7:48O pai (dos burros) tá on!

por Carlos Castelo

As pessoas são tão difíceis de se amar; já os dicionários, por outro lado, são facílimos. Por isso, vivo com eles em lua de mel. Tudo começou com um antiquíssimo dicionário do vovô, herdado pelo meu pai. Só me lembro que se chamava Diccionario Prático Illustrado da Língua Portuguesa. O interessante foi que gostei mais das capitulares góticas de cada entrada e das ilustrações do que das palavras em si. Normal, eu era um pivetezinho de oito, nove anos. Só bem mais tarde entendi o real valor daqueles livrões. Então, passei a colecioná-los. Diferentemente do vetusto Diccionario, esses tenho comigo até hoje. São obras tradicionais, de rimas, de aforismos, de palavrões, de Pessoa, Machado. Um dos meus favoritos é dos pouquíssimos dedicados ao humor e sarcasmo: o Dicionário do Diabo, do norte-americano Ambrose Bierce (apelidado de Ambrose Bitter por razões óbvias).
O meu amor pelos léxicos foi crescendo tanto que terminei por escrever o meu próprio glossário: Dicionaro, o dicionário de Bolso. Na chave humorística, como quase tudo que invento, mas ainda assim um autêntico pai dos burros. E bota burro nisso.
No momento, estou envolvido em mais dois projetos ligados aos desmancha-dúvidas. O primeiro é uma grande compilação de frases de humor universal; o segundo, a continuação da escrita do Dicionário Castelo da Língua Portuguesa, um livro com verbetes totalmente voltados à mofa.
Agora, imaginem um cidadão tão ligado em palavras e seus múltiplos significados se encontrar, por um desses acasos da vida, com Mauro Villar, coautor do Dicionário Houaiss. Pois foi o que se deu comigo recentemente por intermédio de Rodrigo Villar, seu filho.
Na qualidade de redator publicitário, dei algumas ideias ao Instituto Antônio Houaiss no sentido de aumentar a influência de sua versão online. Sim, leitor, os dicionários de agora andam no interior de celulares, tablets e computadores. Foi assim que criamos perfis em redes sociais, apps, campanhas right sizing, Google Searches e coisa e loisa, a fim de comunicar a novidade. Tudo foi se azeitando e chegou o momento de rebatizar o livro. Sugeri a denominação Houaiss On. Foi aprovado por unanimidade e já ando por aí dizendo que fui o São João Batista do mais completo dicionário da língua portuguesa. Como perceberam, não estou me aguentando. Precisei até escrever esta crônica a fim de compartilhar a alegria por tão grande privilégio.
O novo nome foi acompanhado de um redesigncompleto da marca Houaiss. Você já pode vê-la, em todas as suas versões, pela internet. Para encerrar meu cabotino relato, termino com duas definições de felicidade: uma do Houaiss, outra do Dicionário do Diabo. O final em aberto permite ao leitor eleger a que melhor lhe convier no momento.
HOUAISS
substantivo feminino
  1. qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar
  2. boa fortuna; sorte ‹para sua f., o ônibus atrasou, e ele pôde viajar›
  3. bom êxito; acerto, sucesso ‹f. na escolha de uma profissão›
DICIONÁRIO DO DIABO
(happiness), s.f.
Sensação agradável que surge ao contemplar a desgraça de outrem.
(Publicado no Rascunho)

7:46O retorno

Ratinho Junior retorna das férias na segunda-feira. A calmaria deste mês de ausência deve se transformar numa usina de conversas para deixar o caminho pronto para o resultado da eleição de outubro que interessa ao governador. A conferir.

7:18Caindo no real

por Ruy Castro, na FSP

Pelo dinheiro pré-real, 20 qualquer coisa não queria dizer nada. Só pensávamos em milhares

O festival de reportagens sobre os 30 anos do Plano Real não apenas fez justiça a uma medida que tirou o Brasil do buraco como serviu para que eu dirimisse uma dúvida que me perseguia desde a sua implantação. No dia em que ele foi lançado, uma nota de 1 real comprava 1 litro de leite, 1 kg de açúcar ou uma dúzia de ovos. Com 50 centavos de real, pagava-se uma passagem de ônibus ou 1 litro de gasolina. Era formidável. Nos governos anteriores, a inflação era tal que um deles lançou uma moeda de 500 mil cruzeiros. Como era possível que 500 mil unidades da moeda nacional coubessem num bolsinho?

