por Thea Tavares
Há menos de uma semana, perdi um amigo. Como disse o Zé Beto, por inúmeras e as mais particulares razões, perdemos todos. Ele era dono de uma história de vida e de carreira profissional que lhe renderam inúmeras e verdadeiras homenagens, além de colherem sinceros reconhecimentos e sobre os quais eu não poderia me aprofundar por puro desconhecimento de causa. Nossos caminhos se esbarraram recentemente, nas esquinas das preferências literárias e de suas referências e símbolos de humanidades.
Dono, ainda, de uma escrita impecável e profundo conhecedor desse universo criativo, pela seleção e garimpagem das produções em prosa e verso, conseguia sempre me envergonhar por comentar um texto meu e, com isso, aumentar exponencialmente a responsabilidade em caraminholar ideias neste espaço. Tanto que, nessas vezes, sempre corria a conferir e reler (“lamber a cria”, como bem alfineta o Zé), para reparar se havia deixado passar alguma bobagem tremenda (via de regra, para não perder o costume), cometido gafes ou publicado um mico gigantesco, desses que sobem em prédio e derrubam helicópteros.
E quando a preguiça ou a autocensura prévia me impedia de enviar alguma crônica para o Blog do Zé Beto naquela semana!? Adivinha quem era a primeira pessoa a reclamar de autossabotagem, antes mesmo do blogueiro? Bingo! Lá vinha… E eu costumava dizer que já havia encontrado dois dos meus cinco leitores. Ele e um colega da “firma” legislativa, amigo desde os idos do milênio passado nos bancos do curso de Jornalismo da UFPR, que me encontra na lida e já dispara a pergunta: – Cadê?
Mas aquele meu amigo que foi viver no céu, ao lado do amor de sua vida, era especialmente um entusiasta dos rolês do casal Henrique e Helena, personagens dos meus “Fragmentos”. Fora a filha, a editora do livro e o escritor e jornalista Zeca Corrêa Leite, emoldurado como um dos grandes talentos da cultura e da literatura paranaenses hoje, que “peguei pra Cristo” na missão de redigir um dos prefácios, o amigo que partiu há menos de uma semana, fiscal da assiduidade de minhas invencionices, foi a única pessoa que leu os primeiros rascunhos de “Fragmentos”, antes que essa primeira versão dos originais fosse enviada à editora. E observe que, até a versão final-final de tudo, já lambi a cria “um par” de vezes, como se diz lá pelo interior.
Aliás, justamente uma pergunta que ele me fez alterou a redação de uma das últimas crônicas publicadas no livro. Ele nem chegou a saber que deixou mais essa contribuição ao trabalho, pois era uma surpresa que eu queria manter bem guardada até a versão impressa. Mas, no momento em que li seu questionamento, meu primeiro impulso foi o de reagir em armadura defensiva, com uma justificativa qualquer, gritada das entranhas egóicas da pessoa. Não demorou mais que esse tempo de responder e se arrepender da resposta para concluir que ele estava coberto de razão e o quão generoso estava sendo ao alertar para o que, num roteiro cinematográfico, seria comparado com um lapso de continuidade ou dissonância na trama.
É a prova também de que esse projeto foi interativo desde sempre. Trata-se de uma ficção composta de inúmeros grãozinhos de situações e de sentimentos bem reais e tão vulneráveis quanto a própria natureza humana. Na minha vaidade e alegria, vou sempre me orgulhar em saber que, das aproximadamente 200 páginas, ele generosamente só manifestou aquele questionamento certeiro. Uma valiosa contribuição que ficará para sempre impressa na página editada.
Não me canso de agradecer a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram com esse projeto, opinaram, depositaram impressões, palavras e emprestaram um pouco de suas essências a ele. Fica tudo registrado! Tem fragmentos de muitas pessoas na conexão de Helena e de Henrique, nos encontros e encantos dessa fantasia que alimenta as almas e nutre os sonhos de toda a gente.
Somos companheiros de perda, Thea. Paulo nos deixou muito cedo, antes da hora. O consolo é que temos você, no momento o melhor texto do Zé Beto, depois do mestre ZB, é claro. Siga em frente, preciosa companheira de escrita, com a nossa admiração e muita saudade do Paulo.
Muito grata por essa deferência, Célio. A admiração é recíproca. Você é um dos três leitores que ainda me falta conhecer. O Zé precisa promover sem demora uma reunião de “diretoria”, que é como ele se refere ao grupamento de “escribas” que compôs para registrar no blog estes tempos. Fica bem!!