10:45Jail-office

por Carlos Castelo

Em julho de 2017, o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, declarou à imprensa: “as nossas prisões se transformaram em home-office do crime”.

Corta para 2024, presídio federal de Mossoró:

– Salve!
– Salve, irmão!
– Estão me ouvindo bem na camerinha aê?
– Tamos, mano.
– Até que não é ruim a luz aqui pra uma tranca.
– Dá pra te ver e ouvir na boa. Sussa.
– Firmeza. Então, bora pras nossas conversas.
– Na hora, irmão
– O Cata-Coco, apagaram ele?
– Aí que tá…
– Aí que tá o quê, maluco?
– Fomos lá no botequim e vimos o Cata-Coco de conversa com mais dois cabôco nas mesinhas de fora.
– E daí?
– Abrimos fogo em tudo lá.
– É isso daí! Ficou ninguém?
– Não ficou nem pombo, sacou? Só que não era o Cata-Coco. Era um mano igualzinho ao maluco, velho.
– Cês tão de brincadeira comigo, né?
– Ó, papo reto: confundiu porque era a cara de um, a fuça do outro.
– Quem tava na responsa desse trampo?
– O Bacilo.
– Cadê esse corno?
– Foragiu.
– Bom, então o primeiro trabalho de vocês é corrigir o vacilo do Bacilo. Senão, já sabem…
– Certo, mano.
– Certo não, cês erraram no alvo. Agora é localizar, e deslocalizar, o traíra do Cata-Coco. Pra sempre. Tá compreendido?
– Ô, se tá.
– Parte de grana agora…
– Só falar.
– O sequestro lá da dona do mercadinho. Como é que tamos na fita?
– Pegamos a velha, mas a dona é encrenca, parça.
– Ah, e é? Como assim?
– Bicão, Rute da 45 e o Cassius Clay meteram a dona no esconderijo combinado. A velha vai e sai pelo vitrô da parada.
– Tá falando sério, truta?
– Craro. E a desgranhenta ainda rendeu o Sumô.
– O monstro do Sumô?
– Meteu um mata-leão no bruto. Foi parar no Pronto Atendimento, todo torto e funhanhado.
– E a veia?
– …
– Muda de posição aí do celular que deu tilt na conexão.
– Tá me ouvindo, chefia?
– Agora tô. Segue.
– Pega tevê aberta aí na tranca?
– Nada, mano.
– A veia do mercadinho tá na Globonews agora, ao vivo
– Ah, vai!
– Andréia Sadi, aquela deusa, entrevistando e tudo.
– Mano do céu!
– Tamos nos aguardos das ordens.
– É Paraguai, cambada!
– Fechou!
– Leva as AK, os celulóides e os laptobas.
– Firmeza.
– Cada um nos seus home-office e Pablo Escobar por todos.
– Amém!

(Publicado na Fórum)

10:28O compliance e a desconfiança

Do Goela de Ouro

Quem achou que o tiro disparado pela Oposição ao governo contra José Eduardo Bekin, diretor da Invest Paraná (e por tabela contra o governador Ratinho Junior), por conta da denúncia baseada na condenação ocorrida em 2002 em decisão da Justiça Federal, errou. O deputado estadual Requião Filho pediu à Controladoria Geral do Estado (CGE) o relatório que analisou  a nomeação de Bekin já no primeiro governo da atual administração (ver abaixo). Fez isso baseado num dos pilares mais divulgados pela propaganda oficial – a questão oa compliance. Para quem não sabe, “compliance é um conjunto de práticas e procedimentos que visa garantir que a empresa e seus colaboradores sigam as leis, regulamentações e normas internas”. Logo, o pedido é para esclarecer se  isso foi seguido. Confira:

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10:06O TRE e o fôlego de Moro

Do correspondente em Brasília

A decisão do presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE), desembargador Sigurd Roberto Bengtsson de agendar para 1º de Abril o julgamento que pode levar à cassação do senador Sergio Moro (União), garantiu um fôlego para Moro.

Num misto de corporativismo local e rito processual moroso, o TRE modificou pela terceira vez a data anunciada para analisar as ações do PT e PL contra o senador paranaense por abuso de poder econômico nas eleições de 2022.

