6:53A crise ambiental mudou de patamar

por Elio Gaspari, na FSP

Os ambientalistas tinham razão, e agora?

A crise climática está aí. O país vive a maior seca em mais de meio século, 2.000 municípios estão em condições de risco e cidades são tomadas pela fumaça dos incêndios. No Dia da Amazônia, soube-se que, em agosto, a região teve 38 mil focos de queimadas, um número superior aos anos de Bolsonaro. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse no Senado que o bioma do Pantanal pode desaparecer até o fim deste século.

Os ambientalistas tinham razão. Vistos como profetas da catástrofe, revelaram-se clarividentes. E agora? O pior cenário seria a continuação do que acontece há décadas. Os defensores do meio ambiente reclamam, nada acontece (ou faz-se uma lei) e as coisas continuam na mesma. A orquestra toca a partitura errada e alguns instrumentos não tocam como deviam.

Antes da posse de Lula, circulou a proposta de se cuidar do meio ambiente por meio de uma política de transversalidade. Por trás dessa palavra que pode dizer muito, ou nada, o problema ambiental seria enfrentado por uma agência, fosse o que fosse, prevalecendo sobre as burocracias dos ministérios.

Enquanto o novo governo era uma arca de sonhos, essa proposta inteligente ganhou destaque. Com a posse, veio a vida real. Mobilizaram-se burocratas que não queriam compartilhar o poder de seu quadrado e parlamentares que defendem os interesses dos agrotrogloditas. A ideia da transversalidade foi queimada no escurinho de Brasília.

Não há receita visível para se resolver o problema, mas está diante de todos a evidência de que as coisas não funcionam mantendo-se a máquina que existe. É como querer que um caminhão voe.

No seu novo patamar a crise ambiental pede que se comece a discutir o formato da peça que implementará a transversalidade. Do jeito que estão as coisas, a ministra Marina Silva vai ao Senado e diz o seguinte:

— Nós estamos vivendo sob um novo normal que vai exigir do poder público capacidade de dar resposta que nem sabemos como vão se desdobrar daqui para a frente. (…) Somos cobrados para que se faça investimentos que são retro alimentadores do fogo.

Lindas palavras, mas a ministra é parte do que chama de “poder público”. Além disso, se investimentos alimentam o fogo, cabe ao “poder público” expor a questão, até porque investimento não põe fogo em nada. Quem queima são iniciativas e barrá-las, expondo-as, é o que se precisa.

Em novembro de 2025 instala-se em Belém a 30ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP 30. O governo está tratando do assunto como se ele fosse mais um evento, procurando brechas para lustrar biografias.

Má ideia, pois o Lula que foi à COP 27 em 2022, no Egito, vestia o manto da proteção ambiental. Em Belém precisará mostrar resultados e ações.

17:49Cores

por Nilson Monteiro

Agora, nas filas da farmácia. Em uma delas, um velhinho; na outra, um rapaz com vistoso tênis verde e amarelo.
O senhorzinho saiu na frente: “Com essas cores, esse tênis deu sorte pro Brasil”. E o rapaz: “Sorte onde, no jogo de ontem?”. O outro: “Não. Sorte assim… Já pensou se fosse vermelho…”
O moço o cortou: “Não sou nem verde e amarelo e nem vermelho”. O idoso parecia pedir meu socorro. Não houve e o rapaz prosseguiu: “Se tivesse, só usaria tênis brancos. O Brasil emburreceu muito nos últimos anos!”. O velhinho travou.
Entrei de fininho na conversa: “É muito fla-flu, né? Muito Atletiba”. E o moço: “E eu torço para o Paraná” (referindo-se ao time de futebol).
Os atendentes da farmácia nos chamaram e o velhinho continuou a mirar o tênis do rapaz.

13:16Pesquisa Linear/Plural mostra Pimentel com 31,3%

No levantamento publicado hoje, há empate técnico no segundo lugar entre Luciano Ducci (12,84%), Roberto Requião e Ney Leprevost com 10,6% cada um.  A pesquisa foi realizada nos dias 2 a 5 de setembro. Foram ouvidas 801 pessoas. O registro no TSE é PR 00690/2024. Confira:

https://www.plural.jor.br/curitiba/pesquisa-linear-plural-mostra-pimentel-na-lideranca-e-tres-empatados-em-segundo-lugar/

10:27Victoria com Bolsonaro no 7 de setembro

A deputada estadual Maria Victoria (PP) ousou e deu a tacada do 7 de setembro. No vídeo de sua campanha para prefeita de Curitiba, pede voto com Bolsonaro. Sua assessoria explica:

“A relação de Maria Victoria e Jair Bolsonaro é antiga, além das caminhadas e eventos nas últimas eleições, os dois foram colegas de partido no Progressistas; Ricardo Barros liderou o Governo de Jair Bolsonaro na Câmara e a ex-governadora Cida Borghetti foi conselheira da Itaipu Binacional. No debate na TV Bandeirantes, realizado no início da campanha, Maria Victoria foi a única candidata a prefeita de Curitiba a citar e agradecer Jair Bolsonaro durante o programa.”

