Yamandú Orsi, candidato apoiado por Pepe Mujica, foi eleito presidente do Uruguai no segundo turno. Ele venceu Álvaro Delgado, candidato de centro-direita apoiado por Luis Lacalle Pou, que governa o país há cinco anos. A esquerda do continente comemora e, megafone em punho, grita que está viva. Isso é política!
6:26A VIDA COMO ELA É
Em Curitiba – Foto de Roberto José da Silva
6:11Aposta na dependência
por Ruy Castro, na FSP
Os comerciais dizem cinicamente: Jogue com responsabilidade. É impossível, mesmo que se apostem feijões
Jogar no bicho, na loteria e em qualquer tipo de aposta física, semanal ou bissemanal, dá certo trabalho. Exige a ida à lotérica ou ao bicheiro da esquina, e o espaço de tempo entre as apostas permite ao jogador continuar tocando sua vida profissional, social, familiar. Ganha-se pouco e se perde um pouco mais, mas nada mortal. Já o cassino online é diferente. Da aposta que se pode fazer em qualquer lugar e hora —basta um celular e um Pix— até saber se ganhou ou perdeu, é uma questão de instantes. Quem ganha pode repicar no ato, para continuar ganhando. Quem perde, idem, para recuperar o prejuízo. O circuito de recompensa psíquica é ativado a cada lance.
Segundo dados oficiais, os brasileiros gastaram R$ 68 bi em apostas no primeiro semestre deste ano. É um dinheiro que deixou de circular na economia, drenado por empresas internacionais para suas sedes nos paraísos fiscais. Como se perde incomparavelmente mais do que se ganha, 1,3 milhão de jogadores ficaram inadimplentes nesse mesmo período no país, deixando de pagar dívidas, prestações e contas, zerando a poupança, tomando dinheiro no banco, endividando-se, falindo e nisso arrastando a família.
Mas não é certo classificá-los de otários. Equivalem ao sujeito que é visto às 8 da manhã no balcão do botequim levando um copo à boca com dificuldade, e que nem por isso é um vagabundo. É só um dependente. A dependência se dá quando aquilo que era feito recreativamente e por prazer, como fumar, beber, cheirar —ou jogar—, passa a ter de ser feito para não se sentir desprazer, na forma de ansiedade, aflição, pânico, sudorese, taquicardia e, no limite, loucura e morte. É terrível constatar que a dependência do jogo também leva a esses sintomas.
E às consequências também. Todo dependente pode apostar, aí, sim, na perda de mulher, filhos, família, amigos, emprego, trabalho e saúde. Sem falar na depressão, sempre citada como causa desse descontrole, mas que os profissionais sabem que é apenas efeito.
Os comerciais de bets aconselham cinicamente: “Jogue com responsabilidade”. É impossível, mesmo que se apostem feijões.
18:36PARA JAMAIS ESQUECER MIA COUTO E MURAR O MEDO
O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demônios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem. Os anjos atuavam como uma espécie de agentes de segurança privada das almas.
Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos. Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada, não por estranhos, mas por parentes e conhecidos. Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambiente que reconhecemos.
Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura e do meu território. O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte, vislumbravam-se mais muros do que estradas.
Nessa altura algo me sugeria o seguinte: que há, neste mundo, mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas. Continue lendo
18:36Molecagem
O homem do Brasil entra na História com um elemento inédito, revolucionário e criador: a molecagem. (Nelson Rodrigues)
18:17Nos minutos finais, pra variar
O Atlético Paranaense empatou com o Bahia em 1 a 1 em Salvador. Bom resultado para quem foge do rebaixamento? Sim. Mas o Atlético vencia por 1 a 0 até os 47 do segundo tempo, gol de Nikão, não tinha jogado nada até então e o goleiro Mycael era o melhor do time, com defesas milagrosas. Aí aconteceu o que tem sido o “normal”: gol de empate. E o medo de ir para a segunda divisão permanece atormentando a torcida que hoje foi ao céu e despencou, pra variar.
