14:30Os gansos olímpicos

por Carlos Castelo

Há fatos que nos fazem questionar a sanidade humana: guerras, a bomba atômica, certas seitas fanáticas e a declaração de Imposto de Renda Pessoa Física.
O badminton, essa ilustre modalidade olímpica, também nos leva a descrer de nossa raça. Convenhamos, em que outro esporte dois adultos — supostamente em plena posse de suas faculdades mentais — se dedicam a balançar raquetes para lançar, para lá e para cá, uma peteca feita de cortiça e 16 penas de ganso?
O ceticismo em relação ao Homem aumenta ainda mais quando Paris se prepara para colocar holofotes num gênero onde força física e estratégia intelectual se assemelham a uma batalha medieval — só que, em vez de elmos, usam-se plumas.
O esporte recebeu esse nome após ser praticado na propriedade do Duque de Beaufort, chamada Badminton House, em Gloucestershire, Inglaterra, na década de 1870. Foi lá que começou a ganhar popularidade entre a aristocracia britânica. Com o gosto dos ingleses pelos jogos de azar, o badminton logo se tornaria betminton, inundando agora o Brasil de casas de apostas, comerciais de TV discutíveis, e denúncias de John Textor.
Mas voltemos a Paris, em 2024. Imagine a pressão psicológica das arquibancadas lotadas: os badminters segurando a respiração a cada rebatida. “Será que a peteca vai, afinal, cair?”, pensam eles, cheios de adrenalina. Então, de repente, uma raquetada e ponto. O foguetório em volta da quadra é ensurdecedor, um torcedor pula o alambrado, tenta abraçar seu ídolo. A fumaça atrapalha a ação dos policiais, começa o quebra-quebra na geral. Por fim, roubam a peteca e o juiz cancela o jogo.
Contudo, independente desses eventos violentos inerentes ao badminton, não se deve subestimar a técnica envolvida na modalidade. Para dar um bom tapa na peteca, é necessário precisão cirúrgica, algo como fazer um objeto de quatro gramas se deslocar feito uma granada lançada numa trincheira inimiga.
Já é possível imaginar as manchetes das finais parisienses: “A duras penas, Japonês Kento Momota submete dinamarquês Axelsen e leva o ouro”.
No entanto, sejamos justos: em um mundo onde o curling — a fascinante arte de varrer pedras no gelo — consegue ter seu espaço nas Olimpíadas de inverno, o badminton precisaria ter seu merecido lugar nos pódios. Nada como uma bolinha cheia de penachos voando para nos lembrar das peculiaridades e absurdos da condição humana, onde aquilo que parece disparatado pode ser, no fim das contas, ainda mais ridículo.
Por outro lado, Olimpíada é o momento mais solene do esporte. Sendo assim, respeite-se o badminton ou empetequemo-nos todos!

(Publicado em Crônicas Olímpicas)

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