por Nilson Monteiro
Sou inocente ou exigente (ou equivocado) demais ao estranhar jornalistas da RPC comemorando ontem a chegada de uma nova plataforma (não sei se esse é o nome), “Radar”? Adaptada ao aplicativo do jornalismo da emissora, ela permite que o telespectador transmita, ao vivo, munido de um celular, áudio e imagem, fatos que interessem à edição do Jornalismo. Atualmente, aliás, repórteres já trabalham usando o celular para áudio e imagem… Tenho a impressão de que os cinegrafistas já podem procurar emprego.
Com a novidade de hoje, importada de Israel, anunciada quatro ou cinco vezes efusivamente pelos apresentadores do “Jornal do Meio-Dia” como uma forma de interação com os telespectadores, acho (ou seria ranhetice minha) que repórteres também podem preparar o couro. Ando meio desconfiado de tudo. Vou enumerar alguns exemplos que dão “suporte” à minha chatice.
1. Há alguns anos, a proprietária do mesmo grupo, perguntou o que eu achava da adoção do modelo de Navarra para seu jornal. O culto a esse tipo de “jornalismo” começava a se espalhar por alguns países. Eu respondi que para os patrões não saberia dizer o resultado da contratação dessa empresa de consultoria, mas que para os profissionais de imprensa que lá trabalhavam, ganhadores de um vagão de prêmios, inclusive internacionais, eu antevia pesadas sombras em futuro próximo. Nem sei se o modelo foi todo implantado, mas pouco tempo depois, todos saberiam o fim das dúvidas e do próprio jornal.
2. Décadas atrás, encontrei o Luiz Fernando Levy e lhe perguntei como os proprietários de jornais estavam encarando a ascensão da Internet, cujas ondas já nos batiam na bunda e poderiam representar para os patrões um duro concorrente no mercado e para os jornalistas, o olho da rua. Ele foi brincalhão: “Isso vai demorar muito tempo, muito tempo, fique frio”. Não demorou tanto, parece que os patrões não estavam preparados e, pouco tempo depois, não só a previsão do Levy naufragaria como a Gazeta Mercantil, de só uma facada, cortou 150 jornalistas. E, uma titica de tempo à frente, aquele que era o maior de Economia da América Latina, assim como vários outros jornais, fechou as portas;
3. Os profissionais de Esporte, especialmente de futebol, coçaram o bolso e muitos perderam o emprego, há bem pouco tempo, quando alguns passaram a transmitir e comentar os eventos direto… “do estúdio”, em jogada aliada à avalanche de contratação de ex-atletas de várias modalidades, substituindo jornalistas, especialmente em TV, rádio etc.;
4. Em 1976, alguns jornalistas da “Folha de Londrina” organizaram, dentro da Redação, um alegre cortejo fúnebre, comemorando o fechamento do jornal “Panorama”, nascido, segundo devaneios do Paulo Pimentel, para ser um dos maiores jornais do Brasil. Estranhei. Haviam sido colocadas na rua (entre Redação, Impressão, Circulação etc.) dezenas de pessoas. À noite, num bar, engasgado com o fim do “Panorama” e de nossos empregos, perguntei a um amigo que trabalhava na “Folha” se ele não achava esquisita uma comemoração daquela natureza, que inclusive acabava com postos de trabalho para dúzias de jornalistas. Ele tirou o rabo da reta. Meses depois, a “Folha”, para se adaptar aos novos tempos, começou a demitir ou substituir vários profissionais. PS: é preciso fazer um reparo: mesmo, ao longo de anos, sendo comprada por novos donos, com o enxugamento da Redação e de outros setores, a “Folha” ainda é um jornal de boa qualidade e um ícone de resistência do Paraná e especialmente da comunidade londrinense.
Sei, sei que estamos vivendo um novo tempo na Comunicação (inclusive com fakes que não existiam na era do papiro) . E que, enfim, pode ser uma besteira filha de minha ranhetice permanente. Ou uma reflexão qualquer.
Caro Nilson , e o povo burro . Pra aparecer vai fazer “reportagem “ sem receber um tostão . Contribuir para audiência sem ganhar nada . E o otário que fez faculdade de jornalismo ainda vai achar o máximo essa interação com o público . Vai vendo , vaaiii vendo .