12:55PARA NÃO ESQUECER
Foto de Rosa Gauditano
12:45JORNAL DO CÍNICO
Do Filósofo do Centro Cínico
Cezar Bitencourt, advogado do tenente-coronel Mauro Cid, dava entrevista ao vivo para a Globonews e, entusiasmado, confirmou que o ex-presidente Bolsonaro sabia de tudo sobre o plano do golpe e até da ideia de matar Lula, Alckmin e Xandão. De repente a imagem virou e desapareceu. Alguns minutos depois, Bitencourt negou tudo que tinha acabado de falar e, se apertassem mais, diria que ele não é ele e que nunca viu na vida o Mauro Cid. Quem viu a coisa acha que, na segunda parte, havia alguém na sala do advogado brincando de mal-me-quer-bem-me-quer tendo ao lado um porrete de amansar depoimento.
12:37A crise climática e os deputados
No início do próximo ano a Assembleia Legislativa do Paraná deverá criar uma comissão especial para tratar do enfrentamento da crise climática. A ideia é preparar o Paraná para os efeitos da crise que afeta a saúde das pessoas e também a economia, principalmente o agronegócio.
8:19PARA NÃO ESQUECER MARCUS BIANCHINI
8:09Quem iria se dar bem com o golpe?
por Cláudio Henrique de Castro
Na malta que articulou o golpe estavam: um padre, um argentino, o neto de um ditador e até agora, na conta, 19 militares ao lado do Messias.
Num futuro próximo a trama merece um filme documental. Quem seriam os atores globais a interpretar esses papéis? Difícil adivinhar.
Os então ministros e seus assessores estavam a redigir e revisar a minuta do golpe, um padre fez parte do núcleo jurídico, embora o papelucho não tinha sequer uma linha de direito canônico. Ele apenas serviria para abençoar os novos heróis nacionais.
Com o discurso de conter a crise, iriam suspender o estado constitucional.
Seria preciso construir uma nova ordem legal, com força ao ditador e seus cúmplices, – a mesma história da carochinha que, tristemente, o país vivenciou por diversas vezes.
A quem interessaria o golpe?
Certamente às economias concorrentes do Brasil no comércio internacional, aos acólitos dos partidos da base política do ditador; aos antivacinas; à terra plana; à vendinha de joias da Arábia Saudita; aos futuros compradores da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, e de tantas outras estatais que ainda sobraram.
Mais vinte cinco anos de escuridão, torturas, exceções processuais penais e toda sorte de transgressões à Constituição, que seria rasgada no mesmo dia.
Novas leis, emendas constitucionais, o bacharelismo de sempre sustentando a legalidade do ilegal, a resistência possível, o exílio de alguns, e tudo que as elites do atraso adoram: o poder sem limites para a extração as riquezas do país, a seu bel prazer.
O retorno do beija-mão aos políticos biônicos, os que não passam pelas urnas. Com uma vantagem: o ditador teria sucessores diretos, seus filhos e toda aquela parentela que já está acostumada com os corredores do poder.
Voltariam à cena os mesmos setores que engordaram com a ditadura de 1964, os filhotes da ditadura, os empresários, financistas, classe média conservadora e o principal, os que defendem a pena de morte como solução para tudo e todos.
Campos de concentração seriam construídos novamente, como aqueles do Dops e tantos outros aparelhos repressivos que foram elogiados pelo então candidato.
O destaque vai para o argentino marqueteiro do presidente vizinho, que gosta de ouvir tangos enquanto fabrica notícias falsas para disseminá-las para população portenha, isso segundo a resistência democrática argentina.
No momento, reina o silêncio dos apoiadores do golpe, sempre com a velha frase da política: passarinho na muda não pia.
O pulso do golpe, ainda pulsa. É necessário agir com a celeridade processual que as leis permitem e a sociedade exige.
E o principal: fazer uma profunda reforma nas forças armadas, a começar pela inelegibilidade.
Por pouco, a catástrofe não ocorreu. Por una cabeza, cantaria Gardel.
