8:27POESIA

por Nilson Monteiro

Poesia é crime. Tentativa de assassinato do primarismo formal, da exaltação piegas ou da pretenciosa guerrilha da palavra. Proposta do assassinato da leviandade, do xerox criativo, da miudeza artística. Seu sangue está no antidogmatismo, tinta rubra entre as veias. A dúvida é o motor do mundo. Poesia é dúvida. Dúvida sensível, osso, nervo exposto, provocação, polifonia, eletricidade, mansidão, borrasca, sonho, interpretação, música. Sensibilidade. À flor ou a recheio da pele.
A poesia é a arte do conflito. William Carlos Willians, médico e um dos maiores poetas americanos, escreveu que “os poetas são malditos e não são cegos. Eles enxergam com os olhos dos anjos”. Enxergam também com olhos dos arrenegados, acho. Quer crime mais belo?
Poesia é aventura. Criação. Espinhos no cérebro. Valem as experimentações conteudistas e formais. Valem as espécies, os mistérios, os segredos e a dialética. De haikai a sonetos, de concisos a caudalosos, de frases a transes, de românticos a pontiagudos, de parnasianos a simbolistas, de musicais a áridos, de quilométricos a ciscos, de complexos a simples, multiplicam-se as interpretações, códigos e signos. Valem. Ou pouco valem.
“Cada poeta representa um momento” disse-o, e certo, Leminski.
Impossível fechar os olhos para a poesia dentro ou fora dos livros, no cinema, na pintura, na música, no dom, na publicidade, no jornalismo, na rede, no áudio, no som, no teatro, na dança, no sacro, no carrilhão, no laico, no velho, no contemporâneo, no moderno, no concreto, no cafona, na energia, no letreiro, na lama, no berreiro, no silêncio, na parabólica, no tanto e no nada, no líquido, no ar.
Impossível deixar de notar milhões de versos, muitos sem letras para parar em pé. Outros ainda mais anêmicos. Valem o crime ou a aventura? Ou um tênis furado aquece melhor os dedos e a alma?
Poesia é desconstrução. Poesia é miragem. Poesia é contravenção. Poesia é comunhão. Poesia é trabalho. Suor de amor, de ódio, de agonia, de saudades, de raiva, de paz, de paixão, de solidão, de pureza, de amargura, de beleza, de infinitos, de trágico, de dentes trincados contra o banal…De leviano basta o mundo. De vazio basta o saco. O lixo deveria ser o destino.
Do que adiantam a inspiração estéril, a escrita asfixiada ou a arrogância de pretenciosos? Burilar, mexer, reescrever, transmutar, ressuscitar, renegar, rasgar, apagar, viver e um caminhão ou um trem de verbos são células de poesia, fazem parte dessa arte. Rimam. Ou desanimam.
Tecer poesia não é fácil. Onde achar espigas de sol, bagos de terra, nacos de céu?
Que sei eu dessa aventura?
Nomes? Seria injusto.

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