15:41Ao encontro de Raquel

por Célio Heitor Guimarães

O mal de se viver muito tempo é ir-se perdendo no caminho parentes e amigos queridos. Ontem, perdemos Paulo Roberto Ferreira Motta, colega de profissão, colega de escrita, colega de Zé Beto, colega de ideais, amigo querido e uma das mais brilhantes inteligências que conheci.

Não o sabia doente, embora o maldito cigarro que ele tanto cultuava me preocupasse. Certamente, foi o impiedoso vício que o levou, aliado a outros desgostos que carregava, como o ainda recente falecimento de sua querida e inesquecível companheira Raquel.

Paulo era gaúcho de Porto, como dizem os gaúchos, torcedor fanático do Sport Club Internacional. Pensei que tinha recebido o nome como homenagem ao craque do Colorado. Mas o homenageado fora outro Paulo Roberto, o Paulo Vecchio, que também passara pelo Internacional e depois viria o compor o elenco do Coxa do Alto da Glória. Quando a família transferiu-se para Curitiba, Paulo Motta ingressou na Faculdade de Direito da UFPR e na Procuradoria Geral do Estado. Depois foi chefe de gabinete do secretário da Cultura René Dotti, professor da Unicuritiba e passou a colecionar amigos e admiradores.

Quando o mestre Zé Beto ofereceu-lhe espaço no seu blog, Paulo revelou-se um brilhante historiador de personagens e acontecimentos, em textos bem alinhados, com conteúdo e leitores fiéis.
Juntos estivemos também no escritório de advocacia dos mestres Romeu Felipe Bacellar Filho e Renato Andrade.

Um dia, Paulo conheceu Raquel, uma bonita mineirinha de Uberaba, que participava em Curitiba de um congresso de Direito Administrativo, provavelmente organizado pelo professor Romeu. Encantaram-se um pelo outro, casaram e ganharam como filho Bruninho.

Quando Raquel prematuramente nos deixou, vítima de insidiosa e fatal moléstia, Paulo perdeu o rumo, mas ancorou-se no pequeno Bruno e nas várias homenagens acadêmicas recebidas por Raquel, que se seguiram. Esteve presente em todas, aqui e no Exterior. Agradeceu-as com coragem e muita saudade.

Na semana passada, correu o boato que Paulo Roberto não passava bem, que teria, possivelmente, de passar por uma cirurgia cardíaca. Confirmou-se a necessidade e Paulo, embora ainda relativamente jovem, não resistiu às consequências. Mudou de plano no início da noite de quarta-feira, entristecendo profundamente a todos os que o conheciam e queriam bem.

Restou-nos um consolo: ele foi, antes mesmo do que esperava, ao encontro de sua querida Raquel. Que Deus o tenha acolhido com um carinhoso abraço.

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4 ideias sobre “Ao encontro de Raquel

  1. O MP-PR perdoou Luiz Abi Antoun

    A doce Raquel nos deixou no fim de março de 2022. Esse fato me deixou profundamente triste.

    Passado pouco mais de um ano, recebo a trágica notícia de que Paulo Roberto se foi.

    Todos perdemos. Da douta (?) Procuradoria, que (em muitas vezes) representa os interesses do estado aos alunos de Direito (ainda não formados) que não tiveram chance de serem impactados pelo nobre amigo que se foi. A sociedade perdeu. O povo perdeu. O futuro seria melhor se PR tivesse vivido mais.

    Não vou me alongar nos elogios (precisaria de horas para transpor aqui), tampouco vou alongar as palavras de luto.

    Que perda! Em resumo: a sociedade enquanto estrutura complexa e mutante perdeu. Perdeu muito.

    Que Deus te acolha com muita luz e amor – você merece meu amigo.

  2. Thea Tavares

    Emocionante relato, Célio, de quem expressa a longa convivência, amizade, empatia e a admiração em reciprocidade do amigo Paulo.
    Com certeza ele lutou muito entre descansar sob os cuidados e os carinhos do Pai e da esposa e a preocupação, responsabilidade em ficar e exercer o papel de pai/espelho, bem como manifestar um pouco mais o amor ao filho Bruno. O corpo físico não lhe deu a oportunidade de decidir e não resistiu.

    Para familiares e amigos, vale assumir solidariamente parte dessa responsabilidade ao acompanhar e contar para o pequeno Bruno quem foram essas duas almas maravilhosas que nos visitaram e que generosamente nos deixaram um presente na forma de pessoa… O que sonhavam, pelo que dedicavam suas horas, trabalho, valores, o que lhes arrancava sorrisos, gargalhadas e satisfações espontâneas e quanta beleza produziram com criatividade e espírito transformador!!??

    Para que o Bruninho se veja também pelo olhar de cada amigo e admirador dos pais e tenha ao longo da vida essas pinceladas de autoconhecimento para se fortalecer, se edificar e se expressar, quando precisar tomar suas próprias decisões e fazer ele também suas escolhas. Acredito que muitas pessoas, como você, Célio, sejam fundamentais em contar e resgatar essas histórias, assim como tantos mais amigos do Bruninho.

  3. André Renato Miranda Andrade

    A comunidade jurídica, especialmente a do universo do Direito Público como um todo (administrativo, constitucional etc.), perdeu um dos grandes juristas brasileiros. A comunidade acadêmica está órfã de um dos mais brilhantes professores de Direito Administrativo. A Procuradoria Geral do Estado do Paraná (PGE) perdeu um de seus quadros mais expressivos, um “gigante” dessa instituição. Advogado brilhante e palestrante aplaudidíssimo pelo Brasil e também no exterior. Um grande ser humano, bondoso, gentil e suave nas palavras. Um cronista revelado tardiamente, com textos deliciosos como bem disse o colunista Célio Guimarães. Deus deu a ele e a sua amada Raquel a missão de darem uma vida repleta de alegrias ao filho Bruno, que assim seguirá, certamente. Adeus, querido amigo Paulo.

  4. swissblue

    Fui seu leitor assiduo neste blog. Dava gosto encontrar suas publicacoes. Uma grande perda. Desejos para que reencontre sua amada, protagonista de lindas historias compartilhadas aqui. RIP.

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