Eles estão sorrindo nas fotos ao lado, mas hoje ele não consegue. Há um nada que atormenta. Não tem dor, pode ser como as nuvens cinzas desfilando em primeiro plano com fundo azul na moldura da janela, mas elas são belas. Ele é um outro ou sou eu? Crise existencial rende boas piadas. Ele mesmo fez – e faz. Mas hoje pode até pregar na testa a etiqueta branca onde letras escritas em garranchos fazem as famosas perguntas: mas o que é isso tudo? Pra quê? Caranguejos tiraram dois dos seus. Câncer. Hoje ele se sente na lama e não há força no mundo que o arranque dali para, pelo menos, o colocar num panelão com água fervendo. Depois, ser martelado numa mesa – e suas carnes deglutidas com prazer. Olha de novo. Os sorrisos num momento daqueles que justificam a definição que resume fotografia: o mistério do mistério.