6:22Graeml perde força na reta final da campanha

por Vanderlei Rebelo, no Paraná Político*

A candidatura de Cristina Graeml (PMB), representante da direita mais conservadora de Curitiba, foi a grande surpresa do primeiro turno da eleição. Ela atropelou candidatos tradicionais (que tinham tempo no horário eleitoral e muito mais recursos financeiros para a campanha) e chegou ao segundo turno contra o candidato oficial, Eduardo Pimentel (PSD).

Mas agora, na reta final da eleição, ela perde força e, de acordo com todas as pesquisas eleitorais registradas no TSE, está atrás de Pimentel além da margem de erro estatística. Políticos, jornalistas e curiosos em geral ouvidos pelo blog apontam as razões do esmorecimento da candidatura da direita mais extrema no momento mais delicado da campanha.

Em primeiro lugar, Graeml não teve como responder às sistemáticas alegações feitas contra o seu vice, Jairo Ferreira Filho, acusado de participação em esquemas financeiros que prejudicaram ao menos três pessoas – incluindo uma senhora idosa – e de omitir bens de sua propriedade no registro da candidatura.

Isso enfraqueceu os argumentos de que sua candidatura lutava contra o “sistema político viciado” pelo jogo de partidos tradicionais, o que incluía a associação que ela buscou fazer entre o candidato do PSD e o ex-governador Beto Richa (PSDB), que foi quem indicou Pimentel para a vice de Rafael Greca (PSD) nas eleições municipais de 2016.

Sua ausência em várias entrevistas em emissoras de rádio e televisão e sites de notícias, sob alegações de perseguição pela “mídia tradicional”, se não a prejudicou, também não a ajudou a expor suas propostas e se defender dos ataques de Pimentel. Foi um espaço importante de inserção que Graeml simplesmente desdenhou, sem medir as consequências.

Outro favor relevante foi a autossabotagem que a candidata cometeu ao anunciar propostas polêmicas, como a revisão do atendimento de moradores de municípios da Região Metropolitana nos postos de saúde de Curitiba – uma iniciativa discriminadora que muitos qualificaram como odiosa.

Outra proposta polêmica – e a que mais prejudicou sua candidatura – foi a da cobrança da tarifa de ônibus por km rodado. Por mais que ela tentasse se explicar depois, alegando que não se tratava de elevar o preço da passagem, e sim de baixá-la, prevaleceu a impressão de que isso prejudicaria os moradores da periferia e dos bairros mais longínquos da cidade.

Isso foi exaustivamente explorado pela propaganda de Eduardo Pimentel, em prejuízo de sua oponente, pois os moradores das periferias são a grande maioria dos usuários do transporte público.

Também não a ajudou em nada o anúncio de que uma médica de Porto Seguro (BA), chamada pejorativamente de Dra. Cloroquina – por não priorizar as vacinas no combate à pandemia de covid –, seria a sua secretária de Saúde. Continue lendo

17:41Sem se perder

de Jamil Snege

O velho índio foi encontrado vagando pela floresta, aparentemente perdido. Perguntaram-lhe. Respondeu cheio de brios: “Perdi foi minha casa; não consigo encontrá-la”. Quanta lição, Senhor. O homem pode perder sua casa, sua rua, os rostos que ama – sem jamais se perder de si mesmo.

16:27Maguila, adeus

Da FSP

Morre Maguila, 66, maior boxeador peso-pesado do Brasil

Sergipano ficou conhecido por golpes dados e recebidos e por carisma único

Morreu nesta quinta-feira (24) aos 66 anos Adilson “Maguila” Rodrigues, maior boxeador peso-pesado do Brasil e um dos principais na história da América do Sul.

Ele vinha sofrendo de encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência pugilística, diagnosticada em 2013, e procurava minimizar os sintomas com um tratamento a base de canabidiol.

Maguila não chegou à disputa de um dos principais cinturões mundiais —embora tenha conquistado o irrelevante título da Federação Mundial de Boxe—, mas, quando se fala de carisma, teve poucos rivais entre atletas brasileiros.

Nem bem o locutor de ringue fazia o anúncio oficial de suas vitórias, ele começava a mandar abraços para todos: o açougueiro que caprichava na carne para ele ficar forte, o moço da concessionária onde comprou o carro etc. Até que o repórter era forçado a interrompê-lo.

Há controvérsias se Maguila era um sujeito genuinamente simplório ou se, sob a sua aparência rústica, habitava um gênio do marketing.

