6:48A treta identitária

por Renato Terra, na FSP

Discordâncias dissonantes e consonantes

Em primeiro lugar, discordo do uso do termo “identitário”. Esvazia de significados a luta de negros, mulheres e de toda a comunidade LGBTQIA+. Pelo lado mais urgente, é uma luta para que as pessoas deixem de morrer por causa do racismo, do machismo e da homofobia. No fundo, é uma luta para criar uma sociedade com condições para que todos tenham as mesmas oportunidades.

Mas essa não pode ser a única pauta da esquerda. Ou, pelo menos, a pauta que praticamente domina as discussões. É preciso voltar a pensar num projeto de país em que as pessoas consigam sonhar com mais emprego, renda, estudos e saúde. E que as questões ambientais sejam atraentes economicamente.

Mas como baixar o tom enquanto as pessoas continuam morrendo por serem negras, mulheres e por causa de sua orientação sexual?

Mas será que não tem um jeito diferente de abordar o assunto sem destratar ou cancelar quem comete equívocos?

Mas como mudar uma cultura violenta sem provocar atritos?

Mas não podemos diminuir a reação das pessoas do outro lado. Muita gente se sentiu ofendida pela imposição de uma mudança de comportamento. Parte da força da extrema direita é a capacidade de reunir pessoas que sentiram que sua liberdade foi enfraquecida pela força dos movimentos antirracistas, feministas e contra a homofobia. No documentário “Apocalipse nos Trópicos“, da Petra Costa, o deputado Sóstenes Cavalcante mostra o aumento colossal da bancada evangélica e credita o crescimento à esquerda identitária.

Mas não dá pra aceitar a distorção que os oportunistas fazem quando reduzem nossa luta a casos inusitados que viralizam nas redes sociais. Temos que punir as fake news, aumentar a regulação das redes sociais.

Mas será que não tem uma maneira de reconhecer os avanços e mudar a postura: ser menos enfático e mais propositivo?

Mas como ser menos enfático com quem construiu uma lógica social que nos assassina?

Mas como podemos avançar?

Não podemos recuar dos avanços conquistados nem passar a impressão de que o problema está resolvido. Liberdade só vale quando todo mundo pode desfrutar dela.

Mas o que fazer? Algo precisa ser feito. Não podemos mais ter medo de tocar nesse assunto. É uma discussão complexa, mas precisa avançar.

Não sei. Mas não vai ser este colunista branco, hétero e rico que vai nos dizer.

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