Do G1
Morre Paulo César Pereio, nome histórico do cinema brasileiro
Ator tinha 83 anos e estava internado para tratar problemas hepáticos. Pereio fez mais de 60 filmes e também teve atuação marcante na TV. Velório será em cinema em Botafogo, na terça.
O ator Paulo César Pereio morreu na tarde deste domingo (12), no Rio de Janeiro. Ele tinha 83 anos. A informação foi confirmada pelo Hospital Casa São Bernardo, onde ele estava internado.
De acordo com a unidade de saúde, o ator estava em tratamento de uma doença hepática avançada e foi levado ao hospital durante a madrugada, já em estado grave.
O velório será no cinema Estação Net Rio, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, na terça-feira (14), das 10h às 15h. O corpo será enterrado às 16h30 no Cemitério São João Batista, no mesmo bairro.
Paulo César Pereio nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940. Tem trabalhos marcantes na TV, no teatro e no cinema.
Considerado um ícone da rebeldia, atuou em mais de 60 filmes e trabalhou com cineastas importantes como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana e Ruy Guerra.
Pereio atuou em “Terra em transe”, de Glauber Rocha, em “Toda Nudez Será Castigada” e em “Eu te amo”, ambos de Arnaldo Jabor.
Também integrou o elenco de “Roda Viva”, peça de Chico Buarque encenada por Zé Celso Martinez Corrêa no fim dos anos 1960.
Homenagens da família
Pereio foi casado três vezes e teve quatro filhos, dois deles com Cissa Guimarães. A atriz e apresentadora postou uma homenagem ao ex-marido neste domingo.
“Eu era uma menina e você me mostrou o mundo e o amor pelo nosso ofício. Fizemos filhos e história, meu amor, e agora temos nossos netos lindos para continuar nosso amor, que será sempre eterno!”, escreveu Cissa.
Cissa Guimarães presta homenagem a Paulo César Pereio, com quem foi casada
O ator João Velho, filho dos dois, agradeceu as mensagens de apoio e destacou a importância do pai.
“Morre com ele um pouco da história do cinema, da nossa cultura. Ao mesmo tempo [em] que é um dia de tristeza, também é de celebração, pois o meu pai sempre viveu a vida com muita intensidade”, afirmou João.
Personagem controverso
Em entrevista concedida em 2010 ao jornalista Geneton Moraes Neto, na GloboNews, Pereiro afirmou que construiu a própria imagem pública de pessoa controversa.
“Construo este mito, para ser pouco incomodado. É uma espécie de self-art. Pereio, na terceira pessoa, é obra minha. Posso ser considerado no Brasil uma celebridade. As pessoas me reconhecem na rua. Mas posso me dar ao direito de sair sozinho por aí, subir morro, andar na banda podre e na baixa sociedade, tranquilamente. Sei como não ser vítima disso. Conheço atores brasileiros que têm de fingir que são outra pessoa para sair na rua”, disse o ator.
Sobre a convivência com Nelson Rodrigues, ele reunia histórias.
“Às vezes, Nelson ia ao meu camarim para fumar e tomar cafezinho escondido, porque tinha uma médica que não deixava. Mas ela não podia entrar nos camarins e ele podia. Aí ele ia no meu camarim e dizia barbaridades assim: ‘Pereio, todo canalha é magro!’. Respondi: ‘Isso é arbitrário!’. E ele: ‘Em 97% das vezes em que sou arbitrário, eu estou certo’. Ele deu 3% de gorjeta.”
Pereio afirmou que, ao longo do tempo, transformou-se em uma mais tranquila e equilibrada. Principalmente após os 60 anos.
“Não me lembro de ter sido tão equilibrado. O desequilíbrio sempre produz certa ansiedade. Tenho momentos de calmaria que são muito bons. Baboseiras de que minha infância foi uma coisa muito boa. A juventude só é boa porque a gente tem tesão e não brochou. Mas serenidade, tranquilidade e a ideia de momentos felizes passei a ter depois dos 60 anos. E tenho melhorado! Tenho muito orgulho de ter saúde, apesar de tudo o que fiz”, afirmou.
No documentário “Tá rindo de quê?”, sobre o humor na ditadura militar, Pereio falou sobre a dificuldade para driblar a censura.
“Eu improvisava muito. Eu vou improvisar? Tem que dizer um texto enviado para a censura, carimbado, e tem que ser aquele texto. E qualquer improviso será castigado”, disse Pereio.
Entre os trabalhos na televisão, Pereio atuou em “Partido Alto”, “Roque Santeiro”, “Mandala”, “O Salvador da Pátria”, “A Viagem” e “Duas Caras”.
Conhecido pela voz grave, Pereio fez muitos trabalhos na publicidade.
“É um trabalho que eu levo muito a sério e considero tão artístico como qualquer outro. De vez em quando, os publicitários fazem obras de arte em 30 segundos. E acho que a publicidade influencia a linguagem de cinema e televisão”, disse Pereio em entrevista ao programa TV Mulher, em 1981.
Mudança em 2020
Pereio vivia no Retiro dos Artistas desde 2020, no começo da pandemia de Covid-19. Em entrevista ao Jornal Extra, ele disse que deixou São Paulo e buscou a entidade no Rio de Janeiro para se sentir protegido.
“Estou aqui desde o começo da pandemia, dessa crise do coronavírus. Achei que vir para cá seria uma maneira de me salvar. Vim para sobreviver. Eu moro em São Paulo, tenho meu apartamento lá. Não teve outro jeito. Mas estou bem de saúde. Nunca na minha vida trabalhei por dinheiro. Trabalhei bastante e nunca fiquei nem estou na penúria. O fato de eu estar aqui pode dar a ideia de que o cara está retirado, mas não estou. Ando aqui com uma tranquilidade absoluta, o que eu não poderia fazer na rua. Aqui tenho comida, sou bem cuidado e estou protegido”, afirmou Pereio.
O ator Stepan Nercessian lamentou o falecimento do amigo.
“Era um irmão. Eu digo que a morte não é do feitio dele. Pereio é vida. A gente contracenou pouco no palco, no cinema. Mas, se a vida é um eterno palco, talvez tenha sido o ator com quem eu mais trabalhei”, disse Stepan.
A atriz Zezé Motta também lembrou o legado de Pereio.
“Perdemos um ícone do nosso cinema. Descansa meu amado Pereio. Quantos trabalhos icônicos e marcantes na TV, teatro e no cinema. Paulo César Pereio era residente no Retiro dos Artistas. Foi muito bem cuidado e amado. Já deixa saudades”, afirmou a atriz.