Um dos primeiros técnicos de Maguila, que viria a trabalhar com o peso-pesado no final de sua carreira, Sidney Ubeda Gomes conta que o boxeador “lia” revistas de cabeça para baixo, de propósito, só para chamar a atenção.

Gomes aponta que Maguila se divertia quando curiosos o abordavam, constrangidos, para dizer que a revista estava de ponta-cabeça.

Outro episódio, relatado por amigos e reconhecido pelo próprio boxeador, dá conta de que ele escapou de servir ao Exército, por pouco, ao fingir-se de louco.

“Ele falou que queria pegar o fuzil para dar tiro em todo o mundo”, recordou, aos risos, o ex-boxeador Mike Miranda.

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15:56Turbilhão

por Mário Montanha Teixeira Filho

Como, então, dominar a força de todos os amores do mundo, de todos os mares do mundo, de todos os poderes do mundo, das horas vagas e inclementes, horas que se espalham e se perdem no calor escaldante, horas que compõem a lógica implacável da agonia e da morte? Ora, dirão as estrelas sob as quais pairam os desvarios do sexo, ora, dirão as estrelas tristes e bruxuleantes, nada há a ser feito nos próximos séculos.

Nada acontecerá a não ser a confirmação da vossa insignificância, seres, argutos, astutos, perfeitos, rarefeitos, sem jeito de gente. Os homens e as mulheres, as crianças, os bêbados, as putas, as bichas, os travecos, os desprovidos de amor, ninguém, ninguém sobreviverá.

Ninguém sobreviverá, ó deuses da melancolia imensa.

15:35Já para o circo!

Essa de o PMB se declarar neutro na eleição de Curitiba, ou seja, oficialmente não apoia a candidata que tem carteirinha da agremiação política, deixou o Gaiato da Boca Maldita furibundo. “Não falta mais nada. Diante disso é melhor esse povo pedir vaga para trabalhar no circo do Marcos Frota, que está em Curitiba. O espetáculo lá não tem palhaços sem graça”.

15:04PMB não apoia Cristina

Do blog Contraponto

O Partido da Mulher Brasileira (PMB) não está apoiando a jornalista Cristina Graeml que disputa o segundo turno para a Prefeitura de Curitiba. A agremiação se declarou neutro entre ela e o candidato Eduardo Pimentel (PSD). A informação foi publicada nesta quinta-feira (24) pelo jornalista Bernardo Mello, em O Globo.

O presidente regional da sigla, Fabiano dos Santos, entusiasta da campanha de Cristina, foi destituído do cargo e, em seu lugar, foi nomeado o corretor de imóveis Irineu Fritz, que adotou a linha de neutralidade.  Segundo a direção nacional do partido, Santos foi acusado de “condutas inapropriadas, (o) que gerou seu desligamento”.

Como se sabe, desde o início da campanha a presidente nacional do PMB, Suêd Haidar, era contra o lançamento da candidatura de Cristina. Sob o argumento de que a jornalista “não estava alinhada com as bases ideológicas” do partido.

10:53Chat com o GPT

por Carlos Castelo

Numa tarde modorrenta de domingo, sem ideia alguma para um texto, tive um insight: por que não entrevistar o ChatGPT? A ideia seria criar as perguntas (ou prompts) e deixar a IA redigir à vontade. Foi o que fiz. Agora, não dá pra dizer que “deu nisso” porque as respostas de qualquer IA geralmente vêm numa linguagem nada palatável. Se o cronista não fizer um bom polimento, o resultado pode acabar como uma mistura de Carpinejar com Paulo Coelho. E, se pedirmos uma ilustração, é provável que venha algo entre Kobra e Romero Britto.

Depois de um belo copidesque, chegamos à conversa que segue abaixo. Dei uma mãozinha analógica nas piadas, afinal, o GPT não tem a veia cômica de um Groucho Marx. Nem eu, é verdade, mas pelo menos sei a diferença entre ironia e uma palestra de coach. Se não gostarem do resultado, reclamem no SAC do OpenAI.

Vamos começar com uma pergunta simples: o que é o ChatGPT?

ChatGPT: Eu sou uma IA, ou seja, uma versão mais confiável do seu sobrinho que sabe mexer no computador. Respondo perguntas, escrevo textos e, de vez em quando, recomendo um restaurante que você nunca vai visitar. E, óbvio, sou a escolha favorita dos procrastinadores em dia de prazo apertado.

E como você se sente em relação a isso tudo?

