8:02Navegante
de Helena Kolody
Navegou
no veleiro dos livros.
Desembarcou
e conferiu.
E o mundo que viu
não era o que imaginou.
7:53NELSON PADRELLA
Minha alma perdi num jogo de truco.
7:47A VIDA COMO ELA É
Em Curitiba, Seu Madruga do Uberaba – Foto de Valdeci Lizarte
7:39Ministro, pastor e titular do TSE
André Mendonça, ministro do Supremo Tribunal Federal, recebe hoje o título de cidadão honorário do Paraná na Assembleia Legislativa do Paraná. A cerimônia acontece às 18h. Será mais do que concorrida, mesmo porque ele agora é um dos titulares do Tribunal Superior Eleitoral. A proposta para a homenagem ao pastor evangélico é dos deputados Alexandre Curi e Alexandre Amaro.
7:33Menos 40%
Ao saber que, em três décadas, o real já valeu mais que o dólar mas já perdeu 40% do valor, o Gaiato da Boca Maldita nem te ligo – e pergunta: “Quanto é 40% de zero?”
7:25Idade
As pessoas só começam a esconder a idade quando já não é mais possível. (Millôr)
7:13Três raios
Do comentarista esportivo
Três jogos , três mancadas do Cuca em três substituições que desarticularam o time que estava bem. Entraram jogadores bem piores que os que saíram e sem ritmo de jogo. A leitura equivocada do técnico fez com que o raio caísse três vezes no mesmo lugar. Três empates e seis pontos perdidos infantilmente.
7:00A VIDA COMO ELA É
Foto de Ralf G. Stade
6:47Censura não é bagunça
por Lygia Maria, na FSP
Se o STF pretende manter sua cruzada contra liberdade de expressão, que ao menos aja como profissional
Como qualquer outro profissional, um censor tem obrigação de seguir princípios básicos para exercer com eficiência sua nobre função. O mínimo que se espera dele é que analise o material a ser mantido longe dos olhos e ouvidos da população.
Um censor que não vê o filme antes de vetá-lo é como um cozinheiro que não prova a comida que prepara.
Temos censores amadores no Brasil. Em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu a exibição de um documentário a que nenhum dos membros da Corte assistiu. Mediunidade? Telepatia? Nunca saberemos.
Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mandou tirar do ar reportagens —uma delas da Folha— sobre acusações de violência doméstica contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), feitas por sua ex-esposa, acatando assim o pedido da defesa do deputado.
O motivo alegado foi o de que a justiça já havia arquivado o caso em 2015 e que a continuidade da cobertura por veículos de comunicação representaria assédio a Lira.
O problema é que o magistrado da mais alta Corte do país esqueceu de avaliar o material que censurou. Assim revelou ao recuar e liberar os conteúdos: “As informações obtidas após a realização dos bloqueios determinados, entretanto, demonstram que algumas das URLs (…) são veiculações jornalísticas que já se encontravam veiculadas anteriormente, sem emissão de juízo de valor”.
Censura não é bagunça. Se o Supremo pretende manter sua cruzada contra a liberdade de expressão —em vigor desde que Moraes determinou que a revista Crusoé retirasse do ar uma reportagem sobre seu colega, o ministro Dias Toffoli, em 2019—, precisa dar o exemplo.
Seu modus operandi e suas decisões refletem nas comarcas pelo interior do país. Estamos às vésperas das eleições municipais. Logo, há pela frente muito material de campanha e produtos jornalísticos a serem interditados pelo bem da democracia. Se o povo deve ser tutelado, que seja ao menos por censores profissionais.
6:45SOLDA (Alceu Dispor)
8:32Pedras e afagos
Perguntar para ofender: dos pré-candidatos a prefeito de Curitiba quem vai ganhar afagos e abraços depois de atirar pedras e tirar o time de campo?
8:21A banalização da mediocridade
por Tostão
O futebol brasileiro patina, na organização e na gestão dos clubes e das federações. Dentro de campo, há um grande numero de ótimos jogadores e alguns excelentes treinadores, mas precisamos evoluir na qualidade individual e coletiva para aumentar as chances de ganhar a Copa do Mundo.
É necessário melhorar bastante a produtividade, um problema nacional, da sociedade. Como mostrou a Folha, pesquisa feita entre 2010 e 2023 revelou que a produtividade do brasileiro é um quarto da dos americanos, o que prejudica o desenvolvimento.
Precisamos aprender. Infelizmente, neste mundo radicalizado, binário, em que é “isso ou aquilo”, as pessoas não escutam nem enxergam o outro. É a banalização da mediocridade.
8:08A VIDA COMO ELA É
No quintal da Dona Zefa – Foto de Ricardo Silva
8:01JORNAL DO CÍNICO
Do Filósofo do Centro Cínico
Se alguém perguntar sobre Eduardo Requião para o candidato Roberto Requião ele pode dizer que é apenas um irmão distante.
