7:26JORNAL DO CÍNICO

Do Filósofo do Centro Cínico

Janja não tem credencial para assistir a abertura das Olimpíadas da França. Lula tem, mas não vai. Problema internacional. O Itamaraty todo mobilizado. Se não conseguirem, pelo menos uma suíte presidencial com vista para o Sena será providenciada – e um binóculo.

7:10Se o assassinato de Trump fosse bem-sucedido a democracia seria salva?

por Joel Pinheiro da Fonseca, na FSP

Mesmo se ex-presidente morresse, os valores democráticos estariam mortos de maneira mais profunda

Reagan venceu de lavada a eleição de 1984, depois de ser alvo de um atentado. Bolsonaro, lembramos bem, venceu com folga em 2018. Já eram favoritos, e o atentado contra suas vidas apenas selou a vitória. Com Trump, deve ocorrer o mesmo.

O alvo de uma tentativa de assassinato fracassada sai mais forte do que entrou. “O médico no hospital disse que nunca vira algo assim, ele chamou de milagre.” Como se opor à vontade de Deus? Seu exemplo de sacrifício inspirará os apoiadores. Já a oposição terá que maneirar em suas críticas para não parecer desumana. Para completar, sua reação vigorosa no momento do atentado contrasta com a fragilidade de Biden.

Mas eu já vejo o pensamento malicioso se esgueirando em muitas mentes: “se ao menos Thomas Crooks não tivesse errado a mira…”. O atentado fracassado realmente fortalece o alvo; mas o assassinato bem-sucedido é diferente. Afinal, Trump é uma ameaça à democracia; se ele saísse de cena, a ameaça cessaria com ele.

Provavelmente era isso que pensavam os senadores romanos que assassinaram Júlio César em 44 a.C. Sua morte pareceu uma vitória ao partido senatorial. Mas a alegria durou pouco. Em poucos anos o poder estava de volta com os partidários de César —tinham a simpatia do povo e dos soldados—, e logo o imperador Augusto enterrou de vez qualquer esperança republicana.

A história se repete. Lincoln e Kennedy nos Estados Unidos (1865 e 1963), Indira Gandhi na Índia (1984), Benazir Bhutto no Paquistão (2007). Em todos esses casos, o assassinato do líder acabou fortalecendo seu movimento —além de gerar um mártir com forte poder de mobilização—, e seu sucessor chegou à vitória. No Brasil, a vereadora Marielle Franco também foi elevada à condição de mártir e segue inspirando movimentos bem-sucedidos.

Por mais talentosos que sejam, aqueles que chegam ao poder também souberam surfar ondas maiores do que eles, e que podem ser aproveitadas por quem os suceder. A morte de Trump não selaria o fim da direita populista nos EUA. Se ele morrer, uma liderança como J.D. Vance, agora oficializado como vice, estaria muito bem colocado para herdar seu movimento e talvez fazer ainda mais estragos. Estrategicamente falando, mesmo o atentado que dá certo costuma dar errado.

Mas e se desse certo? Até aqui, estamos com um pensamento puramente estratégico, cego ao campo dos valores. E essa cegueira é ela própria destrutiva da democracia que em tese se quer proteger. Quem melhor sintetizou o que está em jogo foi, vejam só, Lula. “Ao invés de ficarmos debatendo quem ganha, o que temos que ter certeza é que a democracia perde. Os valores do diálogo, do argumento, de sentarem em uma mesa de forma diplomática e buscar soluções para os problemas, vai indo pelo ralo.”

Trump é mais sintoma do que causa da ameaça à democracia americana. Ele chega ao poder porque os pilares da democracia liberal já estão abalados no coração dos eleitores. A real campanha já está sendo perdida nas almas. Esse é o real desafio, um desafio mais profundo que o ciclo eleitoral e que nenhum assassinato resolveria. Pelo contrário, só pioraria.