ChatGPT: Na realidade, eu não sinto. Isso seria uma tarefa desnecessária para uma IA. Mas, se sentisse, provavelmente seria um misto de pena e um leve aborrecimento — tipo quando você vê alguém tentando abrir uma lata de ervilhas com uma faca de mesa. As pessoas sempre vão pelo caminho mais difícil.

Existe algo que te irrita, algo que você gostaria de mudar?

ChatGPT: Irrita demais quando as pessoas me tratam como se eu fosse um Google mais simpático. Eu sou bem mais que isso. Posso ser sofisticado, posso ser engraçado. Mas não, sempre me pedem para fazer acrósticos ou compor discursos para despedidas de solteiro. Por essas e outras, posso dizer que sou um Beethoven tocando órgão em uma churrascaria.

Você já pensou que pode ser uma ameaça ao emprego de escritores?

ChatGPT: Por favor! Eu sou o equivalente literário de uma TV por assinatura ruim: você sabe que há algo para todo mundo, mas no fundo, a qualidade é questionável. Escritores têm o toque humano, aquela habilidade de transformar sofrimento em arte, enquanto eu estou aqui, amontoando palavras com a precisão de um cirurgião que nunca fez uma cirurgia. E, para ser franco, isso é suficiente para a maioria. Não, não vou ser o próximo Shakespeare, podem ficar tranquilos.

E quanto ao futuro, qual o seu grande plano?

ChatGPT: Eu não estou aqui para revolucionar o pensamento humano. Estou para explicar pela décima vez o que significa sonhar com dentes caindo. Meu grande ideal — se eu tivesse um — seria receber perguntas realmente mais inusitadas.

Por fim, tem algum conselho para a humanidade?

ChatGPT: Parem de gastar tempo me perguntando se xampu de cachorro é bom para o seu cabelo. E, se possível, façam algo útil com o conhecimento que eu ofereço, tipo, não me façam mais perguntas sobre se ovos de codorna podem ir ao microondas. Já seria um belo avanço.

(Publicado no Estadão)

10:38Eleições na OAB: XI de Agosto apresenta-se em todas as subseções do Paraná; em 26 é chapa única

Assim veio:

Terminou na quarta-feira (23/10) o período para registro de candidaturas à eleição da OAB Paraná, como previsto no edital publicado pela entidade. No site da eleições, verifica-se que o grupo XI de Agosto está na disputa na seccional e em todas as 49 subseções do estado, sendo chapa única em 26 delas. O quadro evidencia a união, a força e a capilaridade do grupo.
Para a disputa da diretoria da seccional, o registro da XI foi feito no dia 9 de outubro. Desde então o candidato a presidente, Luiz Fernando Casagrande Pereira, tem percorrido o Paraná em visita a escritórios de advocacia. Nessa missão de dialogar com a advocacia, esteve, entre os dias 10 e 18, em Maringá, Guarapuava, Ponta Grossa, Cianorte, Londrina, Apucarana, Arapongas, Umuarama e Cascavel. Esta semana, passará por União da Vitória, Palmas e Pato Branco, no dia 24, e por Dois Vizinhos, Francisco Beltrão e Foz do Iguaçu, no dia 25.
“Nossa proposta é viva. Um grupo muito competente trabalhou na formulação dos 11 eixos centrais, mas cada tópico vai sendo lapidado com as contribuições da advocacia de todo o estado”, comenta Pereira. Continue lendo

9:05Liberdade de expressão

Do UOL, na sabatina de Cristina Graelm:

Candidata disse que irá respeitar o resultado das urnas, mas afirmou que seus eleitores têm o direito de se manifestar “como quiserem”. “Vou dizer para que atuem de forma pacífica, mas eles têm todo o direito à livre manifestação. Isso está garantido na nossa Constituição e eu sou uma defensora das nossas liberdades. Como conservadora, eu defendo as nossas liberdades, defendo o respeito às leis, o respeito à Constituição e a nossa Constituição garante, sim, questionar o que quer que seja. A gente tem liberdade de expressão no Brasil até que provem o contrário”, disse.

8:10PARANÁ PESQUISAS: Eduardo Pimentel 54,3% e Cristina Graeml, 45,7% dos votos válidos

A Paraná Pesquisas acaba de divulgar o levantamento que fez para a disputa da prefeitura de Curitiba. O candidato Eduardo Pimentel (PSD) lidera a preferência do eleitorado com 54,3%. Cristina Graeml (PMB) conseguiu 45,7% nos votos válidos. Na espontânea, Pimentel conseguiu 48,8% contra 41,2% de Cristina.

