8:23Arembepe não é aqui

Amigo do blog ficou dez dias sem ver televisão e ler notícias na internet. O máximo de esforço que fez foi tomar água de coco com canudinho. Confessa que quase entregou os pontos para procurar um lugar com atração parecida com a que levou muita gente a formar a comunidade de Arembepe, na Bahia. Depois lembrou que lá, onde ainda existem hippies dos anos 60/70, o “progresso” instalou perto o polo petroquímico de Camaçari, o maior do hemisfério sul, com quase cem empresas. Aí ele desistiu, abriu a pasta de contas a pagar e foi forçado a lembrar que a vida continua daquele jeitinho de sempre.

8:05Para exame de consciência

Quantas das 700 mil mortes por Covid teriam sido evitadas no Brasil se Jair Bolsonaro não tivesse feito propaganda de cloroquina até para as emas do Planalto? Cem mil, 200 mil? Nesta antevéspera de Natal, cristãos que ainda incensam o presidente mais ímpio já visto no país deveriam fazer exame de consciência. É hora de penitenciar-se por tamanho pecado de lesa-humanidade, que médicos possuídos por ideologia simularam contar com apoio da ciência. (Marcelo Leite)

6:54Saudades do Tumblr, do iPod, do Google Glass?

por Ruy Castro, na FSP

Não. A tecnologia é muito rápida e suas grandes novidades são logo condenadas à pré-história

Se você tem 30 anos ou menos, desafio-o a me dizer o que significa a palavra Tumblr. Se não souber, não se martirize, eu também não sei. Só sei que, há uns dez anos, quando me perguntaram se eu tinha o Tumblr e, vexado, respondi que não, só faltaram me condenar ao desterro em 1.500 a.C. Como era possível a um profissional da palavra escrita, como eu, dispensar o Tumblr? Pois passei muito bem sem ele, continuo por aqui, e o Tumblr faz parte agora da pré-história da informática. E pior: nunca entendi o significado da palavra nem como pronunciá-la.

O mesmo aconteceu quando o Blu-ray veio condenar à morte o DVD. Ao contrário de meus amigos, não amanheci em filas nem pisoteei pescoços para ser o primeiro a comprá-lo. Na verdade, nunca o comprei. Depois de levar a vida assistindo a filmes na tela do cinema, na TV, no VHS, no laser disc e, finalmente, no DVD, convenci-me de que, com aquelas maravilhosas edições restauradas e cheias de extras em DVD, filmes como “O Gabinete do Dr. Caligari”, “Luzes da Cidade”, “Pacto de Sangue”, “Cantando na Chuva” e “Uma Mulher Para Dois” não tinham mais como melhorar. Daí ignorei o Blue-ray —e não é que, com o streaming, meus amigos fizeram o mesmo?

Sempre mantendo segura distância para não me contaminar, levei anos ouvindo falar de “ferramentas” como iPod, MP3 e MP4, que nunca soube para o que serviam, e, hoje, provavelmente você também não sabe. Outra maravilha quando surgiu foi o celular com rádio, para transmitir mensagens a jato. Pois lamento confessar que nunca me beneficiei do celular com rádio e sobrevivi para ver que essa maravilha nem existe mais. Só faltam compará-lo ao orelhão.

E quem se lembra do Google Glass, o computador em forma de óculos, que permitiria interagir, fotografar, acessar a internet, fazer videoconferências e chupar tangerinas sem tirar a casca? Disseram que seria uma revolução. Mas não foi. Como nem os camelôs se interessaram por ele, o Google suspirou e o tirou de linha.

Esse é o problema. A tecnologia é muito rápida. Quando você afinal se interessa por uma novidade, ela não existe mais.

6:52O mundo moderno está em pedaços e o mal-estar atravessa muitos corações

por Luiz Felipe Pondè

Vivemos num período semelhante à decadência do Império Romano e marcado pelo caos moral e político

O mundo moderno está em pedaços. Um mal-estar atravessa muitos corações. São muitas as formas de interpretação desse mal-estar —para além, é claro, da clássica visão freudiana que não é nosso objeto aqui e para a qual nutro grande respeito.