8:01A VIDA COMO ELA É
Foto de Roberto José da Silva
7:50Golpe de Estado
Golpe de Estado: Direito Constitucional militar. (Millôr)
7:46Na bola, sem terreiros
O Atlético Paranaense enfrenta hoje o Bahia, em Salvador. Se vencer ou empatar dá mais um passo para se distanciar do fantasma do rebaixamento para a segunda divisão do campeonato brasileiro. Como não pode apelar para os santos dos terreiros, prioridade dos donos da casa, melhor caprichar na bola, pois há esperança – com agá e acento agudo no a.
7:38Cassado e cobiçado
O ex-deputado federal Fernando Francischini foi cassado em 2021 por publicar notícias falsas sobre a urna eletrônica, e ficou inelegível até o fim de 2029, Em 2018 ele tinha recebido 428 mil votos dos paranaenses, um recorde. Isso explica, em parte, porque se mantém cobiçado nos bastidores do poder. Na semana passada, por exemplo, deixou o União Brasil e assinou filiação com o Solidariedade para comandar o diretório estadual. Por enquanto permanecem no União a mulher Flávia, deputada estadual, e o filho Felipe, deputado federal. Isso é política!
7:23A VIDA COMO ELA É
Foto de Vera Solda
7:15Apressado
O governador Ratinho Junior está com pressa. Desde 2022, 84 projetos de lei foram enviados à Assembleia Legislativa do Paraná em regime de urgência, como o da privatização da Copel, aprovada e sancionada em três dias. Em 2024, o governo enviou 25 projetos, como o da desestatização da Ferroeste e da Celepar e a privatização da gestão de escolas estaduais. Expressionante!
6:58O dia que um banana comprou uma banana
por Ricardo Araújo Pereira, na FSP
O que acrescenta nova camada artística a uma obra já tão rica em significados
Durante a Segunda Guerra Mundial, em resultado das restrições impostas pelo racionamento, os merceeiros punham na janela um cartaz dizendo “Yes! We have no bananas” —”sim! Não temos bananas”. Era uma referência a uma música muito conhecida, composta uns 20 anos antes, e pretendia contrariar, com alguma alegria, o infortúnio de não ter bananas.
No entanto, por muita falta que as bananas fizessem, ninguém se lembraria de dar US$ 6,2 milhões por uma, como acabou de fazer um empresário de criptomoedas. Empresário é o nome que os jornais lhe dão.
Eu chamo feiticeiro, porque não percebo o produto que ele transaciona nem o feitiço através do qual ele passa a ter valor. Foi ele que comprou a obra de arte que consiste numa banana colada à parede com uma fita adesiva cinzenta. Na verdade, ele não comprou exatamente a obra de arte. Ele comprou a ideia da obra de arte.
A troco de US$ 6,2 milhões, ele ficou com um conjunto de instruções sobre o modo de expor a obra e um certificado de autenticidade que assegura que, sempre que ele colar uma banana à parede com aquela fita adesiva, essa será a obra verdadeira, diferente de qualquer outra banana que um de nós possa colar à parede com a mesma fita —que será apenas um objeto estúpido, a caminho de ser lixo.
Ou seja, com dinheiro que não é bem dinheiro, ele comprou uma obra de arte que não é bem uma obra de arte. Parece-me apropriado. Podemos considerar uma idiotice dar US$ 6,2 milhões por uma banana, mas isso é ser insensível às qualidades da banana.
A banana não é um fruto qualquer. A sua versatilidade, muito superior à das outras frutas, permite-lhe ser convocada para o universo humorístico, por causa da casca, para o universo sexual, por causa da forma, para o universo musical, por causa das suas três divertidas sílabas.
Além disso, a banana é o único fruto que é também um insulto. Ninguém diz, pretendendo ofender: você é mesmo umas uvas. Só a banana tem a potência necessária para ultrajar. Um banana comprou uma banana —o que acrescenta nova camada artística a uma obra já tão rica em significados.
6:32A VIDA COMO ELA É
Em Curitiba e Florestópolis (PR) – Fotos de Sonia Maschke e Rogério Machado
18:21Os deimites da palavra
de Manoel de Barros
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas