16:37A justiça e Pablo Neruda

por Cláudio Henrique de Castro

O Tribunal de apelações de Santiago, no Chile, determinou a reabertura da investigação sobre a morte do poeta Pablo Neruda, vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 1971.

Foi revogada a decisão anterior de dezembro de 2023 por não ter esgotado todos os procedimentos para os esclarecimentos dos fatos (pjud.cl).

Há a suspeita de que o Neruda foi envenenado pelo regime de Pinochet.

O motorista de Neruda, o Sr. Manuel Araya, afirmou que em 1973, logo após o golpe militar que assassinou Salvador Allende, o poeta recebeu uma injeção letal dos agentes da junta de Pinochet. Eles entraram clandestinamente na Clínica Santa Maria onde o poeta estava sendo tratado de um câncer.

O veneno constituía-se da bactéria clostridium botulinum, uma potente neurotoxina, que talvez teria sido produzida no Brasil.

No Chile não houve a anistia e nem outros expedientes que garantiram a impunidade dos componentes e apoiadores do regime autoritário.

A morte do opositor de Pinochet teria sido encomendada pela operação Condor, uma estratégia secreta das ditaduras latinas que envolvia o assassinato dos líderes políticos do Chile, Brasil, Argentina, Bolívia, Peru, Uruguai e Paraguai.

A operação conectou aparatos repressivos para realizar incursões nos territórios desses países, na busca conjunta para prender, torturar, assassinar e desaparecer pessoas que eram contrárias aos regimes militares do cone sul.

As pessoas eram presas e entregues aos governos estrangeiros – e tudo era feito à margem da lei. Não havia processo de expulsão, deportação ou extradição. Sem nenhuma formalização legal, elas foram submetidas a prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados.

Sobre o tema está sendo produzida uma série TV, Operação Condor, em sete episódios, que está sendo rodada desde fevereiro deste ano (ABI).

Investigar a verdade histórica é um dever dos Estados envolvidos, inclusive do Brasil, apesar da lei de anistia brasileira.

“Poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera” (Pablo Neruda).

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