Muitos entendem que esse mal-estar não existe e seja apenas a recorrente sensação humana de que alguma coisa esteja fora do lugar. O mundo carregaria a imperfeição em seu coração —visão trágica. A modernidade destruiu o passado e colocou o dinheiro no lugar de todos os valores —visão romântica. Concordo com ambas.

Vejamos hoje uma outra análise desse mal-estar moderno. Tenho em mente o livro “A Opção Beneditina, Uma Estratégia para cristãos em uma nação pós-cristã”, de Rod Dreher, de 2017 —que conta com tradução em português.

A nação que consta no título são os Estados Unidos, já que o autor é um escritor cristão americano conservador— nascido metodista, convertido nos anos 1990 ao catolicismo, hoje integrante da igreja ortodoxa russa, que vive na Hungria, um laboratório de ideias conservadoras.

Sei que a palavra “cristão” e “conservador” deixam algumas pessoas com o cabelo em pé, prontas a jogar sua ignorância em cima de quem as usa com respeito. Deixemos a caravana de raivosos passar.

Pessoalmente, não partilho das visões absolutamente negativas de Dreher quanto às liberdades individuais construídas pela experiência liberal democrática. Nem partilho do seu conservadorismo cristão de costumes.

Além disso, não sou religioso, o que me afasta de grande parte de sua visão metafísica de mundo. O que julgo interessante em sua “opção beneditina” é sua crítica à modernidade e sua proposta de como viver em meio a ela. Lendo o livro “Depois da Virtude”, lançado em 1981, do filósofo britânico Alasdair McIntyre, Dreher ficou impactado pelas observações finais em que o filósofo afirma que o mundo precisava de um novo são Bento.

MacIntyre merece uma atenção especial, que pretendo dar em algum momento futuro. Aqui não irei além dessa referência acima porque ela é muito importante para entender o argumento de Dreher. Antes de tudo, quem foi são Bento? Bento de Núrsia (480-547) é considerado o pai do monaquismo ocidental.

Criador da ordem beneditina, são Bento redigiu uma regra monástica básica, não distante daquelas como a de Basílio Magno (329-379), da Capadócia, em que a vida do monge seria pautada pela oração, pelo estudo e pelo trabalho árduo.

O momento em que viveu são Bento é muito significativo tanto para MacIntyre quanto para Dreher. Vivendo durante o reino ostrogodo, Roma está em profunda decadência. O Império Romano ocidental em frangalhos, a era das trevas se iniciava, com o esfarelamento institucional da ordem romana na Europa.

A ideia de que vivemos num período semelhante à decadência do Império Romano é amplamente reconhecida no mundo intelectual. Como dirá o padre Cassiano, abade do mosteiro beneditino de Núrsia, visitado num dado momento por Dreher, “há que se preparar para o que está vindo”.

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8:57As dragas do “auxílio ceia”

Ao saber que os juízes do Mato Grosso pediram “auxílio ceia” de R$ 10 mil – e iam levar, não fosse a intervenção do Conselho Nacional de Justiça, o Gaiato da Boca Maldita perdeu a compostura: “Para dragas carcomidas como estas, nem panetone embolorado é rejeitado, quanto mais dinheiro público”.

8:23Malas prontas

No Rio de Janeiro um historiador que trabalhou para a Comissão da Verdade estava de malas prontas para sair do país por conta das tramas do golpe militar que acabou em trapalhada e prisão de militares da ativa e da reserva. Ele conta que, se desse certo, o que aconteceu na fase negra da repressão na ditadura ia parecer conto de fadas.

8:14JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

Jair Bolsonaro vai terminar o ano como o melhor presente para a direita e para a esquerda no Brasil. Aos partidários porque até agora não foi preso. Aos adversários porque o general Braga Netto está engaiolado e a notícia esperada está muito próxima de ser anunciada.