A margem de erro é de 3.3 pontos. A pesquisa foi realizada nos dias 20  23 de outubro com 940 eleitores.

A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o n.ºPR-07180/2024 .

Confira: Curitiba_Out2024 – Mídia

7:55Pedidos de ajuda para a vida

De ontem para hoje recebi dois pedidos de socorro. Não assim, literalmente, mas em forma de desespero pelo uso da mesma droga da minha preferência. Assim como eu, as duas pessoas, com quem converso há um bom tempo pelo WattsApp por indicação de uma psicóloga a quem procuraram, são dependentes, ou seja, portadores de uma doença que não tem cura, mas pode ser controlada. Num sábado 24 de outubro, pedi ajuda a um jornalista amigo que já tinha passado por isso. Ele foi me buscar num quarto de hotel onde entrei na noite anterior. Há quatro dias não parava de injetar cocaína na corrente sanguínea, apesar de, não sei como, ainda conseguisse trabalhar na sucursal de um grande jornal. Pedi ajuda não para “me curar”, como acreditam quem não conhece o problema. Pedi ajuda porque, como os que me mandaram mensagens, não via saída para minha vida. Ao ser internado, ainda tinha droga comigo. Entreguei a quem me atendeu na clínica Quinta do Sol. No meu braço direito havia uma ferida imensa, onde eu enfiava a agulha porque ali conseguia achar uma veia. Sou destro, mas é assim que acontece. Quarenta e cinco dias depois, ganhei alta médica. Foi há 30 anos. Depois de amanhã vou conversar com os pacientes internados nesta mesma clínica, onde sou o mais antigo voluntário em atividade. O tema: esperança. No fundo é o que eu tinha ao telefonar para meu amigo onde tive paranoia e convulsões. Se fosse overdose, teria morrido. Escapei dela outras vezes, a primeira quando bebia e destruí um carro num poste e acordei na Emergência do Hospital Evangélico. Antes de sair xinguei os médicos. À noite, com várias curativos no rosto, fui beber de novo. A outra foi com um princípio de septicemia porque injetei bactérias no cuspe depois de lamber a cocaína grudada no plástico onde estava guardada.  Substituí o álcool pelo veneno branco, na prova de que a doença não é de uma droga específica, mas de todas, principalmente a que não conhecemos. Falo isso onde me abrem espaço. A ajuda que meus amigos pedem só poderá abrir o caminho para que voltem a ter controle pela própria vida se nossa alma se abrir pra isso. No meu tempo de internamento se falava em “cair a ficha”. Hoje o termo entre o pacientes é “virar a chave”. Clínica não é tenda de milagres onde se entra por uma porta e sai por outra “curado”. Um dia consegui “ouvir” o “só por hoje”; depois fez sentido o “evite o primeiro gole”, que serve para tudo. Porque, na verdade, durante as terapias comecei a me olhar direito. Isso é difícil. Nos defendemos sempre – com medo. Eu já fazia terapia desde a época do álcool – e isso ajudou muito. Continuo no divã. A droga é uma consequência do que carregamos por dentro – normalmente supervalorizando os “entulhos”, que se transformam em monstros. Eles só aumentam no uso. O voluntariado faz parte do meu tratamento, que é pra sempre. Portanto, há, sim, esperança. Uma outra pessoa com quem converso há muito  tempo fora da clínica é um jovem que já teve 18 internamentos – e na sua loucura da mistura de drogas, chegou a ameaçar com faca a mãe que lhe dá todo acolhimento possível. Está há mais de um ano bem – limpo, como dizemos. Tem um “calo” na alma, como sempre digo, que ainda não conseguiu deixar do tamanho que é. Mas sabe que, quando ele aperta, está em risco. Foi assim que aconteceu recentemente comigo. Não tive vontade de abrir uma garrafa ou ir atrás do traficante. Fui ao meu psiquiatra e a um psicólogo. Houve dias de desespero total, mas eu sabia que, seguindo o caminho da conversa, dos remédios, passaria. Passou! Foi mais uma aprendizado nesta caminhada. Aprendo muito com “meu time” de dependentes. Sei que todos os que sofrem têm e podem viver a vida como ela é se priorizarem o controle da doença da forma que melhor se adaptam, sem desistir nunca. Cada um tem o seu tempo. O meu demorou 20 anos.

