Da Haus, na Gazeta do Povo
Morre aos 92 anos o arquiteto Alfred Willer, criador da Vila Nossa Senhora da Luz e de parte da paisagem de Curitiba
Morreu em Curitiba na noite desta quinta-feira (8) aos 92 anos o arquiteto e urbanista Alfred Willer, que conquistou espaço de respeito no panteão dos profissionais de projetos e é conhecido por diversos edifícios de expressão em Curitiba e no resto do Brasil, pela criação da Vila Nossa Senhora da Luz, por ter lecionado no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e por ter sido o primeiro presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) na década de 1970.A reportagem confirmou com a família que Willer faleceu de causas naturais. Por enquanto não existe informação sobre data e horário do velório e da cerimônia de cremação. O arquiteto deixa três filhos — Marcelo, Marina e Daniel –, sua ex-esposa Marly Willer e a atual companheira Jennifer Willer.
De origem judaica, Willer nasceu na República Tcheca, sobreviveu ao Holocausto nazista e veio ao Brasil em 1946, com 16 anos de idade. Sua família é uma das 12 famílias judaicas tchecas que conseguiram sobreviver ao genocídio da Segunda Guerra Mundial.
Formou-se em Engenharia e posteriormente em Arquitetura na UFPR e depois concluiu um mestrado na Inglaterra. Paralelamente a sua atuação acadêmica, o arquiteto colaborou com diversos arquitetos em várias propostas de concursos públicos de projetos de arquitetura.
Como do Hotel Juazeiro, em 1968, na Bahia, com José Sanchotene e Oscar Müeller, o Estádio Pinheirão, de Curitiba, em 1971, com os mesmos colegas, o edifício do BNDE de Brasília, em 1973, também com os arquitetos Sanchotene e Müeller, além de Joel Ramalho Jr., Ariel Stelle, Leonardo Oba e Rubens Sanchotene, e o prédio do BNDES do Rio de Janeiro, em 1980, com os mesmos profissionais. Ele atuou ainda na sede do IBM, em 1987, na expansão do Hospital de Clínicas em 1993, e as sedes do Sebrae e da Fiep em 1997.
Willer também atuou no setor público ajudando a moldar a Curitiba moderna como primeiro diretor técnico da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), na qual ajudou a projetar a Vila Nossa Senhora da Luz, que teve suas 2.100 primeiras casas entregues em novembro de 1966. O conjunto foi o primeiro do estado e um dos primeiros a serem erguidos no país com recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que também estava em fase de implantação naquele momento. A Vila fez parte do projeto de desfavelização das grandes cidades promovido pela ditadura militar.
Na década de 1990, Willer e o filho Marcelo fundaram o escritório Willer Arquitetos Associados. Em 2012 o tcheco se aposenta e passa o bastão para o arquiteto Boris Madsen Cunha e outros sócios, que deram continuidade e reestruturaram o escritório, rebatizando-o de Casa Cinco. Hoje o estúdio tem como sócios Boris, Jussara Specian, Ricardo Alberti e Rogerio Shibata.
De acordo com Cunha, que foi aluno e depois colega de Willer, a maior característica do mestre era o respeito que ele nutria por qualquer profissional que estivesse em sua frente, independentemente da idade ou da experiencia. “Ele aceitava que todo mundo poderia contribuir de igual para igual”, confidencia um dos fundadores da Casa Cinco. “Willer era de uma arquitetura de precisão e conhecimento técnico que procurava resolver problemas, e deixou como legado esse olhar do que é importante e do que é secundário nas resoluções de um projeto.”
Willer conferindo a exposição “Concurso como prática”, no MON, em 2021| João Sarturi
Para o arquiteto Fábio Domingos Batista, um dos autores da mostra sobre os escritórios paranaenses que dominaram por décadas os concursos públicos de projeto de arquitetura, Willer influenciou todo uma geração de alunos na UFPR. “Foi teórico e prático, premiado em diversos concursos. Foi uma grande alegria vê-lo na abertura da exposição junto com outros professores e arquitetos da sua geração”, homenageia Batista.
O arquiteto Marcelo Willer, filho do primeiro presidente da FCC, conta que o pai respirava arte e arquitetura 24 horas por dia. “Eu cresci rodeado por esses grandes mestres, como Burle Marx, Sanchotene, Gandolfi, Oba, Joel, Lubomir…era uma produção intensa. E dentro desse grupo todo, o Alfred tinha uma particularidade. De todos eles, foi um cara que se interessou pela história, pela crítica e teoria da arquitetura. Foi o primeiro mais crítico à Carta de Atenas e ao modernismo de Brasília, por exemplo”, esclarece Marcelo.
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