7:59Zeila para português ler

por Célio Heitor Guimarães

Já lhes falei, aqui neste espaço, de Zeila Ribas Vianna. É uma escritora. Mais do que isso: uma excelente escritora, da escola de Érico Veríssimo. Descobri-a com algum atraso, em 2017, com Sempre… o mesmo vento”, edição de 2014.

Começa assim: “Na campina batida pelo vento, faltava pouco para o dia despontar. O frio era intenso e na madrugada, campo e céu se fundiam no horizonte a perder de vista. Sob a luz difusa, a vasta imensidão da paisagem tinha uma mesma tonalidade opalescente e os contornos mal definidos causavam uma sensação de irrealidade. Apenas as manchas escuras dos capões nas baixadas e as sombras vagas dos altos itaimbés podiam ser percebidas, indicando o rumo ao viajante solitário que avançava penosamente contra o vento”.

Apaixonei-me desde a primeira frase. Érico puro, como disse. Com uma vantagem sobre o autor gaúcho: o cenário é o Paraná, os Campos Gerais do Paraná.

Nesse cenário do século XIX, dominado pelo vento, sempre o mesmo vento, Zeila Ribas Vianna narra a saga de sua família, nascida da união dos Teixeira de Azevedo com os Gonçalves Guimarães. E ao contá-la, utilizando-se da forma “quase romance”, isto é, fatos e personagens reais romanceados, conta a história do Paraná, de pioneiros de visão e coragem, tropeiros e sertanistas que fizeram o caminho caminhando e semearam a civilização paranaense com muito suor, sangue e idealismo.

O estilo de Zeila é leve, solto e envolvente. O mesmo que utilizou, depois, em “Um lugar para voltar”, lançado em 2023, obra de ficção e personagens fictícios – como adverte a autora – mas com fatos que realmente aconteceram, abrangendo a cidade de Areal de Prata, que “pode ser qualquer pequena cidade dos campos meridionais do Brasil”. A história é toda contada pelos próprios personagens, “mulheres e homens ligados por laços de amor, sangue e amizade”, dos quais o leitor se aproxima e participa de suas experiências.

Agora, Zeila Ribas Vianna decidiu ultrapassar os campos gerais do Paraná e o próprio Brasil: no próximo sábado, 1º de junho, a partir das 17 horas, ela estará lançando, em Lisboa (Samambaia – Bar da Voz do Operário), a edição portuguesa de “Sempre o mesmo vento”, sob os auspícios da Editora Kotter.

O sucesso é certo, não apenas entre os brasileiros lá residentes, mas também dos lusitanos, tradicionalmente amantes de uma boa leitura. A lamentar, apenas, a ilustração da capa, que, embora bonita, não tem nada a ver com os campos gerais do Paraná. Espero que não tenham alterado o conteúdo.

Parabéns, Zeila. A cultura paranaense lhe agradece, à espera de novos títulos.

7:46Os danos de uma decisão

por Maria Hermínia Tavares

Se os templários da Lava Jato desmoralizaram o combate à corrupção, definitivamente não a inventaram

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), cravou mais um prego no caixão da Operação Lava Jato, ao anular todos os atos da turma de Curitiba contra Marcelo Odebrecht.

Em fevereiro último, Toffoli suspendera os pagamentos de multas que somavam bilhões de reais, estabelecidas pelo acordo de leniência firmado entre o Ministério Público e a empreiteira fundada pelo avô de Marcelo, Norberto Odebrecht.

Cinco meses antes, o mesmo Toffoli anulara as provas entregues pela Odebrecht (hoje rebatizada como Novonor). As evidências expunham a corrupção em 49 contratos firmados com órgãos públicos nacionais e em uma dúzia de países estrangeiros, nos quais a construtora reconheceu ter desembolsado US$ 788 milhões em propina.