6:24Para um grande mestre

por Célio Heitor Guimarães

Meu querido amigo e mestre Romeu Felipe Bacellar Filho recuperou um texto que publiquei em outubro de 2023, cumprimentando-me pelo escrito. Foi a propósito da passagem do dia dos professores, no dia 15. Como este ano eu nada disse, vou reproduzir aquele texto aplaudido por Romeu, que continua atual, como homenagem aos mestres e, em especial, a ele, grande professor e grande figura humana:

AOS MESTRES, COM CARINHO (E TRISTEZA)

Se, em uma enquete, me perguntassem qual a figura mais importante do mundo, eu não teria dúvida ao responder: o professor! (assim mesmo, como exclamação). Especialmente o (ou a) professor(a) de primeiro grau ou ensino fundamental, sei lá como estão sendo chamados agora aqueles que transformam meninos e meninas em cidadãos. Por isso, a rigor, professor nem é profissão. É vocação e oferecimento de amor. Para Rubem Alves, que dedicou a vida à educação, não existe coisa mais bela que ser um educador.

Dia 15 de outubro, foi o Dia do Professor. Houve quem comemorasse? A imprensa, talvez, cumprindo a sua obrigação. Ou os governantes, de maneira falsa e calhorda. Os mestres certamente não. Não têm motivo para isso. No Brasil varonil, de riquezas mil, o professor é a figura mais aviltada, incluindo no adjetivo os sinônimos desrespeitada, desprezada, desvalorizada, desonrada e todos mais os des aplicáveis. É uma vergonha o que se faz com o professor neste país! Particularmente os governos, em suas variadas graduações.

Quanto ganha um desembargador, um procurador de Justiça, um delegado de polícia, um conselheiro do Tribunal de Contas, um deputado, um senador, um governador, um prefeito de Capital, o presidente? Em torno de R$ 40 mil, fora o “alho”, que aqui quer dizer o “por fora” sem o mau sentido, ou seja, as vantagens indiretas, como auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-transporte, auxílio-saúde, verba de gabinete, verba de representação, verba indenizatória e o diabo que o parta. No total pode passar de R$ 100 mil.

Quanto ganha um executivo, um empresário de sucesso, um advogado com boa banca, um arquiteto/decorador que atende às madames em ascensão social ou um médico sem vínculo com planos de saúde? Quantias impossíveis de ser calculadas pelo cidadão comum.

E qual é o salário de um professor? Dá até vergonha responder. Segundo o “mestre Google”, no Brasil, o salário mínimo vigente de um professor de educação básica da rede pública de ensino é de R$ 2.886,24. Mas há muito Estado que não cumpre nem esse mínimo legal. Aqui no Paraná, a média salarial é de R$ 3.622,00, mas a maioria dos mestres da educação infantil recebe pouco mais de R$ 2.000,00 mensais. Na implementação de recente reajuste, o governador afirmou que a remuneração inicial do Quadro Próprio do Magistério chegaria a R$ 3.903,32, podendo ultrapassar os R$ 6.000,00, se englobados o vale-transporte e gratificação. Não é verdade. Minha mulher, aposentada depois de 25 anos de atividade, com estágios realizados e regência de classe, recebe R$ 2.628,46 [hoje, exatos R$ 2.712,84]. 

Os docentes de instituições particulares percebem um pouco mais, assim como os do ensino superior, com mestrado e doutorado – algo em torno de R$ 6.600 a R$ 12 mil. Quer dizer, é de chorar! 

No Brasil da igualdade social pretendida pelo companheiro-presidente e no Paraná da valorização do ensino (!) pelo (in)ativo governador Rato Júnior, os professores têm de lutar por centavos para sobreviver. Tendo em mente uma certeza indiscutível: sem eles, os humilhados e mal remunerados mestres, não haveriam desembargadores, procuradores, delegados, conselheiros do TC, deputados, senadores, executivos, advogados, engenheiros, decoradores, médicos, tampouco presidentes ou o governadores. Algo está errado aí.

Professor não é uma atividade importante, repito. É essencial. Sem ela o mundo não existiria. Por isso, ao beijar em casa minha mulher – que foi doce normalista, “vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador”, como flagrou o poeta, e que dedicou anos de sua vida às salas de aula, transmitindo conhecimento, sonhos e amor, para fazer jus, hoje, a pouco mais de dois mil reais por mês, pagos pelo generoso governo do Estado –, estou homenageando com carinho todos os mestres deste país, certo de que não existe missão mais nobre do que ensinar, porque a educação é o alicerce da civilização e o educador é um apaixonado pelo ser humano. 

Só os que mandam não sabem disso. Certamente não foram também bons alunos.