De Vilmar Farias
O jornalista Marcelo Tas apresenta toda terça-feira na TV Cultura o programa “Provoca”, de entrevistas, no qual recebe personagens importantes da vida nacional. Assisto sempre que o assunto me interessa. Mas o que chama a atenção é a pergunta que encerra o programa: “O que é a vida?”. A questão provoca nos entrevistados segundos de perplexidade. Alguns com clara dificuldade para responder. Outros vão no sentido de que a vida é estar aqui. Viver o agora… e por aí.
Percebe-se que o mais importante, o sucesso de sua existência, que é a vida, passa ao lado, a ponto de o entrevistado ficar embasbacado com a pergunta.
Em um pequeno manual para viver com alegria, a escritor Ana Cláudia Quintana Arantes, médica geriatra, especializada em ‘cuidados paliativos’, ensina como viver: “Chegar ao fim da vida depende de uma série de fatores, mas poucos são mais significativos do que a qualidades das relações humanas que desenvolvemos ao longo da nossa existência”.
Em um estudo feito em Harvard sobre o desenvolvimento da fase adulta do ser humano, o surpreendente é a conclusão de que nossos relacionamentos e o quão felizes estamos neles, exercem poderosa influência sobre a nossa saúde.
Quando saio pelas ruas do bairro do Cabral, encontro muitos seres classificados como em situação de rua. Dias desses, presenciei uma abordagem pelo Serviço Social. O homem não queria entrar no veículo para ser levado a um lugar melhor, de proteção, sobretudo para as temperaturas muito baixas à noite. Depois de muita conversa, contrariado, ele entrou no carro. Mas o que me chamou a atenção foi o amigo (talvez a família) do cidadão, que permaneceu na calçada e, agoniado, dava voltas em torno do veículo, apoiando as patas e arranhando a lataria, querendo entrar.
Indaguei aos atendentes se não poderiam levar o cachorro, e confesso que fiquei emocionado com a compassividade desses profissionais que salvam vidas, pois o cachorro foi levado junto. Aí, conclui que a vida é isso: compaixão. É um olhar o outro.
Quando se vê pessoas dormindo nas calçadas, precariamente vestidas, sem proteção, muitas vezes (quase sempre) alcoolizadas, à espera de um prato de comida, indagamos se a sociedade as abandonou. Mas o que se vê nos olhos dessas pessoas é a condição de autoabandono. A vida já não mais lhes interessa, entregues que estão aos desígnios primários da sua condição sócio-biológica, enquanto essa pulsar em seu peito.
E então, amigo leitor, o que é a vida? Mas não precisa responder porque, de repente, você pode descobrir “que tudo era para sempre, sem saber que, para sempre, sempre acaba”, como já dizia Renato Russo.
Muito bom texto para refletir!!
A vida é amar o outro sem pedir nada em troca!
Cada momento é um aprendizado!