por Camila Rocha, na FSP
Congressistas deveriam levar em consideração a demanda da maioria dos brasileiros
A maioria dos brasileiros não quer anistia para golpistas. De acordo com a pesquisa realizada pelo PoderData, divulgada em 21 de março, apenas 37% da população é a favor de conceder anistia àqueles que foram presos pelo envolvimento nos atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Mais da metade, 51% dos entrevistados, é contrária, e 12% não souberam opinar.
Nem mesmo os eleitores de Jair Bolsonaro encampam a pauta. Entre os entrevistados que votaram no capitão reformado no segundo turno de 2022, quase metade, 49%, é contrária à anistia, apenas 36% a defendem.
A anistia relacionada apenas aos crimes cometidos por Jair Bolsonaro é defendida por menos pessoas ainda. Em uma pesquisa realizada pela AtlasIntel, divulgada há um mês, em 21 de fevereiro, se perguntava especificamente: “Bolsonaro deveria ser preso, anistiado ou julgado em liberdade”. Apenas 27% dos respondentes afirmaram que Bolsonaro deveria ser anistiado. Para mais da metade, 52%, o ex-presidente deveria ser preso, e 17% entendem que ele deveria ser julgado em liberdade.
A falta de apelo da anistia é perceptível mesmo entre bolsonaristas mais convictos. No último ato convocado por Bolsonaro para 16 de março, em Copacabana, no Rio de Janeiro, sua expectativa era reunir 1 milhão de pessoas, número que depois foi reduzido para 500 mil. A expectativa não poderia ser mais irreal.
De acordo com o cálculo feito com base em imagens aéreas pelo grupo de pesquisa Monitor do Debate Político no Meio Digital do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), estavam presentes no ato cerca de 18 mil manifestantes. O Datafolha, que também usou imagens aéreas, divulgou um cálculo de público de 30 mil pessoas. Para Pablo Ortellado, um dos coordenadores do primeiro estudo, a manifestação foi pequena para os padrões do bolsonarismo.
Para efeito de comparação, em 7 de setembro de 2022, também na Praia de Copacabana, os pesquisadores do Monitor estimaram que 64,6 mil manifestantes estiveram no protesto, número mais de três vezes maior do que o do ato realizado pela anistia. Já em abril do ano passado, foram 32,7 mil participantes.
Jonas Medeiros, pesquisador do Cebrap, também apontou a tendência declinante dos protestos bolsonaristas focados na anistia. Afinal, a condenação e prisão de Bolsonaro vem se tornando cada vez mais provável com o passar do tempo e, de acordo com o pesquisador, a intenção dos organizadores dos atos é de que “tudo gire em torno da ideia de que o campo conservador depende única e exclusivamente da figura de Bolsonaro”.
Por esse motivo, lide ranças como Silas Malafaia, entre outras, continuam a apelar para a radicalização dos manifestantes, o que pode ter consequências nefastas. Basta lembrar do chaveiro que morreu ao detonar um explosivo perto da estátua “A Justiça”, em frente ao Supremo, como aponta Jonas Medeiros.
O presidente do Senado e do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), já afirmou que a anistia não é uma “pauta das ruas”, sinalizando que não tem interesse em levar o projeto adiante. Assim, se parte dos congressistas não tem grande apreço pelo sistema democrático que os elegeu, ao menos deveriam levar em consideração a demanda da maioria dos brasileiros: sem anistia!