… Hipótese em questão: todas as iniciativas políticas ou religiosas humanas, cada vez mais afins, morrem na praia por uma razão muito simples —a natureza humana. Os progressistas, sejam eles de escopo socializante, sejam otimistas de mercado, erram num princípio avassalador: o ser humano é, basicamente, mau caráter quando tem a chance de ser, para servir aos seus objetivos. As raras exceções confirmam a tendência universalizante da regra.
E mais: essa tendência inexorável ao mau-caratismo é sofisticada nas suas formas materiais no mundo, isto é, posso ser mau caráter de modo tal que o seja em nome do bem público, em nome de uma causa, em nome de um grupo, em nome de melhoria salarial, em nome das populações mais vulneráveis, em nome da arte, em nome da educação, enfim, até em nome da deusa.
A história de longa duração comprova essa tese enquanto a tese contrária —a natureza humana tende a ser de bom caráter— só é passível de sustentação na utopia. E, mesmo quando se tentou realizar historicamente essas utopias, a tendência ao mau-caratismo comportamental se mostrou mais verdadeira empiricamente. Sinto muito, o espelho das almas não mente.
*Trecho de texto de Luis Felipe Pondé
Isto está bem evidente nos partidos políticos, sindicatos que só pensam no poder, e seus objetivos pessoais, Não tem posição específica: direita, esquerda, centro, alto e baixo, todos concentrados neste alvo egocêntrico.
É a política em sua essência que se prática no Brasil, blindada acima das instituições, e, só interagem com o FISIOLOGISMO, a contrapartida. O viés de mão dupla, o mau catarismo impregnado, incurável que tomou conta deste Brasil como um todo.
Alvaro Costa e Silva fez uma análise brilhante do mesmo fenômeno num artigo da Folha, 4nov24, sem chamar ninguém de mau-caráter:
PEC de Lula esbarra na política que explora medo e sangue
“Cláudio Castro deixou a reunião em torno da PEC da Segurança Pública reclamando. Ele e outros governadores bolsonaristas, alguns dos quais nem compareceram ao Palácio do Planalto, não aceitam a proposta de a PF colaborar nas investigações sobre organizações criminosas e milícias e a que dá poderes ostensivos à PRF. Castro teme a perda de autonomia e que o pacto federativo crie “uma bagunça maior”.
Bagunça? Não é novidade para ninguém que Cláudio Castro está mais perdido que trabalhador em tiroteio na avenida Brasil. Não sabe o que quer nem o que fazer. Foi ele quem pediu ajuda ao governo federal, depois que a PM bateu em retirada num confronto com traficantes evangélicos. De tanto permitir que secretarias, delegacias e batalhões fossem loteados por políticos, o governador não tem mais controle sobre as polícias. Com dois anos de mandato pela frente, o seu cafezinho já é servido frio.
Lula disse o óbvio no encontro. O crime organizado conseguiu se infiltrar em todo o território brasileiro –não só no Rio, como muita gente pensa–, nas instituições e nas eleições. Em dia de postura moderada, o governador Tarcísio de Freitas concordou com o petista acrescentando mais duas áreas invadidas: usinas de etanol e clubes de futebol.
Por coincidência –ou não teria sido coincidência?– a reunião ocorreu no dia em que um matador de aluguel fabricado dentro da PM foi condenado pelo homicídio de Marielle Franco. A decisão abre caminho para o julgamento dos acusados de serem os mandantes do crime político –um deputado federal e um conselheiro do TCE (ambos suspeitos de ligação com milícias) e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio.
Se bem azeitada, a PEC é necessária. Durante mais de 20 anos os governos do PSDB e do PT, para não se queimar, deixaram a batata quente da segurança na mão dos estados. Foi um erro cujo conserto não será fácil e levará tempo. Mas a sua aprovação no Congresso será mais difícil ainda. Os políticos que exploram o medo e o sangue têm outros planos. Quem sofre –sempre– é a população.”