de Carlos Castelo
§ Caríssimo senhor, São Pedro. Com o devido respeito à sua santidade meteorológica, mas é com grande pesar que redijo esta humilde mensagem. O motivo é a sua gestão pluvial sobre São Paulo. Ela tem sido, no mínimo, questionável. Hoje, por exemplo, uma chuvarada de 10 míseros minutos conseguiu transformar a metrópole em uma espécie de Veneza pós-apocalíptica. São Paulo é uma senhora de idade avançada, que há décadas não visita o ortopedista. Suas ruas têm mais buracos do que as paredes de um clube de tiro, e quando chove, se tornam armadilhas mortais. As galerias pluviais, criaturas mitológicas que deveriam carregar a água para longe, estão mais obstruídas do que pia após almoço com feijoada. Dentro delas, suspeito, há objetos arqueológicos, como discos de vinil, máquinas de escrever, e talvez até um ou dois membros da TFP. É claro que nenhum cristão ousa limpá-las; afinal, mexer ali seria como destrancar a porta do WC de uma rodoviária no fim do dia. As calçadas, então, São Pedro, estão de lascar. Com a primeira gota de chuva, viram pistas de patinação. É impossível caminhar sem parecer uma mistura de Bambi e Carlitos. E não para por aí. A luz é outro problema. Bastou um raio e a rede elétrica foge com medo. Tudo apaga. Semáforos, elevadores, até a esperança. É como se São Paulo tivesse um botão de desligar que Sua Santidade insiste em pressionar. E quando isso acontece, o trânsito vira um espetáculo de horrores. O metrô, que em dias normais já se assemelha a uma lata de sardinhas humana, durante as chuvas, se transforma em submarino. Os ônibus lembram balsas Rio-Niterói navegando por avenidas de rios. Por tudo isso, São Pedro, peço que revise sua agenda de chuvas sobre São Paulo. Em outras palavras: restaurem-se as galerias pluviais ou afoguemo-nos todos.