por Fernando Muniz
Os lobos, após os expurgos pelo fracasso em conter os Invasores, refugiaram-se nas florestas do Norte. Com o tempo ganharam número e constituíram novas alcateias, sem alarde, protegidos pelas árvores e pelo fato de que, no restante do reino, todos estavam envolvidos com a construção da Nova Ordem.
Até que em uma noite sem lua um velho lobo cinzento bate à porta da maior alcateia. Recebido com desconfiança, após vários dias consegue ser recebido em audiência pelo líder. “Trago boas novas, enquanto emissário do Palácio”.
O líder não se impressiona. “Deixamos de nos interessar pelo que se passa no Palácio há tempos. E queremos que o Palácio deixe de procurar saber de nós”. O velho não se abala. “Mas vocês deveriam querer. O que aconteceu no passado não está escrito na pedra. Sempre é tempo de reabilitação”.
O líder lambe as patas, com desdém. “E o que ganharíamos ao nos aproximar de alguém que quase nos dizimou?”
“Você usou a palavra correta: ‘quase’. Se o ódio de Sassafrás contra os lobos fosse absoluto, nem eu nem você estaríamos aqui. Além disso, todos se lembram do brio e coragem com que aceitamos uma missão muito acima das nossas forças. E aqui está outra palavra interessante: ‘força’. É chegada a hora de os lobos aplicarem sua força naquilo que são exímios; há muita caça à espera de ser apanhada nos campos e cidades da Nação. E, principalmente, nos corredores do Palácio”.
O líder olha para o velho; e sorri. Certas pendências, ainda em aberto, precisam ser resolvidas.