7:44Sobre militares, perdões, assassinos, leitores, futebol

por Luís Francisco Carvalho Filho, na FSP

Um pequeno retrato de como andam nossas instituições

O presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, falta com a palavra e concede perdão incondicional ao filho, Hunter Biden, condenado por evasão fiscal e posse ilegal de armas. Como em uma autêntica república das bananas, o precedente incentiva o futuro presidente Donald Trump a perdoar a si próprio, além, é claro, de invasores do Capitólio.

Jair Bolsonaro e generais envolvidos na tentativa de golpe no Brasil permanecem em liberdade. Soltos, são mais perigosos para a ordem pública que Marcola, o chefe do PCC. Licença para conspirar.

O perdão decretado na principal democracia do Ocidente estimula, na república bananeira militar religiosa do Brasil, o futuro perdão incondicional dos golpistas.

Jill Biden, primeira-dama dos EUA, vota, para a sucessão do marido democrata, vestida de vermelho –a cor dos republicanos.

Janja da Silva, primeira-dama do Brasil, xinga Elon Musk, futuro integrante do governo Trump, em evento do G20 no Rio de Janeiro: “Fuck you”.

O BNDES faz propaganda do governo Lula. Governadores e prefeitos também jogam dinheiro no lixo.

Comandantes militares que não aderiram à tentativa de golpe são tratados por ufanistas da imprensa como salvadores da democracia. São criminosos também: prevaricaram, não reagiram à conspiração. Um pé em cada canoa.

Discretamente, sem registro nas agendas oficiais, Dias Toffoli, ministro do STF, visitou Bolsonaro enquanto ele conspirava contra a Justiça Eleitoral e a posse de Lula. Cortesia, explicou o ex-presidente. Dois outros ministros, Nunes Marques e André Mendonça, eram mais assíduos nas rodas palacianas. Um dos desenhos do golpe previa a substituição dos três ministros do Supremo no TSE pelos três corteses amigos.

O grupo empresarial que comprou o Botafogo, sensação milionária do futebol brasileiro, recebe investimento de sócio do sócio de Rogério de Andrade, bandido de muitos costados, patrono da Mocidade Independente, especialista em lavagem de dinheiro. O time tem longa história de parceria com o jogo do bicho, assim como o Carnaval.

O plenário do Supremo libera emendas parlamentares para ajudar o governo a aprovar o pacote fiscal, mas o Congresso e o governo não gostaram dos princípios de transparência estabelecidos pelo ex-ministro de Lula, Flávio Dino, para a gastança.

Jurados cariocas absolvem PM que em 2019 matou a menina Ágatha, de oito anos de idade, com tiro de fuzil. Cinco anos depois do massacre de Paraisópolis, com saldo de nove jovens mortos, o processo criminal contra 12 PMs se arrasta, devagar, na Justiça de São Paulo.

Polícia Militar agride, ofende e mata sem cerimônia. Tem o incentivo silencioso ou entusiasmado de governadores e magistrados. A justiça tarda e falha. Comandantes nunca são punidos. Licença para abusar e matar.

Capitão da PM que fez “segurança” de cinco governadores de São Paulo é preso pela Polícia Federal acusado de lavar dinheiro do crime organizado.

Sem se comprometer com o mérito da questão, Gilmar Mendes, do STF, libera o projeto infame de Tarcísio de Freitas, aliado ao golpismo, de transformar escolas públicas em escolas cívico-militares. “Matar para educar”, seria o novo lema paulista.

O Brasil perdeu sete milhões de leitores nos últimos quatro anos.

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