Do jornal O Globo
Morre aos 99 anos fundadora das Mães e Avós da Praça de Maio
Mirta Acuña de Baravalle é mãe de María Baravalle, sequestrada quando estava grávida durante a última ditadura militar argentina; Mirta nunca encontrou seu neto ou neta, nascido num centro clandestino de detenção
Morreu neste sábado, aos 99 anos, Mirta Acuña de Baravalle, uma das fundadoras das Mães e Avós da Praça de Maio, e mãe de Ana María Baravalle, desaparecida durante a última ditadura militar argentina (1976-1983).
“Despedimos outra companheira de luta, fundadora das Mães e Avós da Praça de Maio, Mirta Baravalle. Aos 99 anos, Mirta partiu sem o abraço de seu neto ou neta [nascido num centro clandestino de detenção da ditadura argentina]. Continuaremos procurando por ele, ela, e por todos. Até sempre, querida Mirta!”, publicou no sábado a conta oficial das Avós da Praça de Maio em suas redes sociais.
Mirta Baravalle era mãe de Ana María Baravalle, que tinha 28 anos e estava grávida de cinco meses quando foi sequestrada em agosto de 1976 junto com seu marido, Julio César Galizzi, durante a última ditadura militar.
Desde então, Mirta Acuña de Baravalle dedicou sua vida à busca de sua filha e de seu neto ou neta e foi uma das primeiras mulheres que, em 1977, começaram a se reunir na Praça de Maio em Buenos Aires, em frente à Casa Rosada, sede da presidência, para exigir informações sobre seus filhos e filhas desaparecidos.
Ela também foi uma das fundadoras da ONG Avós da Praça de Maio, criada em 1977 para localizar e restituir a seus familiares de origem crianças desaparecidas pela ditadura.
“Tinha os maiores valores e princípios que já conheci. As histórias sobre como ela buscava as crianças apropriadas são impressionantes, seus disfarces, suas estratégias para alcançá-las”, recordou nas redes sociais a líder de esquerda e advogada Myriam Bregman.
“Partiu sem encontrar Camila ou Ernesto, seu neto ou neta apropriado. ‘Meu esqueleto está cansado’, me disse há pouco tempo”, escreveu Bregman.
A ditadura argentina (1976-83) causou cerca de 30.000 desaparecidos, segundo os organismos de direitos humanos. As Avós da Praça de Maio ainda buscam aproximadamente 300 netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.