por José Maria Correia
Gostei bastante do formato do debate organizado pela Band TV . Duro, mas sem ofensas pessoais e com bastante tempo para os candidatos em suas falas . Também sem necessidade de direitos de respostas, apesar dos muitos pedidos indeferidos da candidata Cristina Graeml. Faz parte do jogo apenas
Coube ao vice- prefeito Eduardo Pimentel defender a gestão em que participou como Secretário de Obras, o que fez com lealdade citando as principais obras e realizações , mas também mostrando personalidade própria e apontando para avanços e novos projetos .
Os principais problemas de Curitiba foram todos abordados e são complexos e conhecidos – e soluções mágicas não existem. Mesmo com as desigualdades sociais históricas,
decorrentes da baixa renda e poder aquisitivo de grande parte da população trabalhadora, Curitiba é uma das melhores cidades para se viver em termos de organização, urbanização e serviços públicos.
O que não cabe ainda para os bolsões de pobreza extrema , mas estamos avançando e vontade política existe. Os recursos suficientes só com a complementação de verbas estaduais e federais. Um exemplo muito positivo é o bairro da Caximba que sofreu total transformação.
A candidata do PMB, no direito de adversária, usou a estratégia e a retórica de se
colocar como a antissistema , no jargão de “contra tudo que está aí”. Entretanto, não apresentou alternativas claras do que poderia mudar. Na verdade não é fácil ir além da crítica sem soluções factíveis. Nos debates, onde os marqueteiros tem grande influência, a ideia forte da anti-política não é nova .
Considerando o que já vi e vivo em tantas eleições e crises sistêmicas, me preocupa esse discurso que tem apelo popular sobre o descontentamento com a classe política e que não apresenta alternativas concretas ao processo de escolha pelo voto. Se não estou contente com o sistema me apresentem outro melhor, parafraseando o velho Winston, o Churchill
Assim, surpreendeu de certa forma a insistência da candidata Graeml ao criticar mais de uma vez durante o debate as alianças feitas por Eduardo Pimentel com diversos partidos políticos. Alianças que são características do processo democrático, assim como as que ocorrem em muitas outras capitais, e não só do Brasil. Todos os candidatos buscam em coligações para formar coalizões.
Alianças só critica quem não as consegue realizar, é fato. E apoios também não se recusam, como dizia o sábio doutor Tancredo Neves quando citava o antigo ditado mineiro: “ Catitu fora de manada é comida de onça.” Ou seja, o prefeito não deve e não pode ser um autocrata com poderes absolutistas como se não existissem o poder legislativo municipal e os adversários.
A Câmara é composta de vereadores de diversos partidos, e o prefeito eleito precisa de alianças para compor uma base parlamentar. Sem a base não poderá aprovar seus projetos de lei e propostas orçamentárias. E nem seus vetos serão mantidos .
Uma sustentação democrática é necessária, pois se reflete também na sociedade por seus representantes eleitos nos bairros e segmentos sociais. É o que acontece na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional. São relações republicanas imprescindíveis. Fora disso é mera bravata.
Atacar apenas por atacar na busca de votos não tem se mostrado uma boa estratégia em Curitiba. Uma cidade cujas administrações municipais sempre foram muito bem avaliadas pelos curitibanos e os que aqui moram ou visitam, com uma ou outra rara exceção. Essas avaliações feitas com critérios para uma cidade tida como laboratório em geral do que possa surgir como novidade para o todo o país. A capital paranaense é uma cidade exigente e tradicional, mas que gosta de inovar.
Também é progressista em tantas iniciativas e ações políticas como o inesquecível Comício pelas Diretas Já, de 1984, onde ainda jovem fui um dos primeiros oradores , honra que sempre me orgulha e gosto de lembrar. “ A memória é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos “
Enfim , penso que as eleições municipais deste ano podem ter até cedido espaços para candidatos extremistas que obtiveram índices altos nas pesquisas mas não foram suficientes para ir ao segundo turno. E os que chegaram ao segundo já trataram de suavizar suas imprecações ou catilinárias, como foi o caso específico de São Paulo.
Mas em Curitiba , minha maior preocupação, falando por experiência própria , é que tenhamos a continuidade e o aperfeiçoamento de nosso sistema de saúde pública municipal, com seus postos , unidades, secretaria , hospitais, medicamentos laboratórios e toda uma rede de atendimento universal para os milhares de curitibanos e moradores da região metropolitana e de outras cidades.
Digo por experiência própria por ter sido salvo do agravamento da COVID pelas vacinas e pela intensa mobilização e campanha em todo nosso estado com aviões, caminhões, ônibus , embarcações e ambulâncias.
Só quem, como eu, esteve internado no isolamento da ala hospitalar chamada popularmente de Covidário é capaz de saber da angústia da incerteza dos dias e das noite de solidão onde não poderia haver amanhecer e o silêncio seria eterno. Sem a ciência eu não estaria dando esse testemunho.
Por isso onde houver negacionismo e posições contra a ciência e os avanços da medicina eu irei me posicionar.
Em homenagem também aos meus queridos amigos que morreram com muito sofrimento, esquálidos e vítimas de pseudos tratamentos ineficazes que enriqueceram charlatães vendedores de placebos e são responsáveis pelos enterros em massa de homens , mulheres e crianças .
Esses haverão de responder nos tribunais da história ou ainda nesta vida mesmo , quando a justiça despertar.
Viva a ciência
“ Viva a morte e a inteligência “ foi o urro já sepultado do general fascista Milan Astray na então conservadora Universidade de Salamanca , prontamente contestado com coragem por Dom Miguel de Unamuno.
E que as luzes do saber nunca mais sejam cobertas pelas túnicas do obscurantismo.