Sempre haverá juristas a justificar os atos do ministro à luz dos tropeços legais do juiz Sérgio Moro e dos promotores liderados por Deltan Dallagnol. De fato, além de ineptos, serviram aos políticos e líderes civis decididos a abreviar a estada do PT no poder pelo impeachment de Dilma Rousseff – abrindo caminho para a extrema-direita na política. Deu em Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, em Moro e Dallagnol no Congresso.

Em resumo, se os templários da Lava Jato desmoralizaram o combate à corrupção, definitivamente não a inventaram. Da mesma forma, a intimidade nefasta – e igualmente lucrativa – entre empresas, partidos e agentes públicos antecede a era do PT, o qual, no governo, se adaptou alegremente ao arranjo.

De certa maneira, o recurso à corrupção é sempre instrumento ao alcance de todos quantos pretendam manipular as engrenagens da disputa pelo poder. Mas, nas democracias, se nem sempre é possível prevenir a roubalheira, há que combatê-la com realismo, leis bem-feitas e bem aplicadas. A inevitável exposição das falcatruas, graças à liberdade de informação e à vigilância interessada das oposições ao governo, ajuda a minar a confiança nos mandatários e nas regras que sustentam os sistemas representativos.

Em países onde renitentes desigualdades cavam abismos entre elites e povo, governantes e governados, a corrupção política, trazida à luz do dia – o mais eficaz detergente, como já se disse – alimenta paradoxalmente a descrença generalizada nos “de cima”, cevando a convicção de que são todos iguais e os seus crimes jamais serão punidos.

As decisões do ministro Toffoli, para alívio do Centrão e sob o velado aplauso de setores da esquerda democrática, só podem alimentar o discurso antissistema dos populismos de todos os feitios que, de tanto em tanto, desfiguram o jogo político brasileiro.

*Publicado na FSP

17:31O recurso do Zeca

Da assessoria de imprensa do deputado federal Zeca Dirceu 
Diretório Nacional do PT dará a palavra final sobre candidatura do partido na Capital.

Nesta quarta-feira (29), o deputado federal Zeca Dirceu (PT) apresentou formalmente recurso à decisão tomada pela Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, orientando a legenda a apoiar a candidatura de Luciano Ducci (PT) à Prefeitura de Curitiba. Por não ter atingido a maioria de 2/3 dos integrantes nessa instância partidária, conforme preconiza o estatuto do Partido, quem baterá o martelo sobre a questão será o Diretório Nacional do PT.

“O recurso é um direito que tenho, enquanto pré-candidato, e uma mensagem clara de que sigo lutando e não desisti de defender que tenhamos uma candidatura própria em Curitiba”, afirma Zeca. “Nada está definido e a palavra final será da direção nacional do PT”, diz o deputado petista. A opção por Ducci, inclusive, não atingiu quórum mínimo para avançar nem mesmo na direção municipal do PT de Curitiba, antes da discussão ir parar na instância nacional.

16:18O elo partido

de Otto Lara Resende

Subitamente, não sabia mais como se ata o nó da gravata. Era como se enfrentasse uma tarefa desconhecida, com que nunca tinha tido qualquer familiaridade. Recomeçou do princípio. Uma vez, outra vez — e nada. Suspirou com desânimo e olhou atento aquele pedaço de pano dependurado no seu pescoço. Vagarosamente, tentou dar a primeira volta — e de novo parou, o gesto sem seqüência. Viu-se no espelho, rugas e suor na testa: a mão esquerda era a direita, a mão direita era a esquerda.

— Vou descendo — anunciou a mulher, impaciente.

— Escuta — disse ele forçando o tom de brincadeira. — Como é que se dá mesmo nó em gravata?

— Engraçadinho — e a mulher saiu sem olhá-lo.

Quanto tempo durou aquela hesitação? Essa coisa familiar, corriqueira, cotidiana — dar o nó na gravata. Uns poucos segundos, um minuto, dois minutos ou mais? O tempo da ansiedade, não o do relógio. Não fazia calor, e nas costas das suas mãos começou a porejar um suor incômodo. Assim como surgiu, na mesma vertigem, passou: logo suas mãos inconscientes se organizaram e, independentes, sem comando, ataram a gravata e o puseram em condições de, irrepreensivelmente vestido, sair de casa. Ia a um jantar.

