6:46Luiz Carlos Maciel, grande figura da cultura nacional, nas livrarias

por Elio Gaspari

Nos anos 60, autor foi uma voz radical e cosmopolita, com tudo o que significava ser culturalmente radical

Chegou às livrarias “Underground”, uma coletânea de 72 textos de Luiz Carlos Maciel (1938-2017), um baiano nascido no Rio Grande do Sul, grande figura da cultura nacional nos anos 60 do século passado.

Maciel foi um radical erudito. Como ele mesmo conta na sua introdução, escrita em 2004: “Não é de admirar que, em tais circunstâncias, tanta gente ficasse muito louca. Na verdade, simpatizávamos com a loucura; para nós, era normal”.

Em setembro de 1968, Caetano Veloso, com suas roupas amalucadas e sua música tropical, foi vaiado pelos jovens no teatro Tuca, em São Paulo. A boa norma aplaudia sambões.

Dias depois, Maciel escreveu: “Ao artista que questionava, com sua arte, o mundo burguês deles acusaram quadradamente de ‘pederastia’. (…) O irracionalismo fascista não precisa de razões; basta-lhe o pânico. A jeunesse dorée tem medo de Caetano Veloso; é mais fácil dançar irresponsavelmente com um retrato do ‘Che’ Guevara do que enfrentar-lhe as verdades. No fundo, sua política e sua estética —para tocar uma questão levantada pelo próprio Caetano— são uma e a mesma coisa.”

Meses depois, Caetano e Gilberto Gil foram presos e exilaram-se em Londres. Quando Gil lançou seu álbum com “Aquele Abraço”, Maciel foi sintético: “Só posso aconselhar que o leitor saia correndo para comprar o disco e ouvi-lo. Agora”.

No semanário Pasquim, do qual foi sistemático colaborador, em 1971 Maciel escrevia sobre a Cannabis sativa, Bob Dylan, Bertrand Russell, Paulo Francis (“nosso melhor profeta”), sexo, cabelo comprido e Martin Heidegger.

Maciel fez teatro, cinema, televisão e jornalismo. Nos anos 60, ele foi uma voz radical e cosmopolita, com tudo o que significava ser culturalmente radical naquele tempo. A coletânea organizada por Claudio Leal expõe sua característica: no meio de muita alegria com algum deboche, ele falava sério.

NOVOS TEMPOS

O senador Eduardo Girão tomou um brilhante contravapor do ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, ao querer encenar uma palhaçada presenteando-o com um bonequinho de um feto.

No mesmo dia, o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, tomou um contravapor de sua colega Cármen Lúcia ao tratar dos direitos das mulheres com um tom de boronelão paternal.

Os tempos mudam.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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