de Domingos Pellegrini
Num porão cantei sozinho a multidões.
Num pedaço de muro aprendi o alfabeto.
Recebi as moedas do salário
mas nunca tive tempo de contar dinheiro.
Fiz o coração de cera, olhem
como amasso e desamasso o coração.
Nos túneis da noite berraram os povos
e meu filho desceu de manhã.
Estive ao lado de quem me abandonou.
E decerto alguém ficou me esperando.
Trabalhei sem ver meus companheiros:
para que estava eu trabalhando?
Engoli a sopa das cebolas roxas.
Mastiguei o bife dos bois assustados
— talvez por isso me acordava,
agora estou pronto: amar, se odiado.
Vim vindo o que procuro, cheiro no ar,
que não me falte medo nem coragem.
E, por tudo que errei, tenho certeza,
mesmo sem passaporte ainda farei viagens.