9:18O tamanho das pedras

Até o dia 03 de outubro vai aumentar significativamente o tamanho das pedras que os principais candidatos a prefeito de Curitiba jogam uns nos outros nas peças de propaganda que vão ao ar principalmente na televisão. Pode ser tudo. Pode ser nada.

8:54Nonato, o chato

por Carlos Castelo

Nonato era chato. Tão chato que rimava com chato. Quando morreu, muitos choraram – de alívio. Mas o destino quis que fosse para o céu. Ser chato nunca foi pecado. É só um dom especial de irritar o próximo.
Ao chegar aos portões celestes, Nonato se deparou com São Pedro.
“Então é essa a famosa chave celeste, é?” – foi indagando ao vê-la nas mãos do guardião.
“Sim”, concordou o santo.
“Achei que fosse fechadura eletrônica, o bagulho aqui é antiquado mesmo…” – ironizou.
Mal foi admitido no paraíso, já começaram as reclamações. “Essas nuvens são moles demais. Dá uma sensação estranha nos pés da gente. Por que o chão não é de madeira? Economia é a base da porcaria…”
Um anjo que passava tentou ser simpático. “Olá, espero que esteja gostando.”
Nonato franziu o nariz. “Gostando? Dessas harpas desafinadas? E esse tom de dourado em tudo? Brega demais!”
A notícia da chegada do novo morador se espalhou. Todos começaram a evitá-lo. Até mesmo os querubins, conhecidos por sua paciência infinita, inventavam desculpas para não ficar perto dele.
Um dia, Jesus resolveu dar as boas-vindas a Nonato.
“Meu filho,” disse JC com um sorriso acolhedor, “como está sendo sua experiência aqui?”
Nonato não perdeu tempo. “Meia boca. O café é fraco, as nuvens parecem geleia, e a decoração lembra a casa da minha avó. Ah, aliás, a sua túnica está com manchas de vinho. Relaxo, hein?”.
Jesus ficou atônito. Em mais de dois mil anos, era a primeira vez que alguém falava mal do paraíso. E da sua roupa.
A situação ficou crítica e Deus-pai resolveu intervir. Materializando-se diante de Nonato, o Criador trovejou: “Nonato, Nonato. O que podemos fazer para melhorar sua estadia?”
Nonato coçou o queixo. “Pra começar, essa luz toda aí vindo do senhor está me dando dor de cabeça. Não dá pra regular o dimmer? E olha, na boa, acho que Sua Santidade devia repensar esse negócio de Todo-Poderoso. É autoritário demais, sabe?”
Deus se calou. Então, com um estalar de seus dedos, Nonato sumiu.
São Pedro, que assistia à cena, perguntou: “Senhor, o que o senhor fez com ele?”
Deus sorriu. “Dei a ele o que ele queria.”
Naquele momento, Nonato se viu em um lugar escuro e abafado. Ao seu redor, pessoas sofriam em agonia. Um demônio se aproximou.
“Bem-vindo às trevas, Nonato!”
O chato olhou em volta. Então, para surpresa do demônio, abriu um sorriso.
“Enfim, um lugar decente! Nada de harpas fora do tom, nuvens bizarras. E esse calor? Ótimo para a circulação”
O demônio desacreditou. Alguém feliz no inferno era inédito.
Nonato continuou: “Agora, deixa eu só te dizer uma coisa, esses gritos de agonia estão muito pobrezinhos. Que tal dar uma turbinada na coisa? Chama o Pinochet, vê o que ele pode fazer. E as labaredas podiam ser mais altas, estão muito michas”
O demônio teve que chamar Lúcifer. E assim, Nonato encontrou um lugar perfeito, onde poderia infernizar por toda a eternidade. Como sabemos, o verdadeiro paraíso de um chato é o inferno dos outros.

(Publicado no O Dia)

7:58Vinte e um anos de espera e…

A seleção brasileira demorou 21 anos para voltar a jogar em Curitiba. Ontem, entrou em campo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo e venceu o Equador por 1 a 0, gol de Rodrygo no primeiro tempo. Quem foi ao estádio Couto Pereira ou assistiu pela tv ficou esperando futebol – não viu.

