por Fernando Muniz
Crianças, leitões e filhotes de cães, gatos e hienas correm para o pátio na hora do recreio, doidos por um pouco de sol após as lições do início da manhã. E a brincadeira mais animada é a do “ônibus”. Todos pulam em uma Ford Rural velha, sem rodas nem portas, pintada de vermelho, amarelo e azul, com bancos de madeira e um volante fixo, todo descascado, junto ao banco do motorista.
Uma criança corre e toma posse do volante. “Eu dirijo”! Um leitão, imenso, tenta puxar o garoto. “Não! É a minha vez”! Nesse momento uma hiena miúda, recém-transferida de outra escola, aproxima-se do grupo. “De jeito nenhum”. Filhotes e crianças param a gritaria e olham uns para os outros, sem entender aonde ela quer chegar.
Impassível, a hiena volta à carga. “Meu marido é do Departamento de Informação e eu trabalho lá também. Larguem esse volante agora senão eu faço com que vocês desapareçam”! Começa a bater o pé direito nos pedriscos do pátio de recreio.
O leitão toma a iniciativa. “Mas… nós temos um combinado. Cada dia é a vez de um de nós dirigir. Ele – aponta para a criança – estava só me provocando”. E solta um ronco, de nervosismo.
A hiena mira todos no ônibus, com um ar de quem precisa explicar o óbvio.
“A partir de hoje o combinado vai ser outro: eu dirijo. E vocês ficam nos bancos de trás”.