7:17JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

No próximo domingo boa parte dos 156 milhões de eleitores e eleitoras do Brasil vão às urnas para escolher vereadores e prefeitos. Que não esqueçam o pedido de Galvão Bueno: “Joguem com responsabilidade”.

6:20A jogatina mostrou seu rosto, e o governo quer arrecadar com as apostas

por Elio Gaspari, na FSP

Se ninguém reclamar, o Congresso aprovará a legalização e o atual governo fingirá que reclama, desde que o deixem ficar com um pedaço

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, definiu a questão: “É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos noção do que isso poderia causar”.

Deveu-se ao Banco Central a revelação de fúria das chamas do inferno. Em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões com apostas pelo Pix. Esse ervanário equivale a 20% do custo do programa.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, relacionou as apostas com um aumento da inadimplência. Segundo o Instituto Locomotiva, 86% dos apostadores têm dívidas, e 64% estão com o nome sujo.

As portas do inferno seriam até maiores. O senador Omar Aziz estimou que, em 12 meses, os beneficiários do Bolsa Família teriam apostado R$ 10,5 bilhões usando o Pix.

Estima-se que o conjunto dos apostadores perdeu R$ 24 bilhões entre agosto de 2023 e agosto deste ano. No mês de agosto, as apostas eletrônicas moveram cerca de R$ 21 bilhões. Nesse mesmo mês, a arrecadação de todos os sorteios e loterias da Caixa Econômica ficou em R$ 1,9 bilhão.

De Nova York, Lula ensinou:

“O Brasil sempre foi contra cassino, qualquer tipo de jogo de azar. Hoje, através de um celular, o jogo está dentro da casa da família, da sala. […] Estamos percebendo no Brasil o endividamento das pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro fazendo apostas. É um problema que vamos ter que regular, senão daqui a pouco vamos ter cassino funcionando dentro da cozinha de cada casa”.

Daí resulta que a responsabilidade seria dos celulares ou das cozinhas. Os doutores estão há 21 meses no governo e não tomaram uma só providência. Falaram em “jogo responsável”, mas ganha um fim de semana em Las Vegas quem souber como se limita a responsabilidade na jogatina.

Nada aconteceu de novo. Era tudo pedra cantada. As apostas explodiram e instalaram-se no andar de baixo.

Se ninguém reclamar, o Congresso aprovará a legalização de toda a jogatina, e o atual governo fingirá que reclama, desde que o deixem ficar com um pedaço. Tanto é assim que uma parte da base parlamentar de Lula aprovou várias etapas da excursão às portas do inferno.

A surpresa revelada pelos maganos teria duas explicações. Seria resultado de uma supina ignorância ou é apenas empulhação, pois o real interesse do governo de Lula é arrecadar mais. Coisa de vários bilhões.

Os números revelados pelo Banco Central mostram apenas a parte que lhe cabe desse latifúndio. Há ainda a conexão do crime organizado.

Na esfera das celebridades, com as apostas legalizadas, o escândalo da hora associa o cantor Gusttavo Lima, com seu avião e suas camisetas, à lavagem de dinheiro. Suas empresas receberam R$ 49,4 milhões de apostas, e a Polícia Federal investiga quanto desse dinheiro passava por lavanderias. É esse mundo que o governo resolveu tolerar.

18:57Olha o Bolsonaro aí, gente!

Jair Bolsonaro entrou hoje na campanha de Eduardo Pimentel. Por enquanto, só nas redes sociais. Como o vídeo foi gravado há um bom tempo em Porto Alegre, num quarto de hotel para onde foram o candidato, o vice Paulo Martins e o governador Ratinho Junior, a coisa ficou tão emocionante quanto a fala do ex-presidente que põe em dúvida a eficácia de vacinas e até das urnas eletrônicas que o elegeram. “Temos que impedir que a esquerda avance no país” é o lema mais contundente dele – repetido, aliás, pela candidata Cristina Graelm, que faz um esforço para aparecer como a escolhida do capitão. Dito isso, os eleitores curitibanos fieis ao bolsonarismo têm duas opções para votar. Pode ser tudo. Pode ser nada.

11:10Irrelevância social de uma plataforma digital

por Muniz Sodré, da FSP

O bloqueio do X mostrou que esses dispositivos são menos necessários do que se querem vender

O celular é a janela da alma no século 21. Um clichê que poderia passar batido, mas com um fundo de verdade levado a sério por especialistas em saúde infantil. Em meados do século passado, temia-se algo assim sobre a influência da televisão, milhares de páginas e de dólares foram gastos em pesquisas sem nenhuma conclusão. Sobre o dispositivo digital, a convicção é maior: deseducativo, viciante, mas tem pontos frágeis. Elimine-se uma plataforma, nada de relevante acontece.