Estimulado pelo uísque, desejoso de atrair a atenção dos circunstantes, ocorreu-lhe, no meio da conversa, contar o pequeno incidente pitoresco:

— Agora mesmo, em casa. Ao me vestir. Esqueci como é que se dá o nó da gravata.

E antes que despertasse qualquer curiosidade, uma chave se torceu dentro dele. O fato insignificante deixou de ser engraçado. Uma aflição mordeu-o no íntimo. Como uma luz que se apaga. Uma advertência. Um sinal que anuncia, que espreita e ameaça.

— Essa é boa — curioso ou simplesmente gentil, um dos ouvintes procurou estimulá-lo.

Mas o ter esquecido como se dá o nó da gravata já não era apenas um incidente pitoresco. Disfarçou o próprio desconforto e, grave, interditado, sentiu a língua travada, como se esquecer como é que se ata a gravata fosse logicamente sucedido da incapacidade de contar.

Apenas um lapso, que pode acontecer com qualquer um. Tolice sem importância. E nem se lembrou mais, até que dias depois, achando graça, a mulher tirou-o da dificuldade: atou por ele a gravata desfeita na sua mão. Uma terceira vez ocorreu dois dias depois. “Estou ficando gagá”, pensou, entre divertido e irritado. Retirou-se do espelho e procurou com calma recuperar a inocência perdida. Pois era como ter perdido a inocência, de súbito autoconsciente.

Mas logo esqueceu e saiu para a rua, como todo dia. Pegou o carro e, autômato, foi até o edifício do escritório. Estava na fila do elevador, quando deu acordo de si. Era o terceiro da fila. Bem disposto, recém-banhado, cheirando à nova loção de barba, o estômago nutrido pelo recente café da manhã, olhava com magnanimidade o dia que o esperava, o mundo em torno. Pulsava nas suas veias sãs uma suculenta harmonia. Presente tranqüilo, futuro próspero. Confiava em si, confiava na vida.

Só o elevador demorava mais do que de costume, pequeno borrão na manhã alegre e amiga. Não fazia sentido aquela demora que, de repente, perturbou-o como um cisco no olho. Agarrado à pasta como se temesse perdê-la, verificou que o elevador continuava parado no sétimo andar, exatamente o do seu escritório. Queria não pensar em nada, apenas esperar como todo mundo, mas via com nitidez, como se estivesse de corpo presente no sétimo andar, um contínuo fardado a segurar a porta do elevador que se abria e se fechava por meio de uma célula fotoelétrica. Dois homens tentavam a custo enfiar dentro do carro uma mesa de escritório. Era a sua mesa, mas muito maior. Seus papéis pessoais, sua caneta, as gavetas devassadas.

Fechou os olhos, meio tonto, reabriu-os. A fila crescia, ninguém conhecido. Olhou a nuca do homem à sua frente: toutiço sólido, de cinqüentão próspero. Jurava que agora o elevador vinha descendo. Quis certificar-se e deu com a luzinha sempre acesa no sétimo andar. Outra vez, como se a tudo assistisse, viu o contínuo segurando a porta do elevador e dois homens de macacão tentando irritadamente encaixar lá dentro a mesa enorme. Na fila, ninguém dava mostra de impaciência. A rua ao sol lá fora — gente e carros passando — movimentava-se como todo dia. Pouco adiante, matinal, recém-florido, aparecia um trecho do jardim.

