por Mariliz Ferreira Jorge, na FSP
Se conhece alguém que passará o Natal sozinho, ofereça companhia, esteja presente, mesmo à distância
Os ricos sempre foram ricos, estão cada vez mais. Juro que faço um exercício enorme para não virar o tipo de velho “na minha época era melhor”, mas impossível não constatar que os ricos da minha época eram melhores. Sabíamos onde moravam, que carros usavam, os restaurantes que frequentavam, mas só. Agora, eles fotografam tudo e fazem sua própria Caras digital de suas vidas —o que deve ter minguado o trabalho de paparazzis.
Se você está nas redes e nos sites, não tem como fugir. O rico mostra tudo sem modéstia, o que comeu, vestiu, cagou é replicado mil vezes por outras páginas, inclusive pelo F5 da Folha. Não tem escapatória. Desta forma, testemunhei a decoração de Natal de um desses casais, que tem “rico” até no nome. Aconchegante como a recepção de um pronto-socorro. Coitado do menino Jesus. Papai Noel é capaz de tomar um susto e pensar que foi mandado para uma clínica de repouso do SUS.
Não tem sofisticação, não tem bom gosto, nada. Dinheiro gasto que só serve para acumular pontos no cartão de crédito. Já viu a fatura de um rico? Claro que eles mostram. Mas essa moda da ostentação incomoda ainda mais nesta época do ano, num país em que é só andar uma quadra e ver alguém revirar o lixo em busca de algo para comer.
Desculpe, se atrapalho a ceia, não era minha intenção. A não ser que você ache natural se vangloriar por uma bolsa de algumas centenas de milhares de reais, e chamar de mimo, em frente a uma plateia de miseráveis. E não falo apenas de dinheiro, mas de ansiedade, depressão, estresse, solidão. Num Brasil hiperconectado, o número de pessoas sozinhas na noite de Natal só aumenta (14%; segundo a Hibou Pesquisas e Insights, crescimento de três pontos), resultado de abandono, no caso dos mais velhos, mas também de profunda desconexão, sentimento de inadequação e de falta de pertencimento neste mundo de ilusão criado nas redes. Para controlar essa epidemia de doenças mentais, a produção de lixo-ostentação deveria ser regulamentada.
Dito isso, se você conhece alguém que pretende passar o Natal sozinho, ofereça companhia, esteja presente, mesmo à distância. Paz e saúde a todos.