Isso vem a propósito do bloqueio do Twitter/X pelo STF. Aos adictos à rede soou como medida antidemocrática. Chegou-se a escrever “Elon Musk é liberdade de expressão absoluta”. É que confundiram o natural lugar de fala do ato da fonação com discurso livre. A plataforma, o aplicativo são apenas simulações tecnológicas da base de toda comunicação concreta, isto é, do espaço e do tempo como meios de percepção e ação sobre as coisas. Suspendeu-se o produto no mercado de uma big tech que desrespeitou a soberania nacional, não a comunicação em que está assentada a liberdade histórica de expressão.

Se o bloqueio incidisse sobre um dispositivo institucional de mídia como jornal, revista, rádio, televisão ou a própria internet, aí sim, estaria sendo censurada a liberdade de um grupo logotécnico (jornalistas, editores), representativo de uma comunidade de leitores ou ouvintes. Seria impactante, como nas ditaduras, porque afetaria o espaço público. Mas espaço público não é câmara de eco, é a conversão político-social das opiniões em algo comum, a expressão civil.

Acredita-se que o Twitter/X animaria um debate racional. Mas este é troca de argumentos, e só se argumenta em lugar de fala confiável. Vozes fragmentárias, individualizadas e compulsivas não constituem debate. Isso é falatório, em que se enxerga menos do que é e mais do que supõe ter sido. É a “ideologia da pós”: pós-industrialismo, pós-modernidade, pós-dialética. O que era antes pertencia ao espaço-tempo das ideias de progresso contínuo e de ação social como fato substancial. A fala transitiva e a conversa como troca de posições mobilizavam a comunicação social sobre a qual se assentou a liberdade jornalística.

Agora, na pós-dialética, descobre-se que conversar é a coisa mais assustadora que existe. Diálogo implica cavar barreiras sociais e psicológicas entre um e outro, logo, consciência atenta. Tornada rara, atenção virou mercadoria valiosa.

O lugar vazio criado pelo materialismo prático desse novo tempo foi ocupado por máquinas inteligentes e pelo culto do dinheiro. Fala-se qualquer coisa o tempo todo para neutralizar o diálogo. Por isso, banindo-se um bunker de falatório desconexo, caldeirão de hostilidade, embora com ilhas informativas, expõe-se a falta de ancoragem nacional de um lugar de fala tóxico. A plataforma deverá retornar do banimento, mansinha, porque há muito dinheiro em jogo, sua razão de existir. Mas, se fosse embora, já iria tarde.

Por acidente, o bloqueio do Twitter/X mostrou um ponto fraco do poder digital: esses dispositivos são menos necessários do que se querem vender. Cabe a uma ética social de futuro, zelosa da dos filhos, a cadeia geracional, transformar por meio da educação o celular num utensílio apenas útil, como um canivete suíço, em vez de janela da alma de ninguém.

10:35JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

O time de dez candidatos à prefeitura de Curitiba vai participar do debate da RPC no dia 03. Como jogará, ninguém sabe, mas igual ao de Telê Santana na Copa de 82, com certeza não. Mais provável que a atuação seja como a que foi comandada por Sebastião Lazaroni em1990.

8:4524 questionamentos sobre os novos lotes do pedágio

Da assessoria de imprensa da Alep

Os deputados estaduais Luiz Claudio Romanelli (PSD) e Arilson Chiorato (PT) protocolaram na quinta-feira, 26, na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), um conjunto de 24 questionamentos sobre itens do edital de licitação e dos contratos dos Lotes 3 e 6 do Programa de Concessão de Rodovias do Paraná (PRVias). Os leilões estão agendados para 12 e 19 de dezembro, respectivamente.

Romanelli e Chiorato apontam que os pedágios no Paraná seguirão com preços altos e pedem explicações sobre diversas aspectos do processo licitatório. As perguntas abordam itens que elevam o valor das tarifas, que tratam do prazo da concessão, da redução de investimentos e também de cláusulas que protegem o concessionário em detrimento dos direitos dos usuários de rodovias. “É preciso deixar todo este processo muito transparente”, aponta Romanelli.

