por Paulo Ambrósio
A panificadora beira-mar em Piçarras tinha uma estante com uns 40 livros. Os clientes poderiam ler durante o café. Gentileza urbana, mas sem muito sucesso de público.
Fucei e achei uma raridade. O Rei da Terra, de Dalton Trevisan, meu vizinho de bairro em Curitiba e maior contista brasileiro. Edição de 1972 da Civilização Brasileira, exemplar 2086, volume 164 da Coleção Vera Cruz de literatura brasileira. Velho e amarelecido, com o nome Sueli de Fátima Chaves da Silva escrito à mão na página de rosto.
Edição impressa na Gráfica Borsoi, Benfica, Estado da Guanabara. O exemplar tinha uma etiqueta da Livraria Osório, no Centro de Curitiba. Esse livro tinha que ser meu.
Falei para a atendente que queria comprar o Rei da Terra, ela disse que não vendiam, era para os clientes lerem. Insisti e ela respondeu que teria que consultar a proprietária.
Nos dois dias seguintes passei lá perguntando do livro, não tinham conseguido falar com a dona. Ofereci dois livros novos em troca, falei que para eles era um bom negócio. A proprietária teria que autorizar.
Mesma resposta no terceiro dia. Ainda ficaria mais quatro dias na praia, mas tinha medo que o livro desaparecesse. Tive que agir.
No dia seguinte, entrei na panificadora com um livro na mão e o usei para acenar para a atendente. Pedi café, sentei perto da estante e comecei a ler. Numa distração dos funcionários, fui rápido na troca. Deixei meu livro novo na estante, que não lembro qual era, e peguei O Rei da Terra.
Terminei o café, paguei e na saída acenei com o livro trocado, mostrando a contracapa para a atendente. Sempre dou para alguém os livros que termino. O Rei da Terra não. Será minha lembrança eterna do Vampiro.
Assim caminha a brasileiridade
Ora, apenas um militante …