10:07JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

Se o candidato descadeirado promete prédio com mil metros de altura em São Paulo, porque em Curitiba ninguém pensou em finalmente abrir o buraco do metrô com mais estações do que em Nova York? Não precisa nem prometer os trens. Dá Ibope, ou melhor, Quaest.

9:55Enio Verri e o PL

Enio Verri, diretor-geral da Itaipu, é a estrela do PT que mais brilha no Paraná – por motivos óbvios. Ele está em campanha pelo partido para 2026, mas não deixa de ser pragmático nesta eleição municipal. Por exemplo: em Itaipulândia ele apoia Maico Gasparini, que é do MDB, e até gravou vídeo de apoio, segundo a coluna Palavra Livre, da Gazeta do Iguaçu. A coligação do candidato não tem o PT, mas sim uma sopa de letrinhas onde o PL de Jair Bolsonaro está lá ao lado do PSDB, PDT e Cidadania. Isto é política!

9:20O trololó e a artilharia de campanha

O Gaiato da Boca Maldita acha que nessa altura do campeonato os candidatos a prefeito de Curitiba já expuseram à exaustão os principais projetos que pretendem implantar, se eleitos – e ninguém aguenta mais ver e ouvir o trololó. O que resta até o dia 03 de outubro, data do final da campanha? “Quem está por cima tem que manter isso. Os outros? Barragem de artilharia para tentar derrubar e criar urgentemente uma nova paisagem”.

8:36Herdeiro do “óvniporto” tenta ser prefeito em Bocaiúva do Sul

Em Bocaiuva do Sul, na grande Curitiba, o candidato do PL a prefeito é Kleber Alvarenga Berti, de 39 anos. Esse o nome oficial. O da campanha é Bino Berti Filho Elcio Berti. Estranho? Nem tanto. Elcio Berti, o pai, já falecido, foi prefeito do município de 1997 a 2004 e ganhou projeção nacional pelas projetos que anunciou e implementou. Por exemplo: distribuir Viagra e amendoim para os homens a fim de aumentar a população e, consequentemente, o repasse de verbas para a cidade. Proibiu a venda de preservativos e de cigarros. Em 2003 causou um reboliço ao proibir que homossexuais morassem no município. Sofreu um processo de impeachment, mas a Câmara Municipal derrubou a tentativa. Fez da mulher, Lindiara, a sucessora e deu entrevista no Programa do Jô depois de anunciar que construiria um Óvniporto, para pouso de discos voadores. Ele morreu em 2009 em consequência de um câncer. O nome continua sendo forte depois de todo esse tempo. O filho agora tenta ser o terceiro da família a administrar a cidade. Quais os planos dele se for eleito? Confira:https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2024/PR/74594/619/candidatos/160002278942/pje-PLANO%20DE%20GOVERNO%20PL%2022%20.pdf

7:13O assunto

A duas semanas do fim do horário de propaganda política que não é gratuito nas rádios e emissoras de televisão, em Curitiba os eleitores são unânimes em discutir apenas uma coisa: a cadeirada do Datena no Marçal.

6:31Uma coisa não podemos negar: Datena foi ‘autêntico’

por Joel Pinheiro da Fonseca, na FSP

O candidato do PSDB fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura

Datena mostrou-se desequilibrado e violento na lamentável cadeirada que desferiu em Pablo Marçal. Há, contudo, um adjetivo positivo que não lhe podemos negar: ele foi autêntico. Fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura.

E não é isso que mais valorizamos em nossos representantes hoje em dia? Só de falar como eu gostaria de falar —sem papas na língua, falando o que sente, sem medo de ofender; ou melhor, querendo ofender— já se torna um herói popular. Se acusar a todos de crimes hediondos sem provas, como faz Marçal, é bonito, por que não também a agressão? Refrear o ato das mãos e forçar-se a verbalizar nossos impulsos é já uma forma de matar nossa reação vital.

Levada à sua conclusão lógica, a autenticidade pura termina justamente na agressão física. Já que nenhum de nós quer que a política dê lugar à guerra (estamos de acordo nisso, não?), precisamos nos indagar sobre os limites da autenticidade. Quais outros valores importam?

