SOCANDO PORTA DE QUARTEL
O amanhã é um ontem envelhecido. Quando o amanhã chegar ou chegarmos nós no amanhã diremos ontem para o hoje, a fila anda, os de trás empurram os da frente e quando nos damos conta amanhã já foi hoje e agora é ontem. Ainda ontem (lembro como se fosse hoje), punha– me ereto (não de todo ereto, a bandeira estava a meio pau; respeito pelo herói morto) diante do portão quartelário, batendo cadenciadamente, como quem no moinho tritura grãos. Que triturava eu senão dedos e unhas mal aparadas? Clamava por forças que não tenho, para que combatam o inimigo que não existe, que meu inimigo hoje sou eu mesmo ontem. Perdi o tempo sem aprender as coisas e hoje – e ontem e amanhã, posto que é tudo mesma coisa – espanco a porta como se fosse a porta me espancando, leio em tudo sinais hieróglifos me ensinando nadezas e tortidões.