por Renato Terra, na FSP
Reflexões sobre a goleada da direita na batalha dos apelidos
Dos anos 2000 pra cá, jovens de direita souberam se apropriar muito bem da internet. Foi mamando nas tretas que alguns movimentos surfaram nos algoritmos e se tornaram famosos. Memes eficientes impulsionaram narrativas. Virais distópicos ajudaram a eleger deputados, senadores e até um presidente.
Mas nem só de ódio e desinformação vivem as redes sociais.
A direita soube se unir pelo humor. Achou seu tom. Soube encontrar elementos em comum para dar risada. Dentro de sua visão de mundo, encaixou críticas matadoras em forma de piada. Como faz ao ridicularizar a linguagem neutra, estratégia eficiente para deslegitimar alguns movimentos afirmativos.
Mas se tem algo que admiro na direita é a sua capacidade de criar apelidos antológicos.
Apelidos têm uma capacidade imbatível de reduzir as características de uma pessoa (ou grupo) a uma imagem cômica. Quando encaixam com perfeição, se propagam como fogo em rastilho de pólvora.
Em 2016, num debate pela Prefeitura de São Paulo, João Doria soube usar um apelido contra Marta Suplicy: “O que a população lembra de seu mandato são as taxas, os impostos, e que fez com que você ganhasse o apelido ‘Martaxa’”.
Reinaldo Azevedo, quando pendia para a direita, teve sua fase apelidatória mais inspiradora quando cunhou o termo “petralha”.
A alcunha “mortadela” foi muito eficiente para achincalhar militantes de esquerda. “Pixuleco” formou uma geração. Até mesmo os escândalos de corrupção ganharam apelidos: “Mensalão”, “Petrolão”, por exemplo, foram certeiros na missão de carimbar a pecha nos petistas, empregando um aumentativo difícil de não ser notado. “Orcrim”, abreviação de organização criminosa, também foi bastante disseminada. Outras elaborações menos inspiradas ficaram pelo caminho: “Luladrão”, “Nove dedos”, “Nine”, “Dilmanta”.
Quem primeiro usou, ainda que de modo involuntário, o termo “Bananinha” para se referir a Eduardo Bolsonaro foi o ex-vice Hamilton Mourão.
Mas, depois de anos inspirados, talvez a direita tenha erguido a Capela Sistina dos apelidos: quando Frederick Wassef se embananou com Jair Bolsonaro na questão das joias, o advogado passou a ser chamado de “Wasséfalo”.
Não quero aqui deslegitimar o trabalho brilhante de mentes anônimas da esquerda que cunharam pérolas como “minions”, “coxinhas”, “patriotários”, “Micheque” ou “Bozo”. Mas, convenhamos, dá pra fazer melhor.
Hoje é possível constatar que na batalha (impressa e auditável) dos apelidos, a direita está anos-luz à frente.