A definição do presidente do Tribunal paranaense bate de frente com o posicionamento do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. Moraes colocou em votação, logo na primeira sessão do ano, a lista tríplice com os indicados para completar o pleno do Tribunal paranaense, condição obrigatória para levar o caso de Moro a julgamento.

Na sequência, o advogado José Rodrigo Sade foi escolhido pelo presidente Lula (PT) e a posse foi marcada para 6 de Março. Pela determinação do presidente do TRE, o julgamento do caso de Moro começa um mês depois da posse de Sade.

Embora a cassação do senador Sergio Moro seja vista como tecnicamente inevitável por diversos juristas, devido à jurisprudência consolidada no TSE, as manobras protelatórias do TRE garantem um sopro ao ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça.

9:35A segunda ponte

Do Analista dos Planaltos

A segunda ponte entre Brasil e Paraguai foi notícia no Jornal Nacional porque virou um elefante branco. Pronta há mais de um ano, ainda não pode ser usada pela falta de acessos e estruturas aduaneiras e de fiscalização nos dois lados da fronteira. De acordo com a reportagem, o DER-Pr estima concluir as obras rodoviárias em novembro de 2025. Até lá, a festejada ponte só tem servido para autoridades e turistas tirar fotografia

8:22NELSON PADRELLA

Já mediquei-me com as novas drogas da chamada medicina de ponta, possivelmente de Ponta Grossa, não sinto diferença, não nasceu rabo de jacaré nem asa de anjo. Continuo me sentindo a anta de sempre.

8:21Enquanto isso, em Foz do Iguaçu…

Do Goela de Ouro

Em Foz do Iguaçu há controvérsia sobre o destino de Paulo Mac Donald na eleição municiapl. Tem gente que jura que ele também está sendo cobiçado pelo PT de Gleisi Hoffmann e Enio Verri. Além disso, sem alarde, o general Silva e Luna, ex-diretor geral da Itaipu, está na área, não desistiu de se candidatar. Há quem diga até que poderá receber apoio do governador Ratinho Junior para a empreitada.

7:52Ao pé do ouvido

Pode ser tudo, pode ser nada, mas não ficou despercebido ontem, na homenagem a Cida Borghetti, na Assembleia Legislativa, o quanto trocaram figurinhas ao pé do ouvido o prefeito Rafael Greca e o deputado estadual Alexandre Curi. Juntando lé com cré, os dois estão juntos com o governador Ratinho Junior no apoio à candidatura a prefeito de Eduardo Pimentel e, mais que isso, para o futuro não muito distante são, sim, pré-candidatos ao governo do Paraná. Isso é política! Confira: Continue lendo

7:40Juscelino e Petraglia

O plano de metas do presidente Juscelino Kubitschek era fazer 50 anos em cinco. Um atleticano das antigas lembrou disso e arrematou, depois da mudança de nome do estádio: “O Petraglia, como ele só, fez o da eternidade em 29 “.

7:16Espinosa, Olympio, Zico, Reinaldo e a saudade

por Mário Montanha Teixeira Filho

Nos meus tempos de sindicalista, Belo Horizonte era um destino frequente. A capital mineira foi a sede informal de uma articulação de sindicatos de vários Estados para debater o Poder Judiciário brasileiro. As reuniões envolviam gente do Sul, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a que se juntavam, de vez em quando, camaradas de São Paulo, Maranhão, Pernambuco e Pará (pensando bem, não foi pouco). 

Conseguimos realizar um bom trabalho. Nossas atividades diárias de preparação duravam muitas horas, e quase sempre terminavam na Cantina do Lucas, localizada numa galeria do centro de Belo Horizonte, onde atravessávamos madrugadas em discussões intermináveis sobre política, futebol, poesia, comunicação e o que viesse pela frente. 

A Cantina do Lucas é um ponto de encontro tradicionalíssimo, patrimônio cultural dos belo-horizontinos. Quem ajudou a dar fama ao lugar foi o garçom Olympio, que trabalhou lá durante muito tempo, até os seus oitenta e dois anos. Pois eu conheci o Velho, como também era chamado. Com o que lhe sobrou de agilidade, ele circulava pelas mesas, anotava pedidos e carregava pratos com as duas mãos trêmulas. Na lapela do paletó branco e engomado, um distintivo de metal com uma foice e um martelo entrelaçados.

