6:54A FLIT e a alma desoladora das ruas

por Carlos Castelo

A FLIT (Feira Literária de Intelectuais Tóxicos) homenageia o cronista Mané da Praia na edição de 2024, e convida autores e leitores a observar com ele a alma desoladora do que restou das ruas e avenidas do país. Eis as principais mesas do evento para sua escolha:

SEXTA-FEIRA, 11

19h30 – Mesa 1 – As Avenidas Têm Calombos

O professor paulista Júnior Jr., vencedor do Prêmio Tuiuiú em 2016, apresenta uma aula sobre o homenageado Mané da Praia e seu impacto nas rachaduras do calçamento paulistano. O trabalho de Júnior Jr. mantém uma conversa espirituosa com o escritor-urbanista-pandeirista falecido em 1911. Seu mais recente livro, O Telhado Encantado dos Sobrados, explora a mística por trás de telhas quebradas e paredes mal rebocadas, num verdadeiro mergulho nas entranhas de São Paulo.

SÁBADO, 12

10h – Mesa 2 – A Cidade Contra a Gente Mesmo

Runas Martins e Jota Silva, dois autores da periferia urbana se juntam para compartilhar o infortúnio de quem se perde em bairros com mais de duas lombadas consecutivas. Runas é conhecida por suas análises agudas em Ninguém Viu Mesmo, um ensaio gráfico sobre a cegueira urbana de quem estaciona sobre as calçadas.

12h – Mesa 3 – A Poeira onde Chegamos

As romancistas Zezé Zé e Clóris do Real discutem as violências do pó que se acumula nos rodapés das casas da Zona Norte. Autora do controverso Perdigoto também é Poeira, Zezé conduz a conversa com a habilidade de quem nunca tirou o sapato na porta de casa. Do Real, com seu recente Ao Pó Voltarás, explora o drama cotidiano de uma mãe que tenta, em vão, combater a poeira com aspiradores de última geração.

15h – Mesa 4 – A Vida Oculta dos Pães

Renata Inata e a portuguesa Marcela Dentuça discutem as nuances da tristeza profunda que surge ao encontrar um pão francês murcho. Com sua formação filosófica em padarias europeias, Inata compara a crocância do pão italiano com a sutileza das emoções humanas. Dentuça, por sua vez, examina como a modernidade nos alienou de pães artesanais, recorrendo à psicanálise lacaniana para entender por que alguns preferem torradas. A mesa é mediada pela renomada psiquiatra e padeira especialista em roscas, Roberta Alberta.

17h – Mesa 5 – Ora, Tatu-Bolas

Os autores (que até o momento não quiseram se identificar) de Onde Dorme a Coruja e O Diabo das Bananeiras se reúnem para discutir a devastadora emergência climática no subsolo. Onde Dorme a Coruja transporta o mito grego para as covas de tatu-bolas, numa trama que mistura crítica social e agronomia. Já O Diabo das Bananeiras reflete sobre a cruel exploração do cultivo de bananas prata em pequenas hortas urbanas, levando o leitor a questionar se realmente precisa daquele smoothie matinal.

19h – Mesa 6 – Dormindo com as Big Techs

Just Run e Emília Milho fazem um alerta sobre os males invisíveis da rede de controle das big techs, ou seja, de todo mundo que já teve um post banido no Instagram. Enquanto Run apresenta uma análise maiêutica de como nossas vidas foram reduzidas a algoritmos que decidem que marca de paçoquinha se deve preferir, Milho defende as pequenas quitandas, com seu manifesto Como Resistir ao Google e Comer Melhor na Quitanda do Seu Zé. A jornalista Svetlana da Silva, que há anos estuda redes sociais sem Wi-Fi, media a mesa.

DOMINGO, 13

Mesa 8 – 10h – A Libido e o Estacionamento Rotativo

Isa Intes Tina e Ana Papoula Margarida reúnem-se para discutir como narrar o feminino sem abordar temas como a busca desesperada por uma vaga de estacionamento. Intes Tina traz sua experiência como finalista do prêmio Paro o carro na Zona Azul, Logo Existo, enquanto Margarida defende o uso de parquímetros como uma metáfora para a resiliência feminina. Mediando a mesa está Creuza Travis, famosa por seus ensaios sobre como o rodízio de carros afeta a vida sexual das pessoas 70+.

(Publicado no Tempos Crônicos)

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