15:52Cinco mil quilos de talento

Gerson Guelmann costuma dar presentes. Ele não sabe disso, por modéstia. A primeira vez que o vi pessoalmente foi no pátio em frente ao Palácio Iguaçu. Não sei como saiu do carro. Fiquei olhando de longe. Imaginei que pesava cinco mil quilos. Uma bengala o sustentava. Ele entrou e foi trabalhar junto ao seu saudoso amigo Jaime Lerner. Agora me veio que devo ter pensado: “Taí um homem é especial”. Sim, conhecia-o de nome. Certa vez cometi uma baita grosseria contra ele, escrevendo aqui neste mesmo espaço. Levei um cascudo, não do próprio, mas da mulher e musa que conheci algum tempo antes, quando novamente trabalhamos juntos. Ele pediu pra deixar pra lá. Eu deveria ter deixado antes. Nunca pedi desculpas. Ele sabe que o que nos uniu depois vale mais que isso. Amizade. Os cinco mil quilos dele sumiram com o tempo – porque D’us assim quis e a bariátrica também. Quando começou a vender esfiha com sua companheira gaúcha, novamente pensei – e isso não é comum: “Num falei que meu amigo judeu era especial?” Os árabes de Curitiba devem ter ficado felizes porque o produto era de primeiríssima qualidade. Sua história de vida – e morte na família, ampliou os limites de sua percepção da alma – e temperou-a. Escrevo isso porque fui dos primeiros a saber que abriria espaço na internet com um blog. Sábio, bebe na verve incomparável dos humoristas judeus. Abre espaço para histórias, cultura, venenos corrosivos, enfim, expande o que pouca gente conhece, sempre primando por deixar para outros espaços o trágico conflito que infelizmente permeia a região. No seu blog ele parece espalhar uma pílula da sabedoria que realmente vale de um povo. Mas tem mais! O presente citado no começo tem a ver com o texto publicado abaixo porque, de uns tempos para cá, assim, de repente, passou a escrever sobre assuntos que nos dizem respeito, ou seja, nós, brasileiros como ele é – e com uma maestria que o colocou rapidamente como um dos craques das letrinhas dessa Curitiba. Aliás, outro deste time, a quem continuo reverenciando – e a quem também fiz grosseria, como um ogro das entranhas do agreste alagoano, foi Guelmann quem me apresentou, antes de começar a mostrar o enorme talento: Rogério Distéfano. Agradecer é pouco o aprendizado.

Uma ideia sobre “Cinco mil quilos de talento

  1. José maria correia

    Belíssimo e merecido texto para essa tonelada de talento e generosidade que é o querido Gerson Guelmann

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