15:11José Hamilton Ribeiro tem saga no Vietnã editada com outras grandes reportagens

por Fabio Victor, na FSP

‘O Gosto da Guerra’, em que detalha acidente que destroçou sua perna, passa a integrar coleção célebre de Jornalismo Literário

Integrantes da Companhia Delta do 8º batalhão da 1ª Divisão de Cavalaria Aeromóvel do Exército dos Estados Unidos faziam uma varredura de minas na Estrada sem Alegria, em Quang Tri, próxima à fronteira entre os então Vietnã do Sul e Vietnã do Norte.

Era 20 de março de 1968, e os EUA começavam a se atolar na Guerra do Vietnã. Semanas antes, o Vietnã do Norte e o movimento guerrilheiro vietcongue tinham detonado a Ofensiva do Tet, um ataque em massa sobre o Vietnã do Sul, aliado dos EUA, que expôs a debilidade da maior potência militar do mundo e ajudou a minar gradativamente o apoio da população americana ao conflito.

A coluna caminhava em forma de pirâmide. Soldados iam na vanguarda, dois a dois; no meio, operadores de rádio e o comando. Integravam a companhia dois jornalistas: o brasileiro José Hamilton Ribeiro, repórter da revista Realidade que no dia seguinte deixaria o Vietnã, e o fotografo japonês Keisaburo Shimamoto, seu companheiro de cobertura.

“Quase no vértice da pirâmide iam os enfermeiros, o capelão, Shima e eu. Henry, um soldado de origem mexicana, caminhava na minha frente. Sua missão era manter‑se informado sobre cada passo da operação, e proteger‑me”, descreve Zé Hamilton, como Ribeiro é mais conhecido. “Eu seguia a mais ou menos três metros dele e pisava exatamente no lugar onde ele pisava, reforçando com a minha a sua pegada. Eu caminhava, pois, com bastante segurança.”

A paisagem bucólica reforçava uma estranha sensação de tranquilidade. “Passávamos agora por uma plantação de batata‑doce. Os canteiros separados uns dos outros por regos desviados de um regato estavam viçosos e bem tratados. Matinhos arrancados à mão e o fio de água corrigido aqui e ali de alguma obstrução natural indicavam que havia questão de minutos, naquela manhã, um lavrador estivera ali.”

Poucos metros adiante, a explosão de uma mina destroçou a perna esquerda de Zé Hamilton e provocou ferimentos por todo o seu corpo. A história é conhecida, bem como o protagonista, um dos grandes jornalistas brasileiros da segunda metade do século 20 e do início do século 21.

O título passa a integrar a coleção Jornalismo Literário da Companhia das Letras, coordenada por Matinas Suzuki Jr, que reúne clássicos do gênero como “A Sangue Frio”, de Truman Capote, “Filme”, de Lillian Ross, “O Imperador”, de Ryszard Kapuscinski, e “A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista”, de Joel Silveira, entre outros.

Continue lendo

14:55JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

A tumultuada saída de Cuca do Atlético Paranaense não foi devidamente esclarecida. O branco que dava nos jogadores nos acréscimos e tome-lhe gol era porque eles ficavam imaginando ter de encontrar o treinador com aquela cabeleira despenteada no vestiário e perdiam a concentração.

14:19Lupion presidente?

Pode ser tudo. O deputado federal Pedro Lupion, que preside a Frente Parlamentar Agropecuária, já é um dos nomes citados para substituir Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados. O caminho é difícil, mas do jeito que anda o Legislativo, o próprio Lira,  que tem apoio dos agros, pode se entusiasmar.

10:54Greg Mariano

algo espetacular
está acontecendo ao vivo
na minha rede social:

um cara e uma mulher dançando.

Dancem.
Dancem pra mim.
dancem até o pezinho sangrar.
dancem até vocês serem
consumidos por uma enorme
massa de calos.

dancem num triciclo
como um ursinho no circo

me mostrem as novas coreografias
enquanto eu estou esperando o onibus
com a virilha coçando, porém não posso coçar
porque tem muitos transeuntes perto

e aí eu penso
“realisticamente
eu conseguiria coçar minha virilha
tomaria tipo 2 segundos
e ninguém notaria”

eles notariam, não?
e te achariam meio babaca e nojento.

Dancem!

10:22Quebra-cabeça na bagagem

O governador Ratinho Junior viaja amanhã para os Estados Unidos em férias, mas na bagagem leva um quebra-cabeça com peças que ainda faltam ser encaixadas para o projeto de fazer Eduardo Pimentel prefeito de Curitiba – se possível vencendo no primeiro turno. Isso seria perfeito para o seu projeto pessoal de se candidatar à presidência. Simples assim.

9:19Regina Duarte na Alep

A atriz Regina Duarte estava na Assembleia Legislativa ontem durante a homenagem ao ministro André Mendonça. Veio prestigiar o evento. Foi aplaudida quando anunciaram seu nome, bolsonarista que é desde a primeira hora e que comandou a secretaria especial de Cultura no governo anterior. Ao lado de pastores evangélicos, o sorriso continua o mesmo, mas ninguém a chamou de namoradinha do Brasil.

