A repórter Catarina Scortecci fez um retratão detalhado do panorama da disputa para a prefeitura de Curitiba na eleição do ano que vem. Publicado na Folha de S.Paulo, o resumo é o o mesmo que da maioria que enxerga a política na capital da província e, por enquanto, não vê possibilidade de alteração até a contagem dos votos. O título e subtítulo dizem tudo: “Vice une máquina estadual e municipal em Curitiba para 2024 e oposição vive dilema”; “Sem Deltan, neto de ex-governador consolida pré-candidatura com apoio do grupo do governador Ratinho Junior”. Confira a íntegra da reportagem:
A mais de um ano das eleições de 2024, políticos interessados na disputa pela Prefeitura de Curitiba se movimentam para conquistar a principal cadeira do Palácio 29 de Março.
O grupo da situação começou a articulação mais cedo —uma aliança costurada ainda na corrida eleitoral de 2020 entre o governador Ratinho Junior (PSD) e o atual prefeito Rafael Greca (PSD), reeleito naquele ano, facilitou a vitória e também deu as bases para a chapa que deve ser encabeçada no ano que vem por Eduardo Pimentel (PSD).
Neto do ex-governador do Paraná Paulo Pimentel e vice-prefeito de Curitiba desde 2017, Pimentel também foi nomeado secretário no Governo do Paraná, no comando da pasta de Cidades, no início de segundo mandato de Ratinho Junior.
Seu irmão, Daniel Pimentel, está à frente da Copel (Companhia Paranaense de Energia) desde 2019.
Apesar da máquina em torno do seu nome, Pimentel foi pouco testado nas urnas –antes de ser vice, nunca exerceu mandato eletivo. E carrega uma derrota na eleição de 2010, quando tentou ser deputado estadual pelo PSDB.
Já as siglas de oposição, como PT, PDT e PSB, repetem um dilema de eleições anteriores e hoje se dividem entre lançar candidatos próprios ou formar uma frente ampla de esquerda.
Há quem defenda uma aliança apenas em um eventual segundo turno, diante da dificuldade que seria chegar a um nome de consenso para a cabeça da chapa.
O nome do deputado federal Luciano Ducci, que já se apresenta como pré-candidato do PSB, enfrenta resistência entre petistas locais, por causa dos laços do passado com o PSDB, especialmente em uma época em que os tucanos ainda tinham protagonismo no embate com o PT.
Ducci foi vice de Beto Richa (PSDB) e comandou a prefeitura a partir da saída do tucano para o governo paranaense. No ano passado, com a entrada de Geraldo Alckmin no PSB e a aliança nacional com o PT de Lula, lideranças do PSB curitibano abandonaram o barco, migrando para o PSD de Ratinho Junior. Ducci permaneceu no PSB e chegou a integrar a equipe de transição de Lula no final de 2022.
Entre petistas resistentes ao nome de Ducci para encabeçar uma eventual frente ampla da esquerda estão aqueles que são simpáticos ao nome do deputado estadual pedetista Jorge Brand, o Goura, que foi o adversário de Greca na eleição de 2020 e é tratado como um nome natural do PDT para 2024.
Naquele ano, Greca foi reeleito já no primeiro turno e Goura ficou em segundo lugar, com mais de 13%. Goura é um defensor da frente ampla de esquerda, mas mantém o nome à disposição para as urnas.
O PT nunca comandou a Prefeitura de Curitiba, mas ajudou a eleger Gustavo Fruet, do PDT, na eleição de 2012. Para 2024, em uma eventual candidatura própria, há uma lista de nomes ventilados como possibilidade pelos correligionários, como o deputado federal Tadeu Veneri, a deputada federal Carol Dartora e o deputado estadual Maurício Requião, por exemplo.
A Prefeitura de Curitiba também nunca foi comandada por uma mulher.
Entre a máquina estadual e municipal garantida a Eduardo Pimentel por Greca e Ratinho Junior e a discussão do campo da esquerda, ainda circulam nomes com potencial eleitoral e capazes de embaralhar o cenário pré-eleitoral, como o do ex-deputado federal Paulo Martins (PL) e o do deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil).
Tanto Paulo Martins quanto Ney Leprevost, embora sejam adversários de Greca, são próximos de Ratinho Junior e ainda acreditam que podem conseguir o apoio do governador, a despeito das articulações em torno de Eduardo Pimentel. “O governador pode correr com dois cavalos”, disse Martins à Folha.
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Paulo Martins se declara um pré-candidato de direita. No ano passado, protagonizou nas urnas uma disputa acirrada com Sergio Moro (União Brasil) na eleição do Senado e superou nomes mais conhecidos da política paranaense, como Alvaro Dias (Podemos). Durante a campanha, Martins teve o engajamento pessoal de Ratinho Junior, de quem é amigo.
Moro acabou vencedor daquele pleito, mas o PL de Martins cobra investigação da Justiça Eleitoral sobre os gastos da campanha do ex-juiz federal. Possíveis desdobramentos disso, como uma eventual cassação de Moro, estão sendo acompanhados com atenção pelos partidos no Paraná, que comentam sobre a possibilidade de uma eleição suplementar para o Senado.
Há outra incógnita entre os partidos. O ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos) também tinha o nome ventilado para disputar a Prefeitura de Curitiba do ano que vem, mas o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tirou seu mandato de deputado federal recentemente, ao apontar que ele estava inelegível quando se inscreveu na eleição para a Câmara, no ano passado. Deltan ainda recorre, embora uma reviravolta no STF (Supremo Tribunal Federal) seja considerada improvável.
Já o deputado estadual Ney Leprevost tem na conta o desempenho de 2016, quando foi para o segundo turno com Greca, tirando do jogo o então prefeito e candidato à reeleição, Gustavo Fruet (PDT). Em 2020, então filiado ao PSD, Leprevost era o principal obstáculo para a reeleição de Greca, mas acabou desistindo da disputa, após a consolidação da aliança entre Ratinho e Greca. Mais tarde, migrou para a União Brasil.
Agora, dentro do União Brasil, Leprevost pode não encontrar espaço para disputar a prefeitura em 2024, embora garanta que tenha o respaldo do presidente da sigla, Luciano Bivar. No Paraná, a União Brasil é capitaneada pela família Francischini, que insinua uma aliança com o PSD de Eduardo Pimentel.
Na chapa ventilada com o PSD, a deputada estadual Flávia Francischini (União Brasil) sairia candidata a vice-prefeita. Outra possibilidade seria uma candidatura própria, mas via deputado federal Felipe Francischini (União Brasil), filho do ex-deputado federal Fernando Francischini, cassado pelo TSE por fake news sobre as urnas eletrônicas e hoje com cargo comissionado na gestão Ratinho Junior.
Mas outros partidos também estão de olho na cadeira de vice de Eduardo Pimentel, como o PP da família Barros. Uma das articulações envolve o nome da deputada estadual Maria Victoria (PP), filha de Ricardo Barros, deputado federal licenciado e secretário de Ratinho Junior.
Os bolsonaristas Barros e Francishini integram a ampla aliança que deu respaldo à reeleição de Ratinho Junior, no ano passado.
Só há uma possibilidade para combater às máquinas oficiais e os conservadores: uma frente ampla encabeçada pelo Goura! O resto é devaneio!