Um dos esclarecimentos diz respeito ao reajuste automático de 5% nos pedágios, após a conclusão de obras “que teoricamente já estão precificadas no valor base da tarifa”, como contornos rodoviários. Para os parlamentares o aumento, que será aplicado em todas as praças de um lote, é um prêmio aos concessionários, e sustentam que a política pública estabelece como prioridade a modicidade tarifária. Continue lendo

7:59Tempo

O mundo está nesse impasse porque os velhos, que já adquiriram experiência, sabem que não têm futuro, e os jovens, sem experiências, pensam que não há passado. (Millôr)

7:25Trombada confirmada

Nos dias 23 e 24 de setembro aqui foi publicado que houve uma trombada entre os times de Sergio e Rosângela Moro com o do candidato Ney Leprevost. A assessoria da candidata a vice desmentiu em nota também publicada. Ontem, na coluna de Lauro Jardim, em O Globo, os repórteres Naira Trindade e Rodrigo Castro revelaram o seguinte sob o título “O ‘ruído’ que afastou Rosângela Moro e Ney na campanha de Curitiba”:

Apesar de posados lado a lado no santinho de campanha à prefeitura de Curitiba, Ney Leprevost e Rosângela Moro (e até mesmo Sérgio Moro) estão com as relações estremecidas. O motivo, segundo integrantes do União Brasil, seria uma briga de marqueteiros.

Interlocutores do casal Moro afirmam que ambos queriam maior participação na campanha, mas Ney concentrou 100% das atividades em sua equipe, gerando um desconforto. Reservadamente, Moro criticou o aliado por não ter adotado sua linguagem na campanha, razão pela qual, na visão do senador, o candidato não decolou.
Apesar do ruído, não há nenhuma sinalização de que Rosângela Moro vá desembarcar da campanha, mesmo que ninguém no partido acredite mais na chance de vitória dela.

7:06Abjetos de desejo

por Carlos Castelo

Otaviano começou a roer as unhas e, quando fazia isso, estava com algo entalado na garganta. Morivaldo, que já o conhecia de outros carnavais, quis logo saber o que pegava.
– Você acredita, Mori: estou com a mesma capinha de celular há um mês?
– Sério?
– O pior de tudo é que é uma capinha megadesatualizada, nem entrada de carregador tem!
– Realmente, é delicado. Chegou a pensar sobre o que pode ser feito?
– Bom, eu comecei a fazer terapia. Eu estava numa linha junguiana, troquei pela Comportamental. Vai mais direto ao ponto, sabe?
– Muito justo e bem pensado.
– Não sei se é impressão minha, mas, de repente, passei a achar que os outros estavam olhando diferente pra mim.
– Por causa da capinha?
– Sim, eu andando com uma capinha antiga, sacou? Tem um peso na imagem.
– Não seria apenas uma sensação?
– Nada disso. Sabe a Ivana, lá do serviço?
– A ruiva?
– Isso. Pois ela chegou a “comentar” sobre a capinha. Olhou feio para o meu celular, virou os olhos, e deu um suspiro bem alto. Foi mais direto do que se dissesse que eu era ridículo.
– Ai, ai, ai.
– Eu me sinto inadequado aonde quer que vá. Olho em volta e todos, simplesmente todos, já têm a capinha com o carregador integrado. Ou então aquelas que vem com glitter.
Morivaldo ofereceu um cigarro a Otaviano. Ambos começaram a soltar baforadas.
– Vou te confessar um troço, Ota. Estou com um problema muito parecido com o seu.
– Mentira!
– Juro pra você.
– Se quiser contar…
– Comigo é o vape. Todo mundo tem um, e eu ainda nesse cigarro analógico.
– Superentendo.
– Encontro a galera por aí, eles soltando aquela fumaça bonita, perfumada. Aroma de baunilha caramelo, mentol, e eu…
– Calma, Mori, não fica assim. Espera…pega um lencinho de papel…
– E eu…
– Respira fundo, cara…
– Pô, desculpa, mas realmente fica difícil de aceitar. Só quem já passou por algo parecido sabe o quanto machuca.
– Ih, como te entendo.
– O pior é que sou reincidente. Ano passado queria, porque queria, um Crocs de pelúcia. Minha família teve até que me levar ao psiquiatra.
– Não é só você, não, Mori. Minha irmã teve a fase da meia com os dedos separados e estampa berrante. Chegou a vender um relógio da minha mãe pra comprar.
– Nossa, como a gente é fracassado.
– Triste.

(Publicado no O Dia)