Em favor da autenticidade, reconheço um ponto: a linguagem política profissional é intragável. Ela domina maneiras sofisticadas de apagar a própria responsabilidade por coisas ruins; sabe ser ambígua para não se comprometer futuramente; sabe inclusive transmitir segurança no uso da linguagem pretensamente técnica para fingir competência. É arredondada, diplomática, pretensamente séria. E, por isso mesmo, engana.

Uma linguagem que quebre com isso, que fale a língua do cidadão normal, já é uma ponte para se identificar com ele. Melhor o assumidamente imperfeito do que a perfeição fingida da política. Sim, o “não político” pode cometer erros, pode falar besteira às vezes, mas “diz a verdade”. Não a verdade literal dos dados, e sim uma verdade interior: a da revolta com a política tradicional (e da imprensa), que, mesmo sabendo articular dados e fatos quando lhe convém, o faz justamente para enganar e manter tudo como está.

Na raiz disso está a revolta contra a política tradicional, descartada em bloco como se fosse “tudo a mesma porcaria” indigna de qualquer crédito. Mas é claro que não é tudo a mesma porcaria. Na política, assim como em todas as áreas, existem melhores e piores. Há aqueles que deixam em sua cidade um legado de instituições e programas que seguem funcionando em benefício da população e aqueles que deixam um vazio de escândalos e obras abortadas. Selecionar os melhores e rejeitar os piores é parte do aprendizado.

Uma pessoa que tenha dificuldade de se expressar e por isso prefira textos ensaiados será bem pouco autêntica em suas falas, mas nem por isso má gestora. A entrada de novos rostos e novos jeitos de se comunicar é muito bem-vinda, mas não torna desnecessário o senso crítico do eleitor. A autenticidade promete mudança. Mas essa mudança dá algum indício de que será para melhor?

Frases duras contra quem eu não gosto; saber enfurecer os membros do lado contrário ao meu. Capacidade de causar barraco em debates. São características positivas num programa de TV ou num post de redes sociais. O trabalho de gerir uma cidade e decidir como investir seus recursos de forma a melhorar a vida dos cidadãos precisa de outras capacidades além dessas.

15:23Bitcoins e cadeia

Francisley Valdevino da Silva, o “sheik do bitcoins”, suspeito de criar empresas fraudulentas de criptomoedas e gerar prejuízo a milhares de pessoas, foi preso em Curitiba. O ator uruguaio Nestor Nunes foi detido nos Estados Unidos. Ele interpretava um falso CEO da empresa de Valdevino, a Forcount, nas propagandas para atrair “clientes”. Nunes morou durante muito tempo na região metropolitana da capital paranaense. Estima-se que o prejuízo de quem acreditou nas promessas de lucro garantido cheguem a R$ 300 milhões.

15:06Insensível para o jogo político

Sobre Mário Henrique Simonsen, do livro Mário, de Luiz Cesar Faro e Coriolano Gatto

…E como não vivia esse sentimento, também não tinha a sensibilidade necessária
para administrá-lo em relação aos demais. Este seu jeito o levou a algumas
situações engraçadas. Uma vez, ele me contou que estava no Congresso, explicando
pela enésima vez o aumento da dívida externa, e um parlamentar o responsabilizou por isso, pelo fato de ter desvalorizado o câmbio. Ele argumentava que a desvalorização cambial aumentava apenas a expressão em cruzeiros da dívida, mas mantinha a dívida constante.
Esse parlamentar era muito baixo, tinha um metro e quarenta e cinco. Depois de muito tempo dando explicações sem sucesso, Mario disse para ilustrar o assunto com mais clareza:
– Por exemplo, se o senhor expressar a sua altura em centímetros em vez de
metros, isto não fará o senhor cem vezes mais alto.
O parlamentar entendeu o que ele queria dizer, mas daí para frente nunca mais apoiou nenhuma de suas propostas. Mario não tinha a sensibilidade necessária ao jogo político. Sua cabeça era dominada pela lógica cartesiana. E utilizava esta lógica com muito senso de humor.”