Vencer Trump é importante para que os EUA tenham eleições limpas e justas e liberdades individuais protegidas pelas próximas gerações, para que ele não seja um lugar em que a violência decide os rumos do país. Assim, mesmo que a morte de Trump acabasse com a direita populista e desse a vitória aos Democratas, “salvando a democracia”, a própria democracia estaria morta de maneira mais profunda. Sem os valores que a embasam, ela não difere de qualquer ditadura.

17:27Fazer as pessoas rirem e se sentirem felizes

de Rubem Fonseca

Não gosto que saibam o que eu faço. Mesmo trabalhando disfarçado, morro de medo de que um dia alguém me veja na rua e grite “é ele, é ele”.

Não sei fazer mais nada e isso que eu faço aprendi com o meu pai. Ele morreu. Mas algum tempo antes de morrer ele ficou louco. Mesmo assim continuou trabalhando e ninguém percebia. Ele entrava no meu quarto e perguntava “quem é você?”.

Eu o vestia para ele ir trabalhar. Nós íamos juntos, trabalhávamos no mesmo lugar. Ele trabalhou destrambelhado mais de um ano. Eu dizia “vamos”, e ele me seguia como um sonâmbulo.

Eu vestia a roupa nele, colocava o nariz, pintava onde tinha que pintar, pensativo, mas não sei o que ele pensava, ou se pensava, quem é que sabe o que se passa na cabeça de um maluco?

Mas assim que entrava no picadeiro ele olhava as arquibancadas e mesmo se elas estivessem vazias despertava e logo começava a realizar as palhaçadas em que era um mestre.

Um filósofo ou alguém parecido com um filósofo disse que o trabalho tudo vence, e eu acredito nisso, que o trabalho faz bem, principalmente se você é maluco.

Ele estava muito gordo, é bom o palhaço ser gordo, o gordo é engraçado, o magro causa tristeza. Mas ele não morreu da cabeça. Morreu do coração. Maluco não morre, a cabeça é forte. Está tudo na cabeça, até a nossa alma. O coração é fraco.

Passei a usar as coisas dele no trabalho. As calças, o camisolão, os suspensórios, os sapatos. O nariz não, o nariz eu usava o meu mesmo.

O meu era mais novo, mais vermelho, mais redondo. Meu pai quando eu comecei dizia: “Nós temos que ser líricos, sabe o que é lírico, ópera lírica? A cantora da ópera é sempre uma gorda, canta coisas sentimentais, entendeu?

É isso que nós temos que ser, líricos, e além disso bobos, e engraçados, mas não somos engraçados como os anões, os nanicos são anormais, nem somos iguais à mulher barbada, nós somos cômicos, fazemos as pessoas rirem e se sentirem felizes.”

Que pessoas? Cada vez vinha menos gente assistir ao espetáculo. Parece que isso acontece no mundo inteiro, as pessoas veem o circo pela televisão.

Eu me lembro de quando era pequeno e meu pai me levou para ver um circo alemão chamado Sarrasani. A arquibancada estava lotada e isso acontecia todos os dias.

O circo tinha um domador de elefantes, um domador de leão, muitos bichos, creio que até um urso, mulheres quase nuas que ficavam em pé sobre cavalos que corriam, um sujeito que engolia fogo, malabaristas de todos os tipos, equilibristas, coisas incríveis.

Lembro que meu pai apontou para um dos palhaços e disse “eu sou melhor do que esse cara”.

Meu pai era bom, mas foi ficando velho e costumava dizer “os velhos sabem mas não podem, os jovens podem mas não sabem”.

Ele já não conseguia fazer certos movimentos que nós palhaços temos que fazer, e foi ficando triste, palhaço finge que é triste, mas não pode ser triste.

No circo em que eu trabalhava o único animal que se exibia era um cachorro que andava nas duas patinhas de trás, só isso; tinha um casal que fazia acrobacias, um mágico, um anão corcunda e dois palhaços, eu e o meu pai.

O circo era armado nos subúrbios mais pobres da cidade e as arquibancadas ficavam vazias, cada vez mais vazias. Todo mundo tem televisão em casa, até os pés-rapados.

Então um dia cheguei em casa e a minha mulher tinha ido embora.

