7:21Adeus a um irmão

por Célio Heitor Guimarães

Há pessoas que passam por esta vida sem deixar rastros. Essas não tem a menor importância. Outras marcam a sua passagem com trabalho e luta. Essas são importantes. Um terceiro grupo, menos numeroso, chegou aqui para semear ideias, desenvolvê-las e fazer o mundo girar. São os idealistas, que transformam sonhos em realidade. Esses são essenciais. Luiz Renato Ribas Silva, que nos deixou nessa sexta-feira 19/07, era um deles. Carregou desde sempre a chama de realizador e não foi fácil acompanhar a sua marcha. Sei o que estou dizendo porque sou testemunha ocular da história e fui seu companheiro em várias jornadas inesquecíveis. O Paraná e o Brasil perderam um pioneiro; eu, perdi um grande amigo, quase-irmão.

Como jornalista, Luiz Renato Ribas sabia escrever. E, como editor de publicações, fez história na imprensa paranaense. Viu a televisão do Paraná nascer, participou da sua história, pintou e bordou diante e por trás das câmaras. Apresentou à sociedade curitibana a novidade chamada videocassete e fundou uma das primeiras locadoras de vídeos, depois DVDs, do Brasil. Era formado em Direito e foi funcionário da Receita Federal.

Na verdade, Luiz Renato Ribas era um predestinado, sempre à frente dos acontecimentos. Nasceu virado para a Lua, como se dizia, e tinha os olhos permanentemente voltados para o horizonte. Agora, haverá de revolucionar o céu. Preparai-vos, São Pedro!       

Nascido em Ponta Grossa, nos idos de 1933, Ribas deveria ter sido Xavier da Silva, mas acabou sendo Ribas Silva. E isso só soube aos 18 anos, quando alistou-se no serviço militar. Passou a adolescência na capital paulista, mas completou os estudos, graduou-se como oficial de reserva no antigo CPOR e iniciou a sua trajetória de vida em Curitiba, a partir de 1951.

Logo depois, Luiz Renato conheceu Regina, integrante de outra tradicional família paranaense – os Pinheiro Machado –, que viria a ser a sua companheira de vida e porto seguro para as suas aventuras.

Outra paixão de Ribas foram os cavalinhos. Nos anos 50/60, foi o mais famoso locutor de turfe da cidade. Fazia a transmissão dos pequenos e grandes prêmios, primeiro pela Rádio Marumby, depois, pela Guairacá e, em seguida, pela Colombo do Paraná. Paralelamente, co-editava o “Turfista Semanal”, folheto/revista de grande sucesso no Jóquei Clube, e respondia pela página de turfe do jornal “Diário do Paraná”, do qual foi um dos fundadores.

Aí, Ribas criou, com Rubens Hoffmann, “TV Programas”, revistinha de leitura obrigatória em Curitiba e parte do Paraná e de Santa Catarina dos anos 60/70. “TV Programas”, que nascera como um folheto, com a programação dos canais de televisão de Curitiba, acabou sendo considerada a melhor publicação do gênero no Brasil. A tiragem semanal ultrapassou os 25 mil exemplares. Uma façanha jamais repetida na imprensa paranaense.

No campo editorial, Ribas criou, na sequência, “Direta”, a primeira publicação semanal especializada em propaganda e publicidade do Brasil, que geraria o álbum “História da Publicidade e da Comunicação do Paraná, o primeiro e único até agora, narrando a evolução histórica da comunicação e da propaganda em nosso Estado. Seguiram-se “Bem Bolado”, informativo pioneiro dedicado aos apostadores da loteria esportiva; “Guiatur”, o primeiro guia turístico/gastronômico semanal de Curitiba e do Paraná; “Programas”, com as atrações e a programação artístico-cultural da cidade; e “Curitiba Shopping”, o primeiro jornal de serviços e ofertas de compras da Capital.

Durante algum tempo, Luiz Renato Ribas andou se dedicando às artes gráficas. Criou a Digital Fotogravura e se tornou o primeiro a fornecer fotoletras, fotolitos e textos compostos eletronicamente para o mercado paranaense.

Em 1980, quando se começou a falar em vídeos caseiros, o tal de “home video”, eis que Ribas surge com o Tape Clube (depois, Vídeo 1), a primeira associação de fãs e cultores do futuro e avassalador entretenimento. No Brasil de então nem se fabricava videocassetes e os poucos aparelhos aqui existentes eram importados, sem condições de reproduzir fitas nacionais. Luiz Renato deu um jeito nisso. Incentivou a indústria nacional e acabou liderando campanha nacional contra a pirataria. Na época, fizemos juntos o primeiro (e único) “Guia de Filmes em Vídeo” editado no Paraná.

No início do novo milênio, Ribas prenunciou o fim das locadoras de DVDs e blue-rays. Transformou a sua Vídeo 1 em Cine Vídeo 1. Dotou-o de um extraordinário acervo cinematográfico e de memória paranaense e o ofereceu não apenas ao público cinéfilo, mas também a alunos, professores e pesquisadores. Com um simples toque de teclado, os interessados passaram a ter à disposição filmes de todos os gêneros, produzidos em todos os cantos do mundo, em quinze idiomas diferentes. Com outro toque, tinham acesso a entrevistas, palestras, aulas e conferências de personalidades da vida paranaense e nacional, além de a documentários sobre os mais variados temas. Parte do material foi arrecadada de entidades públicas e privadas, onde se achava solenemente esquecida. Parte foi produzida pela equipe do denominado Instituto Cultural Cine Vídeo 1, e depois serviu de base para o projeto Memórias Paraná, com o depoimento de expressivas figuras da vida paranaense.  

Assim foi, e assim sempre será, onde estiver, Luiz Renato Ribas Silva, um homem à frente do seu tempo. Segue em paz, irmão!

 

 

 

 

 

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