6:43Tá rindo de quê?

por Carlos Castelo

A adolescência é uma fase da vida que deveria ser pulada. Posso dizer isso porque também já fui um adolescente arrogante, preguiçoso, grosseiro e nada cheiroso.

A presença desse grupo é facilmente notada. Andam em bandos, como manadas de gnus. A barulheira, a inquietação e as risadas sem sentido podem ser ouvidas a léguas de distância. Aliás, sempre me perguntei: de que tanto riem os adolescentes? Qual é a graça que nunca consigo alcançar? Pensando bem, não são como gnus; estão mais para hienas.

Dos 10 aos 19 anos, a vida é como um longo túnel escuro de espinhas inflamadas, roupas suadas e a constante sensação de que o universo inteiro está contra você. Essa raça de seres insones e mal-humorados caminha pela Terra como se tivesse descoberto todos os mistérios do universo. O pedantismo beira o absoluto, e tudo isso sem sequer saber dobrar uma toalha.

Lembro-me bem da época em que fui assim. Tudo em mim era um protesto. Se não era o cabelo, era a postura, ou minha total incapacidade de articular uma frase sem encaixar três ou quatro palavrões. Meu odor era algo extraordinário: uma mistura agridoce de suor, hormônios e frustração. Não sei como não matei minha família intoxicada.

O cardápio da adolescência também é uma obra de arte: pizzas, hambúrgueres, salgadinhos com sabores mais artificiais que aplausos em reuniões corporativas. Tudo regado a refrigerantes que dissolveriam ferrugem. É um milagre não brilharem no escuro depois de tantos anos de exposição a tais substâncias.

As conversas, se é que podemos chamar aquilo de conversa, ocorrem em um dialeto próprio, um idioma repleto de gírias e expressões que mudam a cada semana. Um vocabulário que, em tese, deveria expressar a revolta interior, mas que soa mais como um radinho de pilha sintonizado numa emissora AM de Cochabamba.

A dependência tecnológica dos adolescentes é impressionante. O celular não é mais apenas um meio de comunicação; é uma parte vital de sua identidade, um órgão externo que precisa ser checado a cada cinco segundos. E não adianta tentar interagir com eles sem esse artefato.

Mesmo imersos numa imensa bolha digital, os adolescentes ainda conseguem ter opiniões sobre o mundo ao seu redor. E a profundidade filosófica é, no mínimo, singular. São especialistas em tudo: política, arte, música, física quântica, relacionamentos. São donos de verdades titânicas, até a próxima modinha ou cancelamento digital, quando mudam de ideia tão rápido quanto trocam de crush.

Por fim, há algo nessa tribo que permanece um grande mistério. Alguém me explicaria a obsessão por usarem tênis desamarrado? Vivo tentando acertar os cadarços dos da minha filha, mas toda vez sou cancelado por ela. Que fase!

(Publicado no O Dia)

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