 

8:42Lula terá a coragem de ser responsável?

por Joel Pinheiro da Fonseca, na FSP

Qualquer alta da receita é neutralizada por aumento de gastos obrigatório

Nenhuma regra, por si só, garante seu próprio cumprimento: se governo e Congresso quiserem, ela será violada. Vimos isso com as sucessivas violações do teto de gastos e agora com o novo arcabouço. Quando o tema é gasto público (ou isenção tributária, o que dá no mesmo), Lula e a maioria dos deputados e senadores estão juntos: querem sempre mais. Sem vontade política, as regras são só palavras mortas num papel.

No momento, quem pressiona por algum tipo de responsabilidade fiscal são o ministro da Fazenda, a ministra do Planejamento e os sinais preocupantes que vêm do mercado. Lembrando que responsabilidade fiscal não significa nenhum tipo de austericídio caricato, mas simplesmente que o aumento de despesas se dê de forma controlada, sem que a relação dívida/PIB cresça de maneira explosiva.

A situação do Brasil é complexa. Precisamos, ao mesmo tempo, de proteção social, ajuste fiscal e crescimento econômico. No longo prazo, esses fins se reforçam. O objetivo é o bem-estar da população, especialmente dos mais vulneráveis. Para atingi-lo, o Brasil ainda precisa crescer o PIB para se tornar um país desenvolvido. E, para isso, o Estado brasileiro não pode deixar os gastos saírem do controle. Sem ajuste fiscal, inflação e dólar disparam, juros têm que subir, o crescimento desanda, o desemprego cresce, os indicadores sociais pioram.

No presente, contudo, esses três objetivos impõem limites um ao outro. A necessidade de crescer —levando em conta nossa carga tributária já alta— significa que o ajuste não poderá vir apenas da receita; o Estado precisará cortar gastos. Ao mesmo tempo, dado o compromisso social do Estado, o corte de gastos não pode ser feito às custas da base da pirâmide. É preciso identificar privilegiados e passar a conta para eles.

Existem alguns grupos privilegiados óbvios, como juízes e militares. Cortar seus privilégios nem deveria levantar polêmica. Nosso Judiciário custa 1,6% do PIB anualmente. A média de países emergentes é 0,5% ao ano, ou seja, um terço do nosso. Com os militares, o caso é igualmente gritante: o déficit anual da previdência dos militares foi de R$ 49,7 bi em 2023. Em termos per capita, o déficit anual do militar aposentado é de R$ 158,8 mil. O dos demais funcionários públicos, R$ 68,8 mil.

Do lado da arrecadação, vivemos uma situação disfuncional, na qual qualquer aumento de receita é neutralizado por aumento de gastos obrigatório. O governo arrecada mais, mas ao fazer isso é obrigado a gastar mais também. Na mesma linha, uma série de benefícios são atrelados ao salário mínimo, o que significa que qualquer aumento nele gera custos proibitivos ao governo. No cálculo do economista Marcos Mendes, se os gastos públicos fossem vinculados apenas à inflação, e não ao aumento do salário mínimo ou aumento de receitas, o Estado brasileiro teria uma redução de R$ 131,6 bi em despesas em 2024.

O Estado brasileiro precisa ter a capacidade de escolher onde e quanto gastar. Sem isso, os aumentos obrigatórios de gasto se transformam em mais renda para o funcionalismo e para aposentados, sem benefício à população. Mudar isso não será possível sem comprar brigas difíceis. Na falta delas, sobrará o contigenciamento de gastos, que acaba prejudicando sempre o elo mais fraco, que depende do serviço público. Ou, então, a volta da inflação e da recessão. O caminho a seguir é claro, mas exige uma coragem que o governo até agora não mostrou.

8:15O cascudo de Petraglia no Cuca

Para quem não leu, segue o desabafo de ontem de Mario Celso Petraglia, presidente do Atlético Paranaense, pela atitude do técnico Cuca ao deixar o comando do time depois do empate contra o Corinthians. De cara ele chama o treinador de mau caráter. O resto do texto é daí pra frente. Confira: Continue lendo

16:26A borra

de Manoel de Barros

Prefiro as palavras obscuras que moram nos
fundos de uma cozinha — tipo borra, latas, cisco
Do que as palavras que moram nos sodalícios —
tipo excelência, conspícuo, majestade.
Também os meus alter egos são todos borra,
ciscos, pobres-diabos
Que poderiam morar nos fundos de uma cozinha
— tipo Bola Sete, Mário Pega Sapo, Maria Pelego
Preto etc.
Todos bêbedos ou bocós.
E todos condizentes com andrajos.
Um dia alguém me sugeriu que adotasse um
alter ego respeitável — tipo um príncipe, um
almirante, um senador.
Eu perguntei:
Mas quem ficará com os meus abismos se os
pobres-diabos não ficarem?