. Você tem de dar o seu melhor. Ele prometeu dar o seu melhor. É a expressão da moda. Todos estamos “dando o nosso melhor”, e com a maior sinceridade. As sílabas vão se formando na boca sem passar pelo cérebro, cristalizam-se em palavras e, num átimo, estão ditas. Mas é um bom sinal. Significa que estamos querendo fazer direito, seja o que for. Só não está sendo suficiente. O Brasil, apesar de alguns indicadores positivos, continua mais ou menos. Passamos quatro anos com uma laia de gente que só tinha o seu pior para dar, na saúde, na educação, nas instituições. Talvez leve outros quatro só para empatar o jogo, caso em que o melhor, se vier, só virá lá na frente.

Se realmente quisessem “dar o seu melhor”, as pessoas pensariam antes de falar —no mínimo para se certificar de que estão realmente dando o seu melhor. Mas não adianta: “dar o seu melhor” já está no imaginário popular.

Estar “no imaginário” é outra coisa que me intriga. É mais uma expressão favorita de nosso tempo. Quando ouço falar que isto ou aquilo está “no imaginário” de alguém, imagino —perdão— uma pessoa meio apalermada, com os olhos em espiral voltados para o teto, como se uma nuvem daquelas de história em quadrinhos, só que vazia, flutuasse sobre sua cabeça. O problema é que, muitas vezes, o isso e o aquilo estão no “imaginário popular”, o que me sugere uma população de zumbis nessa condição.

Por sorte, o povo brasileiro tem manifestado uma fabulosa resiliência. E aí está outra palavra que só há pouco, sem pedir licença nem dar o seu melhor, entrou no nosso imaginário: “resiliência”. Saltou dos dicionários de inglês para a boca do povo sem passar pela alfândega. Até três ou quatro anos, ninguém jamais a pronunciara. Hoje, é obrigatória.

“Dar o seu melhor”, “imaginário” e “resiliência”. Só há uma maneira de evitar esses clichês ocos: ficar “focado”.

17:35Otto Lara Resende

Às vezes acho que escrever me atrapalha a vida. Outras vezes entendo que é o que me segura vivo. Com um fio de tinta anoto o contraste entre o que sou e o que quero ser. Avalio a distância que vai entre o sonho e a realidade. Talvez seja isto que me dê um pouco de coerência e impeça a minha desintegração. Se não alimentar este monólogo secreto, eu estaria ainda pior do que estou. Não tendo com quem conversar, aqui dou vazão ao que me passa pela cabeça e até, de raro e raro, cauteloso, pelo coração.

 

16:40De vivo apenas o olhar

de Jamil Snege

Ontem vi um jovem preso
a uma cadeira de rodas.
Mãos, pernas, tronco –
imobilizados numa rigidez
de pedra.
De vivo apenas o olhar –
atento, vigilante,
como se contemplasse tudo
das alturas.
Que expressão, Senhor,
que força poderosa…
Tu puseste todos os seus
músculos ali.

10:40JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

O quadro de medalhas da Olimpíada de Paris não deveria ser mostrado aos brasileiros que acreditam na propaganda que nos mostra como uma potência no esporte. Se fosse uma competição só de “porrinha”, vulgo palitinho, aí sim.

10:22LEROS

de Carlos Castelo

Em São Paulo, a escassez de água tornou-se o novo normal. Os paulistanos começam a especular se a Sabesp mudou de ramo, aventurando-se no lucrativo negócio das lavanderias a seco. Pelas ruas, transeuntes exibem um brilho oleoso na pele, como se tivessem acabado de sair de uma sessão de bronzeamento artificial. Quem precisa de água quando se pode ostentar aquele aspecto “natural” de quem não vê um chuveiro há dias?

Enquanto isso, a Sabesp continua seu intrigante jogo de “esconde-esconde” hídrico. Rumores sugerem que estão armazenando o precioso líquido para uma grandiosa festa de privatização. Imagina-se um espetacular show de águas dançantes, com torneiras jorrando ao ritmo de “Singing in the Rain”. Ironicamente, a Sabesp vem nos proporcionando lições valiosas. Aprendemos a valorizar cada gota como se fosse ouro líquido. Não será surpresa se, em breve, a NASA vier a São Paulo em busca de voluntários para colonizar Marte. Afinal, quem melhor do que os paulistanos para ensinar a arte de sobreviver em um planeta árido?

8:47Para o segundo turno

Do Goela de Ouro

Ainda tem gente no PSD que aposta na conquista da prefeitura no primeiro turno da eleição de Curitiba. São poucos. A maioria se prepara para um segundo turno – e o candidato “preferido” para a disputa é o socialista que a esquerda escolheu.

8:19Duas entradas

De um amigo do blog

Quem trafega pela madrugada na rua Brigadeiro Franco, entre a Iguaçu e Silva Jardim, em Curitiba, encontra uma enorme fila de pais com suas crianças e bebês esperando entrar para atendimento no hospital Pequeno Príncipe pela portaria do SUS.
Ninguém duvida da excelência do hospital, que recebe dinheiro público do Sistema Único de Saúde. O que fica estranho é o hospital, que tem até faculdade privada, fazer uma diferenciação tão forte entre os usuários privados e os do SUS – estes que repetem a arcaica “fila do Inamps” sob qualquer condição do tempo.