O autor do texto a seguir é um dos melhores jornalistas do país. Na semana onde mais um episódio do horror explodiu na Faixa de Gaza, publicou um ensaio na revista digital Humanitas, da Unisinos, do Rio Grande do Sul, fruto de um trabalho de 3 meses de pesquisa em sites e arquivos de Israel, Alemanha e EUA. É inédito na imprensa brasileira, “pela abrangência, pela crítica histórica e pelo tom”, ele mesmo explica em mensagem enviada ao signatário. O ensaio completo, de 20 mil palavras, está no link encontrado no fim do texto abaixo publicado também no site Rede Estação Democracia. Assim como ali, não é demais lembrar que ele expressa o pensamento do autor. Os que concordam ou pensam diferente podem se manifestar nos comentários ou no email deste blog ([email protected])
De LUIZ CLÁUDIO CUNHA*
Os primeiros comentários sobre a reação de Israel ao ataque terrorista do Hamas, mencionando nazismo, me pareceram sem propósito. Afinal, falar em ‘judeu nazista’ parecia uma clara contradição em termos, pura antinomia. Como assim, judeu nazista? Ao longo dos dias, enquanto se intensificavam os bombardeios de Israel sobre Gaza, ampliando as mortes de crianças, mulheres e civis inocentes, a expressão se naturalizou pela brutalidade crescente da impiedosa ação militar das tropas de Netanyahu.
Comecei a procurar, então, o fio que dava nexo àquela expressão aparentemente esdrúxula. Gaza, cercada por muros, cercas eletrificadas e tropas armadas, é tecnicamente um gueto onde vivem confinados 2 milhões de palestinos. Dentre os 400 guetos criados por Hitler na Europa ocupada, na Segunda Guerra Mundial, o maior deles era o de Varsóvia, onde vivia a maior comunidade judaica do continente. Seus 350 mil habitantes foram confinados numa área de 3 km² – um drama humano semelhante aos 2,2 milhões de palestinos virtualmente encarcerados em 365 km².
Com esses números perversos, foi possível estabelecer a simetria terrível entre Varsóvia e Gaza, com um detalhe assustador: a macabra inversão de posição entre os judeus perseguidos de 1943 e os judeus perseguidores de 2024. A estupidez é a mesma, os uniformes é que são distintos.
Durante três meses, pesquisei arduamente em arquivos de jornais e sites de museus em Israel, Alemanha e Estados Unidos dedicados aos massacres de judeus. Selecionei 90 fotos dramáticas que contam, graficamente, um pouco do terrível drama humano vivido por milhões de pessoas no cerco inclemente que Israel faz contra mulheres e crianças. Um drama que passa batido pela distante e fria imprensa brasileira, que não foi e não está lá. Nenhum dos três grandes jornais do país mandou um enviado especial para sentir, de perto, o calor e o sofrimento vivido por civis inocentes. Uma das páginas mais vergonhosas do jornalismo brasileiro!
A Humanitas, respeitada revista on line da Unisinos, teve a rara coragem editorial e a aguda percepção histórica para acolher esse texto, que é inédito na imprensa brasileira – pelo tom, pela abrangência e pelo recorte histórico, que ajudam a entender melhor o massacre que ocorre em Gaza.
Leia neste link a íntegra do ensaio publicado pela Humanitas para captar a brutalidade de Netanyahu que a imprensa brasileira, por comodismo ou conivência, esconde.
*Jornalista, é autor de Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios (ed. L&PM, 2008) e foi consultor da Comissão Nacional da Verdade (CNV), no grupo de tarefa que investigou a Operação Condor e as conexões repressivas do Cone Sul ao tempo da ditadura.
Palestinos morrendo dá ibope, reportagem indignada, ensaio “jornalístico”, likes e afins, ucranianos sendo diariamente assassinados em escolas, igrejas, museus e principalmente em suas casas, não.
Nem nota de repúdio de nosso governo “demonicrata” e seus seguidores, bajuladores ou coisa que o valha.