14:54Derrama

de Viriato Gaspar

Farei deste silêncio uma canção
e de todo este escuro, uma alameda.
E se vier o sol, que me conceda
o milagre de encher o coração
com essa claridade que faz boa
a vida, e põe guirlandas no fugaz
dos instantes que vêm como fumaça
por trás de quanto dói e me trespassa,
órfão de mim, senhor de tanto faz.
Não morar no que passa e o vento leva
mas arrancar fulgor do breu das trevas.
E de quanto vier rasgar o incerto,
um jeito de varar por meu deserto,
sem me perder de mim, sem peso ou drama.
Não fui amado. Mas meu dentro ama
o que guardei de mim, por trás do vulto
que ambulo pelo mundo, em que me oculto
e cavalgo o Saara dos meus dias,
sem me perder da luz, destino e guia.

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