Sim, o Olympio era comunista das antigas. Nos anos de chumbo, dava uma espécie de proteção aos bebuns esquerdistas que afogavam as mágoas ou maldiziam a quartelada de 1964 e o AI-5. Uma figura.

Então. Estávamos no Lucas, numa noite do início dos anos 2000, quando dois homens, um segurando o outro, andando em ziguezague, se aproximaram da nossa mesa, já bastante povoada de garrafas e copos, e pararam. Um breve silêncio veio em seguida. E eles cambaleando, quase sem voz, até que, olhos na minha direção, sussurraram uma frase esquisita:

– Nosa… Ichh… Fxprt… Sspinossssa!

Depois de um grande esforço hermenêutico, deduzi que eles se referiam a Espinosa, o holandês de sangue lusitano que viveu no século XVII. Engatei:

– O filósofo?

E eles:

– Ssq… Sspinossssa…. Norchhhhhhminassss!

Tentando decifrar, fui adiante, no chute:

– Espinosa, uma cidade no norte de Minas? É isso?

Não é que eu estava certo? Os dois me abraçaram e abriram sorrisos de cumplicidade. Imediatamente, nos tornamos amigos de longa data. Puxei mais duas cadeiras e teve início uma conversa animada sobre um lugar cuja existência eu desconhecia até então. Não sei dizer como o diálogo se desenrolou, mas sei que chegou a um ponto de entusiasmo que não tinha mais volta. Quando percebi, Espinosa me era muito familiar, eu costumava visitá-la nas minhas férias de estudante e havia namorado na praça central da cidade. Comecei a ficar incomodado com tanta lorota, com a mistura entre sonho e realidade que não tinha fim. Mais um pouco, eu seria nomeado, ali mesmo, naquele bar, cidadão honorário de Espinosa!

– Viva Espinosa! – gritamos várias vezes, saudando as minhas lembranças do norte de Minas e as histórias absurdas que nossas mentes um tanto perturbadas criavam.

A prosa mudou de rumo quando, ao ser depositada mais uma garrafa na nossa frente, um dos convivas – não me lembro como se chamavam, mas sei que eram dois nomes parecidos, uma dupla de irmãos – disparou:

– João Leite, culpado!

E o outro:

– Vendido! Filho da puta! 

O assunto, agora, tinha a ver com a rivalidade entre Atlético Mineiro e Flamengo, iniciada na decisão do Campeonato Brasileiro de 1980. O Flamengo ganhou a disputa em que a igualdade lhe daria o título: 1×0 pro Galo, em Minas, e 3×2 pro Mengo, no Rio. 

Mas a polêmica revisitada naquela mesa tratava de outro campeonato, a Copa Libertadores do ano seguinte. Na primeira fase, os rivais brasileiros buscavam classificação para a única vaga do seu grupo. Foram dois jogos e dois empates pelo mesmo placar de 2×2. Acontece que João Leite, o (bom) goleiro do Galo, deu uma pixotada feia no Maracanã. Veio um cruzamento do adversário, ele bateu roupa e largou a bola nos pés de Nunes, que não perdoou e fez um dos gols do jogo. Se não houvesse a falha e o resultado fosse a vitória do Galo, não teria existido a terceira partida, a que nunca terminou. Continue lendo

18:20Demônios matinais

Me assustam entre o despertar e o acordar. Demônios matinais. Aparecem com a luz vazando em qualquer janela. O travesseiro abraçado como boia de salvação. Não há. Fechar e abrir os olhos. Paga-se os pecados à prestação. O pesadelo dos sonhos fica leve, mesmo com mortes violentas, visitas de mortos e drogas percorrendo a corrente sanguínea. Um sinal da cruz. Uma oração sem ver a imagem esculpida. O logo mais fica mais pesado. Pensar em passar o café é como apenas beber a água fervente pelo bico da chaleira. O suor no corpo cola o lençol. Um chute com os dois pés para o alto. Dores nos joelhos, nas costas. A mente escura ainda dispara estilhaços da culpa eterna. Mancando até o chuveiro. Água fria. Um carro passa tossindo na rua. Latido de cachorro ao longe. Há cantos de pássaros. Uma florzinha branca aparece no fundo do quintal. Acordado.