6:44LEROS

por Carlos Castelo

Não é possível falar em Sílvio Santos sem invocar Adorno e seu conceito de Kulturindustrie. A indústria cultural, segundo essa teoria, é um instrumento de controle social que distrai as massas de questões sociopolíticas, transformando a cultura em mera mercadoria. Seu objetivo? O lucro, em detrimento da expressão artística ou do pensamento crítico. Nesse palco, SS surgiu como uma divindade do panteão nacional, desempenhando papel central na cultura brasileira por décadas. Quem testemunhou a “Semana do presidente” durante os anos de chumbo sabe. Não por acaso, artistas – inclusive nomes de peso – idolatravam o apresentador. Mas seria apenas pela aceitação do “Big Boss” como um poderoso chefão? Ou estariam diante do pai, do filho e do espírito santo do showbiz tupiniquim? A resposta, talvez, esteja em ambas as alternativas. O que podemos afirmar com certeza é que, quando o ópio do povo vem polvilhado de glitter, seu efeito é mais potente e sua capacidade de alienação, exponencial. Nesse carnaval midiático, Sílvio Santos não apenas conduziu o espetáculo; ele se tornou o próprio espetáculo, um maestro da sinfonia do entretenimento que fez a nação dançar até ao som de “a pipa do vovô não sobe mais”. Enquanto Adorno se revira no túmulo, SS continua vivo na ribalta da memória coletiva brasileira, provando que, no país do carnaval, a luta de classes só importa no quadro “Cidade contra Cidade”. Afinal, quem precisa de consciência crítica quando se tem um baú da felicidade?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.