Mas nem todos fomos tão rápidos para fazer a transição entre o absurdo dinheiro antigo e o que acabava de chegar. E calhou que, por aqueles dias, batesse à minha porta um vendedor de vassouras e espanadores. Ora, por acaso eu estava precisando de um espanador o —que eu usava há anos para espanar o teclado do computador estava reduzido à última pena. Era então ou nunca. Pedi-lhe um espanador e perguntei quanto.

O vendedor hesitou, como quem tinha de fazer uma súbita avaliação, e disse: “20 reais”. Sem discutir, dei-lhe uma nota desse valor —acabara de voltar do banco— e me tornei o feliz proprietário de um robusto espanador.

Pelos anos seguintes, vivemos em grande harmonia, eu e o espanador. Ele cumpria sua função de espanar o meu teclado e eu cuidava de que ele não ficasse prematuramente careca. Envelhecemos juntos, até que o aposentei com honras. Mas algo me intrigava: ele deveria ter custado 20 reais?

Acontece que, no dinheiro antigo, 20 qualquer coisa não queria dizer nada —só pensávamos em termos de milhares. E sou ruim de contas porque passei as aulas de aritmética admirando as pernas da professora. Hoje, depois de ler as matérias, descubro que, em 1994, 20 reais valiam pelo menos 40 espanadores. Mas tudo bem —eu só precisava de um, mesmo.

17:38Shelley Duvall, adeus

por Inácio Araújo, na FSP

Shelley Duvall, musa de Altman, ajudou a mudar Hollywood nos anos 1970

Trabalho contínuo com o americano, que lhe rendeu um prêmio por ‘Três Mulheres’, contrastou com a tortura de Stanley Kubrick

Shelley Duvall morava em Houston, Texas, preparava-se para o casamento, quando, numa festa que deu em homenagem ao noivo, conheceu algumas pessoas da equipe de Robert Altman, que naquele momento filmava “Voar É com os Pássaros”, de 1970.

Altman impressionou-se com ela e, de imediato, lhe pediu para fazer um teste de câmera. Ela relutou. Teria de ir a Los Angeles, ela, que nunca havia até então saído do Texas. No fim, topou, pensou que talvez fosse, de fato, uma atriz.

Altman lhe deu um dos principais papeis do filme e o resto é o que se sabe. Casou-se com Bernard Sampson, ficou quatro anos com o primeiro marido. Mas sua vida mudou: ela tornou-se uma das mais importantes atrizes da geração que transformaria Hollywood naquela década de 1970.

Seu rosto tem a particularidade de torná-la reconhecível tão logo a vemos —longo, magro, com olhos grandes e expressivos. Mas não é só isso que a torna especial. Não segundo Altman, pelo menos. Para ele, Shelley era capaz de explorar “todos os lados do pêndulo: charmosa, boba, sofisticada, patética e até mesmo bonita”.

Com efeito, trabalhando com Altman (o que fez continuamente) ou não, Shelley Duvall foi capaz de compor personagens distantes umas das outras. Com isso, chegou a ganhar um prêmio de melhor atriz em Cannes por “Três Mulheres”, de Altman, em 1977.

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16:34ETs e Marina

De um amigo do blog:

Programa sobre extraterrestres do canal History garante que os ets estão nos visitando para alertar os seres humanos que eles estão destruindo a Terra. Ou seja, eles cruzam o cosmo pra dizer aquilo que até a Marina Silva, que é mais devagar, já sabe.

15:20ticiana vasconcelos silva

Poema história

Dentre as estrelas
Um ribeirinho
Cantou a primeira
Canção
Com o coração
Cheio de poeiras
Se encantou
Com a imensidão
De seus sonhos
E o tristonho
Cancioneiro
Ouviu sua voz
Tão sutil e veloz
Na melodia
Do meio-dia
Uniram-se inteiros
E o viveiro
Cheio de orvalhos
Se viu calado
E extasiado
Mais um abalo
N’alma dos presentes
E quem sente
Sabe que o silente
Trovador é o detentor
Das palavras mais primitivas
Com as rimas
Em cima
Dos mistérios
Ambos se completam
Como um rio
E sua fonte
E defronte o horizonte
Cantam: a ponte
Vai levar
Para perto o mar
Neste viajar longe
E os estonteantes
Lagos
Serão primados
Com os azuis alados
E as estradas
Levarão aos sagrados
E ritmados firmamentos
Cantando e chorando
Rindo e criando
Linhas místicas
Nesta rítmica
Idealização da ilusão
E como não são
Irmãos
Vão falar:
Nosso olhar
Vai molhar a terra
E fazer chorar
O céu