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Ao mestre, com saudade

por Célio Heitor Guimarães

Se vivo estivesse, Mussa José Assis teria completado nessa quarta-feira 06/03 oitenta anos de idade. Para comemorar a data, Dante Mendonça, lançado no jornalismo por Mussa, convocou os velhos companheiros de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná para uma reunião-jantar no tradicional Bar Palácio. 

Mussa José Assis, caipira de Pompeia (SP) forma, até hoje, entre os meus tipos inesquecíveis. Como profissional e como ser humano. Foi uma figura notável, da qual dava gosto ser amigo e um grande privilégio ter sido seu discípulo. 

Como jornalista, Mussa honrou como poucos a profissão. Soube sempre modernizar-se, adaptar-se aos novos tempos da imprensa, sem afastar-se dos valores essenciais da atividade. E soube como poucos aliar opinião com imparcialidade, informação com ética, amizade com dever, poder com simplicidade e, sobretudo, trabalho com dignidade. Formou gerações de jornalistas, descobriu talentos e pavimentou o caminho de centenas de jovens, tornou-se confidente e conselheiro de autoridades e políticos das mais variadas tendências, e privou do poder, sem perder jamais o respeito e a integridade.

Quando a imprensa passou a pautar-se pelo press release e curvar-se aos poderosos, Mussa soube como deixar uma janela aberta para os inconformados, entre os quais ele próprio, defendendo, mesmo com enorme desgaste pessoal, a liberdade de expressão, coisa rara na mídia nacional.

Estive com Mussa na velha Última Hora, de Samuel Wainer, uma das maiores escolas de jornalismo que o Paraná conheceu. E com ele aprendi, entre outras lições, uma em especial, da qual ele talvez nem mais lembrasse: a de tratar bem o texto, a partir da limpeza do original. Éramos certamente os únicos, na redação da Voluntários da Pátria, cujas laudas não continham sequências de xis e correções manuais à margem. Não nos importávamos de passar a limpo os textos que escrevíamos, dando-lhes uma redação final devidamente corrigida; ao contrário, fazíamos questão disso – para espanto (e até irritação) dos colegas.

Por obra e inteligência de Paulo Pimentel, nos últimos tempos, Mussa comandou O Estado do Paraná. E o jornal era a cara dele. Talvez não tanto quanto ele gostaria, mas o máximo possível. Com isso, era, então, um dos poucos veículos difusores da livre opinião no País. Dou aqui o meu testemunho pessoal. Sob a batuta de Mussa, completei treze anos de colaboração no jornal. Tinha consciência de que, se meus desabafos semanais às vezes eram pueris, saudosistas e com alguma graça, normalmente surgiam provocativos e até atrevidos, embora sempre sinceros. Pois todos eles foram preservados na íntegra, sem alteração de uma vírgula sequer, a não ser quando ela se apresentasse fora do lugar.

Tudo isso era obra de Mussa José Assis. E sabe o leitor por quê? Porque para Mussa, por justiça e merecimento, a liberdade deve estar acima de tudo. E junto dela, em igualdade de condições, a verdade e o respeito ao leitor.

Para Mussa José de Assis, o jornalista sempre foi uma espécie de herói marginal – como diria o gaúcho Fausto Wolff, mais de cinquenta anos de profissão –, incapaz de tornar-se uma espécie de poodle de divã ou office boy do poder. E isso ele transmitiu aos filhos e aos amigos, que lhe queriam bem e hoje têm imensa saudade dele.

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