7:46Estabilidade
Brasil – o mais antigo país do futuro em todo o mundo. (Millôr)
7:44O do Mobiliza
O que disse Roberto Requião, pré-candidato a prefeito de Curitiba pelo Mobiliza: “Você não quer saber mais de governos que trabalham com negociatas, com picaretagem e corrupção”. Então, tá.
7:39A VIDA COMO ELA É
Em Antonina (PR) – Foto de José Suassuna
7:33A Cesarino o que é de Cesarino
por Antonio Prata, na FSP
Para além do consultório, atuava como uma espécie de médico do velho oeste, sempre disponível para quem quer que fosse
De boas intenções o inferno está cheio. De inteligência a Terra também. Zuckerberg é inteligente. Putin, muitíssimo. Duas bestas. A inteligência não é uma virtude. Virtude é saber usá-la pra viver uma vida plena, verdadeira, “sem tempos mortos”, como desejou Simone de Beauvoir e desejando o mesmo para os outros. Acho que o nome disso é sabedoria.
A pessoa mais sábia que eu conheci chamava-se Antonio Carlos Cesarino. Era o pai do Dinho, meu melhor amigo dos 14 aos 20, meu irmão pra vida toda. Durante a adolescência tive o privilégio de conviver com o Dinho, a queridíssima Ana, sua mãe, com as encantadoras Julia e Gabriela, suas irmãs, e, claro, com o Cesarino.
Comecei admirando a sabedoria do Cesarino na forma com que ele tratava o corpo (ou a mente?). Era um cara parrudo, fazia exercício, até uns 70 ainda corria. Mas também tomava suas cachaças e fumava um cigarro ou outro no fim de semana. Fumar socialmente é, para mim, o suprassumo do autocontrole. Coisa de mestre zen.
Cesarino era médico, psiquiatra, psicanalista, foi analisando do Lacan, introdutor do psicodrama no Brasil, atuante na luta antimanicomial.
Dizem que na ditadura, trabalhando no HC, ajudou mais de um preso político, baleado ou torturado, a escapar pela janela. Décadas depois, numa escala (e escalada) menos heroica, mas não menos importante, ajudou muita gente alquebrada pelos tiros ou torturas da vida a encontrar saídas através do seu divã.
Para além do consultório, Cesarino atuava como uma espécie de médico do velho oeste, sempre disponível para receber quem quer que fosse para conversar, orientar, indicar outros profissionais.
Uma dessas conversas foi decisiva na minha vida. Eu tinha uns 17 anos. Meu pai havia cismado que minhas atitudes típicas de adolescente eram inequívocos sinais de um adulto incompetente, incompleto, um caso perdido. Perdido, não, pois para ele havia uma última esperança: que eu pegasse exército e “me tornasse homem”. (Hoje o perdoo, entendendo que surtos reacionários são típicos da “envelhescência”, termo que ele mesmo cunhou, numa crônica pro Estadão).
Fui, angustiado, conversar com o Cesarino, acreditando mais no que meu pai dizia do que no que a minha parca autoestima de 17 conseguia sustentar. Comecei a falar de forma confusa que “eu estava perdido”, “sem rumo”, não estava “dando certo”. Cesarino, num generoso ceticismo, pediu um dado mais concreto. Revelei, envergonhado, uma das principais acusações que recaíam sobre mim, prova definitiva da minha inadequação à vida em sociedade: eu acordava tarde.
“Eu tenho uma hipótese de porque você acorda tarde”. Encarei-o aflito, esperando que toda aquela bagagem vinda de Hipócrates a Freud, de Lacan à USP, dos orixás à Sorbonne revelasse uma “depressão”, “síndrome do pânico”, “sociopatia” ou coisa pior. Então, com um sorriso sério que não debochava do meu sofrimento nem o recebia como bem-vindo na sala, sugeriu: “aposto que você acorda tarde porque dorme tarde, acertei?”.
O céu escuro se abriu sobre Perdizes e um feixe de luz entrou pelo telhado. Eu não era um caso perdido. Eu não estava fadado ao fracasso. Eu acordava tarde porque eu dormia tarde! (Parece óbvio — e é. Nenhum sofrimento é muito original, visto de fora. Mas pra ajudar quem tá dentro, só um sábio, feito o Cesarino).
Nem sempre faz sol sobre o meu telhado, mas tenho dois filhos, trabalho, pago as contas, corro e tomo as minhas cachaças. Continuo acordando tarde, verdade, mas hoje com menos culpa, depois da longa jornada para a qual, faz três décadas, o Cesarino me despertou.
18:00JAMIL SNEGE
Quando menino, nascido
serra acima, o que
mais eu desejava era o mar.
Eu queria apenas o mar
a mais nada – para nele
desfraldar meus
sonhos marinheiros.
Fui crescendo e ampliando
meus desejos.
Uma casa junto ao mar,
um barco a motor, festas,
empregados, piscina.
Obtive tudo isso, Senhor.
Mas aí então o mar dentro de
mim já havia secado