7:18Governo Lula mostra que não sabe lidar com assédio

por Mariliz Pereira Jorge, na FSP

Não adianta desenvolver protocolos para vítimas se a instituição é incompetente em garantir ambiente saudável para seus próprios servidores

Num governo progressista, denúncias de assédio têm que ser apuradas de imediato. Fontes ouvidas por diversos jornalistas afirmam que relatos de um suposto comportamento inadequado do então ministro Silvio Almeida circulavam havia meses. Não há desculpas para que as acusações que pesam contra o titular da pasta de Direitos Humanos tenham ficado em banho-maria até que o caldo entornasse dessa forma e expusesse não apenas uma das supostas vítimas, que aparentemente não queria publicidade do caso, e o acusado, que afirma nem conhecer o teor das acusações.

governo Lula mostra sua incapacidade de colocar em prática o discurso de proteção aos direitos humanos, dos direitos das mulheres, da luta contra a violência sexual, do combate ao assédio moral. Não adianta desenvolver protocolos para que as vítimas sejam atendidas, fazer campanhas para que as denúncias sejam feitas, criar uma rede nacional de apoio, quaisquer que sejam os mecanismos, se a instituição se mostra incompetente em garantir um ambiente saudável para seus próprios servidores. Não é aceitável que esse tipo de crime ocorra debaixo das barbas da administração pública.

Por enquanto, tudo é suposição, as denúncias chegaram à imprensa por meio do MeToo, organização que serve de apoio para que mulheres vítimas de violência rompam o silêncio. Não há informações concretas sobre as vítimas, não há relatos robustos sobre os episódios de assédios. O que há de palpável são pessoas babando de prazer por ver um homem ser desmoralizado, enquanto outro grupo sofre e nega de antemão as acusações contra o mesmo personagem, pela mesma razão, o currículo invejável em defesa dos direitos humanos e da causa negra.

Como estratégia, não me parece a melhor decisão do MeToo atropelar o devido processo legal e tornar público um caso tão emblemático como o que envolve dois ministros de Estado. O resultado é que Silvio Almeida começou a ser fritado com a declaração de Lula de que “não é possível a continuidade no governo” e com o empurrão da primeira-dama Janja e da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. As duas postaram fotos com Anielle Franco, numa explícita demonstração de apoio, ao mesmo tempo que expõe um suposto ambiente tóxico dentro do governo e a inabilidade de lidar com a violência.

A decisão de denunciar um assédio não é fácil, passa pelo momento de reconhecer a agressão, da coragem de enfrentar julgamentos, de provar as acusações. A grande maioria das mulheres talvez ainda não tenha clareza sobre o crime, não encontre amparo psicológico e jurídico para romper ciclos de violência.

Mas Anielle Franco é ministra de Estado, ativista de direitos humanos, feminista. É sua responsabilidade desenvolver políticas públicas, colocar em prática ações que protejam negros, em especial mulheres negras. Ao não formalizar a acusação, abre espaço para especulações desnecessárias e demonstra fragilidade não-condizente com o cargo para lidar com a violência e deixa de servir de exemplo para uma sociedade tão carente de referências para mulheres que poderiam ver nela a força necessária para reagir.

17:52Deus é naja

por Caio Fernando Abreu

Estás desempregado? Teu amor sumiu? Calma: sempre pode pintar uma jamanta na esquina.

Tenho um amigo cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos há muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.

Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele — humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou esta: — “Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim…” — Descemos o elevador rindo feito hienas. Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas.

Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: — “Por favor, preciso de uma jamanta às 20h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque vai estar no bolso esquerdo da calça”. Às 20h14, na tal esquina (uma ótima é a Franca com a Haddock Lobo, que tem aquela descidona), você olha para a esquina de cima. E lá está — maravilha! — parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: — “Morro feliz. Era tudo que eu queria…”

Dia seguinte, meu amigo dark contou: — “Tive um sonho lindo. Imagina só, uma jamanta toda dourada…” Rimos até ficar com dor de barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele “Consolo na praia”, sabe qual? “Vamos não chores/ A infância está perdida/ A mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu” — ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além de mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema — Drummond, o Carlos, pergunta: “Mas, e o humour?” Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja — descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou o Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu às vezes, só às vezes, também consigo.

Ultimamente, quase não. Porque também me acontece — como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora — de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.

Segure seu humor. Seguro o meu, mesmo dark: vou dormir profundamente e sonhar com uma linda e fatal jamanta. A mil por hora.