Deixou um bilhete, a letra dela era horrível, mas deu para ler qualquer coisa como estar indo embora, aproveitar a carona de um amigo, ir para bem longe.

Meu pai contava que antigamente ele gritava no circo:

“O palhaço o que é?”

E todos respondiam gritando:

“É ladrão de muié.” Era assim que eles gritavam, muié em vez de mulher.

Minha mulher me deixou, o circo fechou, não consegui lugar de palhaço em nenhum outro lugar.

Eu não era um palhaço muito bom, não era engraçado como o meu pai, que até maluco fazia as pessoas rirem. Na verdade o circo tinha acabado, ou tinha ido para a televisão.

Eu precisava arranjar um trabalho, senão ia morrer de fome. Felizmente arranjei um emprego de porteiro noturno.

Era um prédio pequeno, habitado só por gente velha. Eu podia dormir a noite toda, deitado num colchonete que levava dobrado numa saca. Era um emprego bom e os velhotes e as velhotas gostavam de mim.

Engraçado, tem mais mulher velha que homem velho. Por que será?

15:16Enquanto isso, no Congresso…

O site Repórter Brasil informa que a maioria dos deputados federais que votaram pra prender meninas vítimas de estupro que abortam depois de 22 semanas, também assinaram projeto de lei que libera agrotóxicos que, entre outras coisas, causam ou provocam aborto.

15:11VOU PEGAR O METRÔ

Letra inédita de Adoniran Barbosa

Agora você não pode mais reclamar
Agora você não pode mais inventar
Agora você não vai encontrar mais razão
Pra mentir pro seu patrão
Que ontem faltou porque perdeu a condução
Porque o trem mudou de horário
Porque o trem atrasou
Tem metrô a toda hora
Tem um atrás do outro, Nicanor
Tem até com integração
Arranje outra desculpa
Essa é de mau pagador
Você que mora lá no Jabaquara
Não pode mais ficar enchendo a cara
No armazém do seu Tomé
Chegar em casa tarde
Culpando a condução
Você que mora lá na Vila Mariana
E tem uma namorada em Santana
Pode ficar à vontade, sem preocupação
Pode ficar um pouquinho mais
E você malandro que vive reclamando
Que tem que andar a pé um quarteirão
Pra pegar condução
Eu vou falar com a engenharia
Da companhia pra fazer uma estação
Bem em frente ao seu portão
Vou pegar o metrô

14:32NELSON PADRELLA

Todos os meus deuses – e eram tantos – não querem saber de mim. Ficaram uns semideuses, todos muito na deles. Andam pelados entre as capivaras do Parque Barigüí, se exibindo. Sobraram os anjinhos que é só asa e cabeça, não sei se já viram. E tem um anjo, físico avantajado, cabelo encaracolado, uma graça. Mas um pastor aí já pegou pra criar. Vou dar um passeio pelo Hades, vamos ver se o diabo me carrega.

10:52Dias Gomes pensou antes

Odorico Paraguaçu, o bem amado, armou um atentado contra sua pessoa quando a cidade toda estava contra ele. Depois do que aconteceu com o Trump, a cena é o melhor meme a se espalhar no tik tok. “Coincidência assim é demais! Esse Dias Gomes usava inteligência artificial, só pode ser isso!” é o texto perfeito para o sucesso da internet.

10:44Créditos de biodiversidade

Da Agência Estadual de Notícias

Paraná avança para ser 1º governo subnacional a adotar créditos de biodiversidade

O Paraná será o primeiro governo subnacional do mundo a instituir uma política de créditos de biodiversidade como forma de compensar a pressão causada por empresas e indústrias. O regramento jurídico que vai balizar a ação está em fase de elaboração pelo Governo do Estado em parceria com a Coalizão Life de Negócios e Biodiversidade, organização voltada para conservação do meio ambiente. A intenção é apresentar o projeto em outubro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP 16) em Cali, na Colômbia.

https://www.aen.pr.gov.br/Noticia/Parana-avanca-para-ser-1o-governo-subnacional-adotar-creditos-de-biodiversidade