6:54LEROS

de Carlos Castelo

§ Bem-vindos ao paraíso do consumismo preguiçoso, onde até coçar o saco pode ser terceirizado por um preço módico. Vivemos na era de ouro da “eu-nem-me-mexo”, onde qualquer inutilidade se materializa magicamente na nossa porta com um deslizar de dedo na tela oleosa do celular. É o ápice do capitalismo selvagem. Até a inércia foi transformada em commodity. Só que, enquanto afundamos no sofá, lá fora o asfalto ferve num espetáculo bizarro. Motoboys, esses gladiadores da era moderna, ziguezagueiam entre os carros como se o trânsito fosse um jogo de GTA. Guiados pelo GPS, e a promessa de uma gorjeta miserável, transformam as ruas num filme do Mad Max. E ficamos torcendo para que nosso hambúrguer gourmet chegue sem ter sido transformado em patê após tantas freadas bruscas. Pior ainda é tentar atravessar a rua. Quase impossível sem virar recheio de sanduíche entre um Kwid e uma moto de entregador. É o custo de ter o mundo na palma da mão. Não demora e alguém vai pedir um pouco de sanidade no trânsito pelo iFood. Mas pode crer: vai ser aquele pedido que sempre é cancelado antes de chegar.

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