por Mario Sergio Conti, na FSP
Wolfgang Streeck alerta para manipulação americana do conflito, que terceiriza negociação para lucrar com armas
Um ano e três meses depois de a Rússia invadir a Ucrânia, a guerra que iria durar dias, na opinião maciça dos famigerados especialistas, feriu e matou mais de 350 mil pessoas. Não há vitória militar, armistício ou acordo diplomático à vista.
Os palpiteiros continuaram a fazer previsões e não acertaram uma. Profetizaram que as sanções econômicas quebrariam as pernas de Putin —e ele segue firme. Que a ofensiva ucraniana de maio seria fulminante —e o mês acabou com o recuo de Zelenski em Bakhmut.
Previsões erradas são parte da névoa da guerra, expressão derivada de uma frase de Clausewitz, o patrono dos estudos bélicos. Ele disse: “a guerra é o reino da incerteza; três quartos dos fatores que orientam a ação estão envoltos numa névoa de incerteza”.
Wolfgang Streeck não prevê, estuda. Diretor emérito do Instituto Max Planck, o sociólogo alemão tem escrito artigos objetivos sobre o conflito. No último deles, traduzido pelo site Outras Palavras, usou um termo italiano para falar da névoa da guerra na Ucrânia: “dietrismo”.
A expressão vem de “dietro”, atrás. Pode ser traduzida para “detrasismo”, um neologismo horrível. O “detrasismo” crê que os fatos divulgados pelos poderosos são enganosos, e então busca a verdade detrás deles. O “detrasismo” vai da interpretação de boa-fé a teorias conspiratórias.
Um exemplo nacional de “detrasismo” —logo de pouca força no destino da guerra, dada a desimportância do Brasil. O Planalto anunciou neutralidade. Alinhou-se aos que buscam o fim do morticínio e o início de negociações de paz.
Logo vieram os “detrasistas”. Disseram que o anúncio era névoa; visava a esconder a verdade detrás da atitude do Planalto: Lula quer engraxar as botas de Putin e ganhar o Nobel da Paz.
Streeck dá como exemplo de “detrasismo” um dos fatos mais espetaculares da guerra, a explosão do Nord Stream. Com 1.200 km, é a tubulação mais longa do mundo. Atravessa o mar Báltico e leva gás natural da Rússia para a Alemanha, que dali é vendido na Europa.
Na véspera dos combates, Biden disse que a segunda fase do Nord Stream 2 não entraria em operação se a Rússia invadisse a Ucrânia. Veio a invasão e a tubulação foi explodida. Era óbvio quem a explodira: dois mais dois são quatro.
Mas Estados Unidos, Europa e Ucrânia silenciaram. Idem a imprensa ocidental. Até que Seymour Hersh, o lendário jornalista de assuntos militares e espionagem, publicou no seu site uma reportagem minuciosa. Mostrou que a sabotagem fora feita por Washington.
O “detrasismo” contra-atacou com uma reportagem inconcebível no New York Times. Disse que seis ucranianos, sem ligação com Zelenski, perpetraram o ataque. Detalhe bisonho: com uma lancha alugada. A notícia não se destinava a esclarecer o atentado, mas a enevoar o relato de Hersh. Streeck analisou documentos secretos americanos vazados sobre a guerra. Eles dizem que a corrupção campeia no governo Zelenski. Até aí, novidade zero. A Ucrânia era acusada de ser ultracorrupta —até o início da guerra.
A partir dela, as denúncias de ladroagem deram lugar à imagem de Zelenski como empresário do Vale do Silício. O jovem caucasiano de camiseta e jaqueta é contraposto ao mongol de lábios finos e olhos de peixe morto, Putin.
Os documentos são céticos quanto à vitória da Ucrânia. Apoiando-se em dados, Streeck conclui que os papéis foram vazados porque a Casa Branca receia se associar a uma eventual derrota, ainda mais desastrosa que as no Afeganistão e Iraque.
Por isso os Estados Unidos terceirizam a guerra para a Europa. Querem que seja financiada pela Alemanha. Assim, seria mantido em alta o mercado da morte: no ano passado, o mundo gastou US$ 2,24 trilhões em armas, 39% das quais feitas por indústrias americanas.
Esse é o interesse imediato, alerta Streeck. Pois para ele o ponto de fuga do balé geopolítico de Biden é o conflito, potencialmente bélico, com a China. É com ela que os Estados Unidos disputam mercados e indústrias.
É primavera na Ucrânia. Flores são depositadas sobre as covas dos milhares de mortos na guerra. Morreram pela pátria? O italiano Marco D’Eramo, outro sociólogo, lembrou há pouco algo que Émile Zola escreveu há cem anos, tendo como fundo a névoa da guerra.
O autor de “Eu Acuso” disse: “Achamos que morremos pela pátria; mas morremos pelos industriais. Esses mestres de nossa época têm três coisas necessárias aos grandes empreendimentos modernos: fábricas, bancos e jornais”.
Pela lógica do texto foram os industriais ocidentais que atacaram a Ucrânia.
Os americanos são os responsáveis pela continuidade dos ataques russos e a Ucrania deve ser destruída porquê lá há corruptos – no início era porque lá haviam nazistas.
E putin é só uma vítima do sistema…
Uma das mais esclarecedoras análises já publicadas para compreender o que se passa de fato no “teatro” da guerra da Ucrania.
O buraco e’ muita mais embaixo do que o seo José imagina. Recomendo a leitura do texto publicado pelo site “outras palavras”, que fundamenta boa parte dos argumentos do texto do Conti:
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/europa-quem-prepara-a-guerra-nuclear/
Francisco, o buraco continua no mesmo lugar, texto enorme mas feito para agradar a esquerda de iPhone.
Preste atenção que ele considera inicialmente que os EUA começariam um ataque nuclear na Ucrânia e termina dizendo que os ucranianos deveriam se deixar morrer para evitar mortes!?
Você deveria ler coisas melhores, este tipo de texto nao resiste a meia dúzia de perguntas lógicas.
E por mias que você esteja do lado do bandido (de novo), está errado
Putin é o genocida, criminoso de guerra, apoiado por mercenários e sim, invadiu um País livre e democrático.
Bom domingo.