Mas o elevador continuava parado no sétimo andar. Retirou o lenço do bolso e, a pasta debaixo do braço, enxugou a fronte e o pescoço. Vinha-lhe de longe um desconforto a princípio moral — como se tivesse cometido uma falta grave que ali mesmo ia ser descoberta. Depois um mal-estar físico, como se tivesse perdido a carteira, alguma coisa que o diminuísse, uma vez desaparecida. Olhou o relógio de pulso, procurou conformar-se, esquecer que esperava. Há quanto tempo esperava o elevador? No sétimo andar, a mesa, a sua mesa, era grande demais para passar pelas portas que o contínuo continuava a imobilizar.

Dentro dele, um desejo minucioso de examinar-se. Como costumava fazer quando ia viajar. Arrumar a mala sem esquecer nada, um lenço sequer. Começava pela cabeça: pente, escova, loção. O aparelho de barba. As gravatas, as camisas, as cuecas. Peça por peça, ia passando tudo em revista. Mas naquele momento era como se tivesse esquecido qualquer coisa que não identificava. Que o condenava aos olhos da fila cada vez mais numerosa.

Quando a revisão a que se submetia chegou aos pés, ocorreu-lhe que tinha se esquecido de calçar as meias. Tentou sorrir da dúvida disparatada. E queria lembrar-se, ter certeza das suas meias, do momento em que as calçara. Recompunha cada detalhe de tudo que tinha feito desde o momento em que acordara. A barba, o banho de chuveiro, todos os atos, que, automáticos, inauguravam um novo dia, um homem novo. Usava habitualmente só meias cinzas, azuis e pretas.

De que cor eram, naquele momento, as suas meias? Um desejo ardente de esticar uma perna, depois a outra, arregaçar as calças e olhar, comprovar. Mas o medo irracional do ridículo, como se toda a fila acompanhasse a sua preocupação e esperasse apenas um gesto de sua parte para vaiá-lo. Sorriu sem sorrir, o sangue estremeceu pela altura do peito até o pescoço. Lá em cima, no sétimo andar, interminável, continuava a luta para meter a imensa mesa no elevador — e era como se estivesse presente, a tudo assistia.

A obsessão agarrou-o: de que cor eram as meias, de que cor? As suas meias, as que usava naquele exato momento. De que cor eram? Procurou se lembrar das circunstâncias com que em casa se vestiu, sua rotina, uma cadeia de gestos repetidos inconscientemente. Mas agora precisava lembrar-se: as meias? Tinha vontade de suspender a calça e olhar, mas se continha. Nada o denunciava, um cidadão como outro qualquer, um cavalheiro, impecável, à espera do elevador, que todavia não se deslocava do sétimo andar — a luzinha continuava acesa. E ninguém, na fila aumentando, se impacientava. Como se só a ele coubesse quebrar o silêncio. Todos o observavam.

Até que foi invadido pela certeza cruel de que usava meias vermelhas, um grito de sangue na sua indumentária azul. A gravata era azul, podia ver. A camisa era branca. O terno era azul. Mas as meias. As meias berrantemente vermelhas tornavam os seus pés alheios, episcopais. Estava de pé sobre pés estranhos, sapatos quem sabe de fivela e meias cardinalícias. Seriam rubras, eram, podiam ser? Continue lendo

15:32Café com vinagre

No dia 10 de junho a bancada federal do Paraná foi convidada para tomar o café da manhã com o presidente do Tribunal de Justiça do Paraná. Coisa fina e educada, mas nos corredores já se perguntam se a deputada federal Rosangela Moro estará presente.

15:12NELSON PADRELLA

ENQUANTO ISSO, NA ESQUINA DA MEMÓRIA…

Foi posta abaixo a casa onde morava o Governador Bento Munhoz da Rocha Neto.
Isso todo mundo já sabe. Talvez nem todo mundo saiba que estava acordado que aquele imóvel seria preservado.
Pois quem devia estar acordado dormiu no ponto, e o preservativo do imóvel deu xabu.
Curitiba é assin.

12:14O hino

O Gaiato da Boca Maldita acha que se por acaso o União Brasil do Ney Leprevost se bandear para o lado do candidato do Ratinho Junior e do Rafael Greca, todos vão cantar o hino nacional de trás pra frente.